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Academia Paulista de Letras: escritores querem mudar sua imagem

Entre um chá (ou uísque) e uma tertúlia, acadêmicos tentam transformar a instituição

Por Edison Veiga
Atualizado em 5 dez 2016, 19h23 - Publicado em 18 set 2009, 20h34

Eleito em fevereiro, o escritor Ignácio de Loyola Brandão acaba de assumir a cadeira 37 da Academia Paulista de Letras (APL) – vaga desde a morte, há sete meses, do poeta Sólon Borges dos Reis. “Mandei uma carta diferente para cada um dos acadêmicos e, acredito, tive muitos cabos eleitorais lá dentro”, conta o escritor, sobre a campanha. Como é de praxe nas academias, sua eleição foi combinada antes de os votos irem para a urna. Candidato único, não era a primeira vez que ele flertava com a APL. Quando o jurista Miguel Reale morreu, em abril do ano passado, Loyola cobiçou a cadeira. Foi dissuadido por alguns membros, que o aconselharam a aguardar melhor momento, pois naquela ocasião estava tudo acertado para a eleição do próprio filho do acadêmico, o também jurista Miguel Reale Júnior. Esse clubinho de literatos, fundado em 1909, é formado pelas mais variadas figuras. Há desde autores conhecidos, como a romancista Lygia Fagundes Telles, o poeta Mário Chamie e o próprio Loyola, até empresários, como Antônio Ermírio de Moraes e José Mindlin. Aos 70 anos, Loyola é o sétimo mais jovem da APL – a média de idade dos membros é de 78 anos. O mais velho é o engenheiro Milton Vargas, 93. Na outra ponta está o ex-secretário estadual da Educação Gabriel Chalita – 37 anos e 42 livros publicados. Chalita garante que não se sente à parte como caçula da turma. “Meus colegas me tratam com muito carinho”, diz. “Fico até impressionado como eles sugerem coisas, lêem o que eu escrevo…” As reuniões da academia ocorrem às quintas-feiras, no 2º andar de um prédio no Largo do Arouche, no centro. Inaugurado em 1955, o edifício foi construído em um terreno doado à APL pelo governo do estado. A instituição ocupa o térreo e três de seus dezesseis andares – no restante funciona a secretaria estadual de Educação, que paga 56 000 reais mensais de aluguel. Um negocião. “É o que nos mantém”, afirma o atual presidente da casa, o jurista José Renato Nalini. “Afinal, precisamos arcar com o pagamento de luz, gás, água, correio e dez funcionários.” Outra despesa são os jetons: cada acadêmico recebe 250 reais para comparecer aos encontros – o que dá 1 000 reais por mês, caso ele vá todas as semanas. “Alguns dependem disso para os seus gastos pessoais”, diz Nalini. “Sabe quanto um escritor ganha de direitos autorais? Os intelectuais vivem com muita dificuldade.” Antes de cada sessão há um chá da tarde. São servidos salgadinhos, canapés, bolos, frutas, sucos e, caso alguém queira, cerveja ou uísque. Bebidas alcoólicas foram introduzidas no menu da casa pelo escritor e jornalista Luís Martins (1907-1981), nos anos 70. “Ele sempre gostou de uísque”, lembra sua viúva, a contista Anna Maria Martins, hoje titular da cadeira 7. “Era de um grupo de intelectuais ao qual pertenciam o pintor Lasar Segall, o poeta Vinicius de Moraes e o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda.” A dois anos de comemorar seu centenário, a academia esforça-se para mudar a imagem de sisuda e inalcançável. Tem a ambição de se transformar em um centro cultural à disposição dos paulistanos. Esse processo foi iniciado em 2005, quando o jurista Ives Gandra Martins assumiu a presidência, e continua na gestão atual. “Quero que a juventude se interesse por leitura, por escrever, por pensar”, afirma Nalini. Quase toda semana ocorrem ali debates e palestras abertos ao público. Entre os temas que foram alvo das tertúlias estão as implicações da filosofia de Friedrich Nietzsche no direito e as obras dos intelectuais Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Na quinta (19), às 17 horas, haverá um debate sobre meio ambiente. O próximo passo será promover maior acesso à biblioteca, cujo acervo de 100 000 volumes só pode ser consultado por não-acadêmicos com agendamento prévio (tel: 3331-7222). “É a maior riqueza da APL”, diz Mário Chamie, indicado por seus colegas para disputar o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, na Espanha, cujo resultado sai no meio do ano. Curiosidades sobre a Academia Paulista de Letras – Por sessão a que comparecem, os acadêmicos ganham um jetom de 250 reais; por mês, a APL recebe 56000 reais de aluguel ¬ treze dos dezesseis andares do prédio são ocupados pela Secretaria de Estado da Educação; a biblioteca, localizada no 3º andar, possui 100000 volumes; O acadêmico mais velho é o engenheiro Milton Vargas, com 93 anos. O caçula é o ex-secretário de Educação Gabriel Chalita, com 37; A média de idade dos quarenta membros da APL é de 78 anos. Três a mais do que na Academia Brasileira de Letras (ABL); ao contrário do que acontece na ABL, os acadêmicos paulistas não usam fardão nas cerimônias de posse.

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