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A doce vida

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Eu me espanto como o consumo de alto luxo vem crescendo na cidade e, é claro, em todo o país. Soube de uma nova loja de queijos e vinhos especiais aberta em Higienópolis onde só se atende com hora marcada. Mulheres fazem “fila” para comprar bolsas exclusivas de grife cujo valor é semelhante ao de um carro médio. Há quem faça bolos de grife, lindíssimos, para aniversários e casamentos. Tive acesso aos cálculos de uma boleira – e não a mais cara do mercado. Quando o cliente é de alto nível, um bolo simples começa em 1 200 reais. Algumas noivas compram o vestido no exterior. Ele vem na primeira classe com um ajudante de costureiro, para ajustá-lo no corpo antes da cerimônia. E os casamentos em si? Há quem construa o salão para a festa. Depois manda derrubar. O convidado só entra com um cartão magnético. Não pode levar celular, para evitar fotos. Quem trabalha na organização assina um contrato que prevê multas caso deixe vazar alguma informação. No rastro de tudo, surgem os serviços mais diversos: maquiadores que viajam de avião para embelezar a convidada de um evento. Vendedores de lojas de alto nível que despencam na casa ou no escritório do cliente com araras de roupas para que ele não se dê ao trabalho de ir comprar. Decoradores que jogam fora tudo o que a pessoa possui para remodelar a casa completamente. Soube de um, recentemente, que, após fazer as estantes de uma jovem rica, recebeu o pedido:

– Você compra uns livros para enfeitar?

A grife, em si, muitas vezes não significa mais nada. Os muito antenados vêem um modelo caríssimo e sabem se é da coleção do ano anterior. Alguns bem aquinhoados a cada seis meses dão ou jogam fora todo o guarda-roupa para comprar trajes novos! Uma conhecida que vive salvando cachorros das ruas achou dois vira-latas. Uma amiga milionária acabou convencida a levá-los. Agora os dois cachorrinhos andam de motorista particular, no banco de trás, para ir tomar banho e tosar o pêlo!

Conhecedores de vinhos são um caso à parte. São capazes de gastar fortunas numa boa adega. Uma vez um amigo me contou que ia abrir um vinho de 1 000 dólares a garrafa. Eu me convidei.

– Quero conhecer o sabor das verdinhas!

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– Não vai, não – ele disse. – Você não conhece vinho e não vai saber apreciar.

Mesmo um jantar para amigos pode ser feito por um dos bufês requintados da cidade, que cobram a partir de 200 reais por pessoa, sem as bebidas!

Nasceram profissões. Como a do personal stylist. É a pessoa encarregada de criar um visual para a pessoa, escolher suas roupas. Enfim, vesti-la! A mais nova moda são os assistentes pessoais, espécie de secretários que cuidam de tudo – desde mandar cartões de aniversário até acompanhar a pessoa em um evento.

Ou seja, o dinheiro roda, em um mundo de luxo do qual a gente só ouve falar aqui e ali!

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Mas quero deixar bem claro: não sou contra. É assim que nossa sociedade funciona. Sonho, sim, com um mundo com menos pobreza, sem favelas, sem violência. Mas é ingênuo pensar que os muito ricos não podem gastar o que têm. O dinheiro é deles. Embora fosse bonito se fizessem mais doações de obras de arte a museus, patrocinassem eventos artísticos, universidades, pesquisas, educação. Enfim, tudo o que em outros países os milionários fazem.

Mas eu me irrito é quando leio entrevistas de certas pessoas. O pobre repórter pergunta à dondoca:

– O que é luxo?

– Luxo é ser simples! – diz ela, com a maior cara-de-pau.

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Viver assim é ser simples!? Ah, por favor, me poupe!

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