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“A Partilha” mostra descompasso com o tempo

Apesar do texto de qualidade, falta coerência na remontagem da comédia dramática de Miguel Falabella

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 16h43 - Publicado em 26 out 2012, 11h48

Em 1990, o Brasil era diferente. Fernando Collor acabava deassumir a Presidência da República, a inflação transformava os preços em uma surpresa diária ao consumidor e A Partilha estreava no teatro. O ator Miguel Falabella fez da comédia dramática a aposta para se estabelecer como um dramaturgo capaz de aliar riso e profundidade. Sucesso retumbante, a peça rendeu ainda uma adaptação para as telas, em 2001. Mais de duas décadas depois, o país mudou, e a essência do texto continua a mesma, conservando o tocante retrato de mulheres massacradas pelos homens.

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Em cena, porém, a trama sobre quatro irmãs que se reencontram depois da morte da mãe para dividir os bens perde a delicadeza devido a escolhas arriscadas. Uma delas foi reunir quase o mesmo elenco. Estão no palco Arlete Salles, Susana Vieira, Thereza Piffer e PatricyaTravassos (no lugar de Natália do Vale). A primogênita Maria Lúcia (papel de Arlete) mora em Paris. Regina (vivida por Susana) é a desencanada, enquanto a reprimida Selma (personagem de Patricya) é casada com um militar. Caçula, a homossexual Laurinha (Thereza) trabalha como jornalista.

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Na remontagem, optou-se por adotar uma narrativa sem tempo definido. Isso exige que o público abra mão da coerência cronológica e releve que muitos dos conflitos não combinam com a idade daquelas personagens. As irmãs, por exemplo, falam de e-mails, do caos nos aeroportos e vendem o apartamento por R$ 500.000,00, um preço plausível para os dias atuais. Uma delas participava de passeatas na década de 60 e outra foi simpatizante do político Carlos Lacerda (1914-1977). Destoa, porém, que Maria Lúcia e Selma ainda tenham filhos adolescentes.

Como diretor, Falabella deixou as intérpretes livres, e o auge da peça é a cena na qual elas dividem uma pizza. Se esse momento endossa o caráter comemorativo, desvaloriza tons cômicos e trágicos. Arlete transita solta e coerente. Patricya mantém-se linear com sua personagem ranzinza e Susana explora o histrionismo. A mais prejudicada é Thereza. Laurinha, de fato, parece a mais nova, mas não a ponto de possuir uma visão da vida tão diferente da de suas irmãs.

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