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Claudia Raia estrela o décimo musical de sua carreira

Atriz encarna agora uma prostituta alcoólatra em "Cabaret", que entra em cartaz na sexta (28)

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 18h26 - Publicado em 21 out 2011, 23h50

Com o atrevimento de seus 8 anos, a caçula Sophia já deu o ultimato à mãe, a atriz Claudia Raia, de 44. “Agora chega! Depois da estreia, não quero mais saber dessa história de você só passar um dia da semana no Rio de Janeiro”, reclamou a menina. O filho mais velho, Enzo, de 14, parece acostumado à ausência de Claudia devido aos compromissos teatrais. Nos intervalos da escola, o garoto mergulha na música, tocando bateria, piano e violão, e só se manifesta quando quer saber detalhes da banda de catorze instrumentistas que participa da nova montagem. “O Enzo é bem mais low profile, talvez tenha puxado ao pai”, diz ela, referindo-se ao ator Edson Celulari, de quem está separada há um ano.

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Nos últimos três meses, Claudia Raia praticamente trocou a residência carioca pelo apartamento que mantém em São Paulo, no bairro do Itaim. Passa pelo menos dez horas do dia trancada no Teatro Procópio Ferreira, no Jardim Paulista. É ali que se prepara para viver o grande desafio de sua carreira. Na sexta (28), a maior estrela dos musicais brasileiros estreia o espetáculo Cabaret, lançado na Broadway em 1966 e consagrado também no cinema pelo diretor Bob Fosse seis anos depois, tendo a atriz e cantora Liza Minnelli no papel principal. Solteira, Claudia fez mais uma vez do trabalho a palavra de ordem, e foi por isso que firmou seu nome, mostrando que poderia ir além do estereótipo da boazuda de 1,80 metro surgido nos anos 80, nos esquetes do programa “Viva o Gordo”, de Jô Soares. Além de protagonista, ela é a produtora responsável pela equipe de oitenta profissionais, entre artistas e técnicos, e acompanha cada passo da montagem, da confecção dos figurinos à finalização de cartazes e programas. “A Claudia vira dezessete horas trabalhando e não se cansa. É uma empreendedora, controla cada detalhe do que vai acontecer”, afirma o ator Jarbas Homem de Mello, um dos vinte artistas com quem ela divide o palco.

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Essa entrega ficará evidente aos olhos do público quando ela surgir em cena na pele da prostituta Sally Bowles. Em nada vai lembrar as divertidas personagens celebradas na TV, como a recente Jaqueline da novela “Ti-ti-ti” (2009). Estará mais associada à densa Donatela, de “A Favorita” (2008), e à personagem-título da minissérie “Engraçadinha… Seus Amores e Seus Pecados” (1995), embora Claudia saliente que a barra desta vez é bem mais pesada. “Sally é uma prostituta alcoólatra, extremamente depressiva e sem glamour algum”, afirma. “Eu me mostro sem pudores e termino a peça completamente destruída.”

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A pequena e curiosa Sophia, de passagem por São Paulo, andou espiando os ensaios de Cabaret e até pediu para subir no palco em alguma das sessões. A mãe vetou e só deixa que a menina assista às cenas mais leves. “Sophia sabe diferenciar a atriz, mas não permito que me veja interpretando uma bêbada ou em cenas de sexo porque isso pode ficar no inconsciente da criança”, diz. A garota, que fez pontas nas novelas “Passione” e “Ti-ti-ti”, parece decidida a trilhar a mesma estrada. “Se for para a felicidade dela, que seja, não é?”, diz Claudia, cautelosa, mas convicta de que, como ela, que aos 16 anos enfiou na cabeça que seria protagonista do musical “A Chorus Line” e conseguiu, Sophia já demonstra persistência de sobra para correr atrás do sonho.

‘CABARET’ EM NÚMEROS

R$ 1,8 milhão é o orçamento estimado da produção

80 profissionais estão envolvidos (21 atores e catorze músicos)

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150 figurinos foram confeccionados (dez deles para Claudia)

40 perucas entram em cena

7 toneladas é o peso do cenário

20.000 pedras de cristal Swarovski foram bordadas em um dos vestidos usados pela protagonista

Três décadas dedicadas a um sonho

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Claudia relembra a evolução de sua trajetória

“Quando soube que ‘A Chorus Line’ seria feito no Brasil, em 1983, já tinha visto a montagem da Broadway sete vezes. Minha inscrição para o teste era a de número 001 e passei a noite na fila de espera, na Praça Ramos de Azevedo, entre 1.500 candidatas.” 

 

“Tinha 16 anos e abracei aquela personagem de 35 com muita garra. Um dia, torci o pé e subi ao palco com uma bota de gesso e muito analgésico para controlar a dor.”

“A gente fazia os musicais que eram possíveis, mesmo de forma precária. Em ‘Splish Splash’ (1988), os microfones eram direcionais, daqueles instalados no teto do teatro, e empurrávamos o cenário com um fio de náilon, porque o maquinário da época era tão barulhento que comprometia o espetáculo.”

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“Em 1989, só produzi ‘A Pequena Loja dos Horrores’, porque não tinha papel para mim. A personagem feminina precisava ser feita por uma atriz e cantora com voz de soprano, e chamamos a Stella Miranda. Era muito divertido, mas o público não ia ao teatro. Na segunda temporada, a Stella precisou se afastar e eu entrei em seu lugar. Não adiantou nada. Fracassou.”

“Com ‘Não Fuja da Raia’, em 1991, percebi que o negócio era investir no teatro de revista, que é um gênero que faz parte do nosso DNA. Passei a incorporar a vedete e inseri uma ou outra referência das produções americanas. Depois vieram ‘Nas Raias da Loucura’ e ‘Caia na Raia’. Foram sete anos de batalha para que o público e também os artistas brasileiros se convencessem de que aquilo era possível.” 

Claudia Raia em "Caia na Raia"
Claudia Raia em "Caia na Raia" ()

 

“Todo mundo falava que eu investia em um barco furado. Cheguei a vender carro e quase perdi um apartamento para quitar as dívidas que fazia para bancar o meu sonho.”

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“Em 1989, eu e o Miguel Falabella vimos juntos em Nova York uma montagem de ‘O Beijo da Mulher Aranha’. Ele me disse: ‘Bebê, imagina se a gente pudesse fazer isso um dia no Brasil’. Era impensável. Dez anos depois, estávamos ensaiando aqui em São Paulo.”

“Na estreia de ‘Sweet Charity’ (2006), o elevador cenográfico quebrou. Desceu abaixo do nível do chão e não subiu mais, deixando um buraco no meio do palco. Os diretores pensaram em cancelar a sessão. Disse que isso não aconteceria de jeito nenhum. Nem que fosse necessário que eu terminasse a peça no meio da rua.”

“Com ‘Pernas pro Ar’, em 2009, quis montar um musical itinerante para percorrer dezessete capitais. A equipe tinha quarenta pessoas, e eram 50 toneladas de equipamentos. Fazíamos as apresentações em praças e galpões sem a menor estrutura técnica. Eu dava palestras e conheci pessoas que nunca tinham visto um espetáculo na vida. Foi uma imensa dificuldade que valeu a pena. Mas hoje não faria de novo. De jeito nenhum. Esse projeto só daria certo na Europa.” 

Claudia Raia em "Pernas pro Ar"
Claudia Raia em "Pernas pro Ar" ()

 

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