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As verdades e mentiras da peça ‘Lampião e Lancelote’

Saiba o que é licença dramatúrgica e o que ocorreu de fato na vida dos guerrilheiros que se encontram na história de Fernando Vilela

Por Livia Deodato
Atualizado em 1 jun 2017, 17h47 - Publicado em 15 mar 2013, 13h49

O encontro é inusitado: Lancelote, o melhor cavaleiro da Távola Redonda, braço direito do Rei Arthur, é enviado para o sertão dos anos 30 e lá encontra Lampião, o cangaceiro mais famoso do Nordeste. O primeiro saiu da lenda, o segundo, morreu na História.

No teatro, no entanto, eles travam um duelo musicado e de encher os olhos: o espetáculo Lampião e Lancelote, em cartaz no Teatro do Sesi, deixou as páginas do livro de 2006 de Fernando Vilela para ganhar vida na adaptação de Bráulio Tavares, direção de Debora Dubois e trilha sonora original de Zeca Baleiro.

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O musical brasileiro conta um pouco da história desses guerrilheiros com “sotaques” diferentes: em versos de cordel para Lampião (papel de Daniel Infantini) e em ritmo de novela de cavalaria para Lancelote (Leonardo Miggiorin). O espetáculo é entrelaçado por um narrador, papel de Cássio Scapin. “Pelo fato de Lancelote ser um lorde medieval e ter uma ascendência nobre, acabei utilizando uma métrica diferente da de Lampião, uma espécie de trote medieval”, diz o autor da obra premiada dois troféus Jabuti. “No caso de Lampião, usei uma métrica direta, com menos pausa. Uma estrutura mais simples, mas não menos sofisticada: como o galopar de um pangaré no sertão.”

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As métricas do livro – sextilha heptassilábica (seis versos com sete sílabas cada) para Lampião e setilha (sete versos de sete sílabas) para Lancelote – não foram seguidas à risca por Zeca Baleiro, que não só teve liberdade para compor músicas originais junto a Bráulio, como inseriu clássicas canções na trilha, como o xaxado Mulher Rendeira.

Verdades ou contos?

Afinal, o quanto há de licença poética e realidade no espetáculo?  A começar por Mulher Rendeira, o jornalista e escritor Moacir Assunção (autor de Os Homens que Mataram o Facínora – A História dos Grandes Inimigos de Lampião) explica que existem indícios da canção ser de autoria de ninguém menos que a avó de Lampião, Dona Jacosa.

Sim, Lampião e todo o seu bando eram bem festeiros: não podiam ter uma trégua sequer dos inimigos, que logo armavam um forró à luz da lua. “Tinha festa o tempo todo, dançavam forró, xaxado, sob proteção dos fazendeiros”, conta Assunção. Lampião também foi o primeiro cangaceiro a introduzir as mulheres no cangaço. No entanto, elas não tinham muita função: não combatiam, não faziam comida e nem ao menos costuravam. Cabiam aos homens todos os papéis. Restava a elas apenas rezar, como mostra Maria Bonita (a atriz Luciana Carnieli) em uma das cenas do espetáculo.

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E atenção: ela nem era a mais bonita do bando. O apelido foi dado pelos policiais, que tinham por objetivo provocar Lampião. “Durvinha, mulher do cangaceiro Moreno, era mais bonita”, afirma Assunção. Ela morreu há pouco tempo, em 2010, em decorrência de um AVC.

Lampião e Maria Bonita
Lampião e Maria Bonita ()

Da parte de Lancelote, por ser uma lenda, o que não faltam são diferentes versões. A solução que Fernando Vilela encontrou para colocar o cavaleiro medieval em combate com o cangaceiro do sertão foi um feitiço da bruxa Morgana. Na trama, o amor que ela sente por Lancelote não é correspondido. E, possuída pelo ciúme, ela abre um portal em conexão com o sertão e envia o cavaleiro para lá.

E realmente há alguma relação entre eles na lenda? “Uma das versões que eu acho mais interessante é a de As Brumas de Avalon, que dizia que Morgana era prima de Lancelote. Ele, por sua vez, tinha estatuto de príncipe, pois era filho de Helena, mas foi criado fora do reino como bastardo”, explica Vilela. “Lá conta-se que ela seria muito apaixonada por Lancelote que, por sua vez, morria de amores pela mulher do Rei Arthur, Guinevere.”

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