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As mulheres segundo o teatro paulistano

<em>Afrodite Já Tinha Celulite</em>, <em>Amigas, Pero No Mucho</em>, <em>Meninas Crescidas Não Choram </em> e outras montagens em cartaz exploram o universo feminino

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 16h16 - Publicado em 1 mar 2013, 18h09

Balançando a cabeça nervosamente, Olívia, interpretada por Nilton Bicudo, interrompe a conversa das demais amigas (o impagável trio Elias Andreato, Alex Gruli, e Léo Stefanini), põe as mãos na cintura e pergunta, rispidamente: “O que é que vocês estão falando de mim?”. O público vai às gargalhadas devido ao tom de voz estridente da personagem e à peruca, que ameaça desprender-se da cabeça do ator.

A cena da comédia Amigas, Pero No Mucho é um retrato de como as mulheres são representadas pela dramaturgia paulistana: impulsivas, compulsivas, depressivas e/ou bipolares, amargam obsessões quanto ao corpo perfeito, são competitivas e vingativas e sonham em casar — morrer solteira, para elas, seria a pior das desgraças.

Cerca de uma dezena de peças dedicadas a explorar e tentar entender a alma feminina está em cartaz hoje na cidade: são dramas, mas sobretudo comédias e monólogos cômicos que apresentam a condição e a rotina feminina do trabalho, da administração do lar e da educação dos filhos, que ganham tom satírico ou mesmo tragicômico.

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Um bom exemplo do apelo que o tema tem junto ao público é a estreia deste sábado (2), Afrodite Já Tinha Celulite, no Teatro da Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi. De autoria de Juliana Araripe e Camila Raffanti, protagonistas do sucesso Confissões das Mulheres de 30, o novo trabalho mescla depoimentos recebidos no blog Mulheres Reais com textos próprios. “A ideia do espetáculo é mostrar o lado B do gênero. Esse lado obsessivo sobre o ideal de beleza vendido pelas revistas”, explica Juliana.

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No mesmo teatro, em cartaz desde 20 de fevereiro, Nany People interpreta o monólogo de Yuri Goffman, Meninas Crescidas Não Choram. A partir de figuras como Lilith (segundo a Cabala, a primeira companheira de Adão) e a rainha Cleópatra, o texto refaz o caminho da mulher desde a Antiguidade até os tempos atuais. De acordo com o texto de Goffman, séculos depois, os anseios e questionamentos femininos não mudaram em nada, e a vontade de se igualar ao homem apenas trouxe infelicidade ao gênero. Tudo, no entanto, é tratado com leveza e o humor ferino característico da atriz.

Por vias semelhantes percorrem as dramaturgias de Amigas, Pero No Mucho e A Partilha, em cartaz no Teatro Renaissance e Frei Caneca, respectivamente. Ambas exploram as agruras das “fêmeas” de diferentes idades, cuja amizade atinge os extremos do amor e do ódio. O diferencial da primeira montagem, porém, está todo no elenco, formado por homens. “Foi uma ideia do Marcelo Médici. As mulheres se identificam com as cenas e os rapazes reconhecem as personalidades que estão ao seu redor”, explica Célia Forte, também autora de Ciranda, peça (que acaba de virar livro) que explora de forma dramática o relacionamento entre mãe, filha e neta.

ELAS SÃO UMA PEÇA

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Diversificado, o circuito paulistano ainda explora a figura feminina em espetáculos solo, no estilo stand-up, como Afinal, O Que Querem As Mulheres?, do humorista Fábio Moraes, e até em dramas como Mulheres, adaptação de Mario Bortolotto para a obra homônima do escritor Charles Bukowski.

No entanto, a depender do teatro feito por aqui, todas as paulistanas seriam um prato cheio para uma filme de Almodóvar. O melhor exemplo é Mulheres Alteradas, em cartaz no Teatro Gazeta, que em tom caricatural, explora o comportamento do tal sexo frágil.

“O humor torna as coisas mais leves. O público ri, mas se parar para refletir, são personagens trágicas. São risíveis, mas trágicas”, explica Célia Forte. Juliana Araripe concorda: “A mulher é um ser tragicômico, que não para um segundo de pensar.  A gente até tenta ser normal, mas não consegue. Nesse sentido, o humor é libertador”.

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