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A primeira vez

Felipe Massa, J.R.Duran e outros contam suas experiências quando começaram suas carreiras

Por Alvaro Leme, Fabio Brisolla e Fernando Cassaro
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h30

A primeira vez que fiz uma loucura para ver um desfile em Paris

“Eu tinha jeitão de dondoca – e era uma – quando procurei uma amiga da Editora Abril, em 1971, em busca de trabalho. Virei produtora de moda da revista Claudia e, no ano seguinte, fui enviada para os desfiles prêt-à-porter em Paris. Posso não ser nenhum gênio, nem muito inteligente, mas tenho intuição quando testemunho algo importante para a moda. É um arrepio, como o que senti ao ver as roupas da Rive Gauche, uma marca que o Yves Saint Laurent estava promovendo. Tive sorte de entrar. As grifes nunca convidavam o Brasil, o que era terrível: quem não conseguisse lugar estava frito. Não teria outra chance de olhar as peças. Fazíamos loucuras. Em 1976 (a foto acima é de um ano depois), uma amiga e eu passamos quatro horas escondidas num banheiro para assistir a um desfile do Kenzo. Anoiteceu, saímos e… percebemos que estávamos trancadas na ala oposta do prédio onde aconteceria a apresentação. Escapamos pela janela e engatinhamos no parapeito até chegar ao lugar certo. Imagine, 4º andar! As pessoas não entendiam nada quando nos viam do lado de fora de suas janelas. Valeu. Chegamos a tempo de assistir a metade da coleção.”

Costanza Pascolato, 68 anos, empresária

A primeira vez que sepultei alguém

“Às 11 horas de 27 de abril de 1983, há exatamente 25 anos, participei do primeiro dos cerca de 40 000 enterros que somo até hoje. Lembro que era um homem bem-sucedido, de meia-idade. A cerimônia, no Cemitério da Consolação, contou com cinqüenta pessoas e até um discurso. Era meu primeiro dia de trabalho. Tinha 18 anos e fiquei como ajudante. Naquele dia, passei o balde com cimento para um dos colegas e um pouco de massa respingou em um dos familiares. Recordo o sapato de cromo alemão sujo e os meus insistentes pedidos de desculpa. O perdão foi dado, mas os pés do homem não saem da minha cabeça. Havia chegado a São Paulo quinze dias antes, vindo de Irerê, no Paraná, e fui trabalhar como sepultador por pura coincidência. Um amigo de minha mãe, que era construtor de túmulos, me ajudou. Hoje estou acostumado a enterros e não fico mais com os olhos marejados, a pele arrepiada e aquele frio na barriga. Só me sinto mal quando são ‘anjinhos’, crianças sepultadas em caixões brancos pequenos.”

Nilson Gimenez Paixão, 43 anos, sepultador do Cemitério São Paulo

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A primeira vez que tive um ataque de riso em cena

“Eu estava em cartaz no Teatro Itália, em 1980, com a peça Tem um Psicanalista na Nossa Cama. No camarim, o Fulvio Stefanini começou a me falar de um ator que costumava olhar para a testa dos parceiros em cena para não perder a concentração. Quando entramos no palco, ele passou a fazer o mesmo comigo. Olhava fixamente para a minha testa. Aquilo provocou em mim o efeito contrário: me tirou a concentração, até que tive um acesso de riso. Sentei na beirada da cama que fazia parte do cenário e confessei ao público: ‘Ele está me provocando’. Foi a primeira vez que perdi o controle em cena. Não conseguia parar de rir. A platéia se divertiu com a situação e aplaudiu.”

Irene Ravache, 63 anos, atriz

A primeira vez que concedi um empréstimo

“Aos 12 anos, comecei como office-boy num escritório de advocacia. Servia cafezinho e entregava petições no fórum. Depois disso, eu fui datilógrafo em uma seguradora, assistente em uma gravadora, vendedor de concessionária, dono de lanchonete na Rua Fradique Coutinho, em Pinheiros, até ser contratado, em 1967, como auxiliar da gerência em uma agência do Banco da Bahia, na Rua Augusta. Foi nesse período que concedi um empréstimo pela primeira vez ao dono de uma loja de calçados. Mas não me lembro nem qual era a moeda da época… Em 1973, quando já era gerente, o banco foi comprado pelo Bradesco. Tive receio de ser demitido. Fiquei, assumi outras gerências, diretorias e cheguei à presidência em 1999.”

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Márcio Cypriano, 64 anos, presidente do Bradesco

A primeira vez que fotografei um nu

“No fim de 1979 decidi que fotografaria mulheres nuas. Só faltava encontrar alguém que me desse espaço para isso. Fui atrás de Carlos Grassetti, então diretor de arte da Playboy, com quem já havia trabalhado em uma revista chamada Pop. Fiquei a semana inteira pensando em como vender uma coisa que nunca tinha feito e ensaiei, durante esse período, uma frase: ‘Se você quiser que eu faça mulheres nuas alegres e elegantes, é só pedir’. Não sei se foram as palavras ou o meu portfólio, mas Grassetti topou, desde que eu encontrasse uma mulher loira para ser fotografada. Achei Enny (uma paranaense de 21 anos que sonhava em ser modelo), não me lembro como nem onde. Fizemos o ensaio em uma casa no Morumbi. Quando cheguei lá, não sabia como retratá-la e saí no terraço para fumar um cigarro. Não consigo explicar o que aconteceu, mas voltei e tirei as fotos. Acho que gostaram, porque fiz a capa da edição seguinte (foto) com mulatas de escolas de samba. Não parei mais. Foram 115 capas de Playboy até hoje.”

J.R. Duran, 55 anos, fotógrafo

A primeira vez que participei da transmissão do Oscar

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“Com 10 anos, eu escrevi minhas primeiras críticas num caderninho que tenho ainda hoje. Até então tinha visto quase 250 filmes. Minha memória na infância está muito vinculada aos filmes a que assisti. Já nessa época tinha o hábito de eleger os melhores atores, atrizes e diretores nas minhas anotações. Em 1980, fui convidado a participar de um debate no Jornal da Globo antes da transmissão do Oscar. Após essa participação, o apresentador Hélio Costa, que é hoje ministro das Comunicações, me convidou para acompanhar a cerimônia que começaria a seguir. Tudo no improviso. Não havia sequer um fone para que eu pudesse ouvir o som original da transmissão em inglês. Eu ficava olhando para o monitor de TV sem som e, quando saía um vencedor, recebia o microfone para comentar o resultado. Apesar da dificuldade, deu tudo certo.”

Rubens Ewald Filho, 59 anos, crítico de cinema

A primeira vez que organizei uma excursão

“Comecei com uma agência de turismo pequena na cidade de Santo André, em 1972. A primeira excursão foi uma viagem rodoviária ao Rio de Janeiro. Reuni um grupo de 32 pessoas para ir, num ônibus alugado, assistir a um show de samba e mulatas, no Canecão. Eu era o guia (na foto, entre um passageiro e o motorista).”

Guilherme Paulus, 58 anos, dono da CVC, a maior operadora de turismo do país

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A primeira vez que conquistei um pódio

“Foi um terceiro lugar. Mas era pódio. E na primeira corrida da minha vida. Tinha 9 anos e, como não poderia deixar de ser, fiquei superfeliz e ansioso. Sonhava em ser como meu pai, que disputava o campeonato de Marcas e Pilotos. Eu havia corrido em uma prova da categoria Micro Kart, no Kartódromo do Taquaral, em Campinas. Larguei em quinto e comecei a competição pressionando. Foi uma corrida apertada. Não deu para ter certeza de nada até receber a bandeirada. Lembro que o kart era da cor do meu capacete: azul e amarelo. Minha mãe filmou toda a prova, mas não tenho foto desse primeiro pódio (na imagem ao lado, Massa, aos 11 anos, no degrau mais alto, com o troféu de primeiro colocado no Kartódromo de Interlagos).”

Felipe Massa, 27 anos, piloto de Fórmula 1

A primeira vez que organizei uma festa

“Quando iria completar 20 anos, pedi ao então empresário da noite José Victor Oliva para fazer a minha festa no Gallery, a casa noturna mais badalada da cidade, e ele topou. Eu era uma pirralha, mas circulava com desenvoltura. Acabei reunindo famosos, empresários, modelos, enfim, o público mais in da época. José Victor ficou muito impressionado e acabei contratada para promover festas ali.”

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Alicinha Cavalcanti, 44 anos, promoter

A primeira vez que desvendei um assassinato

“Ingressei na polícia em 1988 como titular da delegacia de Taguaí, no interior do estado. O furto de um veículo foi o caso mais grave que tive por lá. Queria trabalhar na divisão de homicídios de São Paulo. Em 1990, fui transferido para o que é hoje o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ao chegar, comecei a investigar a morte de dois corretores de imóveis. Suspeitei do dono da imobiliária onde as vítimas trabalhavam. Arrumei uma câmera fotográfica e, durante dez semanas, registrei do alto de uma laje a movimentação no prédio da empresa. Descobri que ele liderava uma quadrilha envolvida em loteamentos clandestinos e que havia matado os funcionários como queima de arquivo. Acabou preso e condenado.”

Ruy Ferraz Fontes, 47 anos, um dos 77 delegados do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic)

A primeira vez que pilotei um avião

“Em uma tarde de 1984 pilotei um avião sozinho pela primeira vez. Tinha 16 anos e sobrevoei a cidade de Luziânia, pertinho de Brasília. Àquela altura, já tinha somado dez horas de treinamento e o instrutor achou que eu podia experimentar um vôo-solo. O avião não sai da minha mente até hoje: era um monomotor Uirapuru branco e vermelho. Fiz o que chamamos de toque e arremetida. Decolei, completei uma volta no aeródromo, arremeti na pista e voltei para pousar. Só me dei conta da responsabilidade quando estava lá em cima, sobre a cidade. Foram dez minutos. O suficiente para passar a sensação de poder controlar meu destino. Ao pousar, tive de enfrentar o batismo dos veteranos. Ou pagava bebidas a todos no aeródromo ou tomava um banho de óleo. Naquele dia, bebi uma cerveja. Coisa que não fazia.”

Constantino de Oliveira Junior, 39 anos, empresário, presidente da Gol, que parou de pilotar em 1988

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