Três perguntas para Juca de Oliveira
Aos 79 anos, o ator enfrenta o desafi o de protagonizar o monólogo Rei Lear, adaptado da clássica tragédia de Shakespeare, que estreia no Teatro Eva Herz na sexta (18)
A maturidade o levou a encarar Rei Lear?
Shakespeare é o sonho de qualquer ator. Já tive o privilégio de fazer Júlio César (1966), Ricardo III (1975) e Othello (1982). Na minha idade, sobraria Lear. Durante uma palestra, o dramaturgo Geraldo Carneiro me falou que estava preparando uma adaptação em forma de monólogo da peça e perguntou se eu toparia protagonizar. Eu exultei e saí à procura de gravações de outros solos de atores ingleses para ter ideia das difi culdades que enfrentaria. Não encontrei nada, não havia uma montagem realizada dessa forma. Jamais um ator fi zera um monólogo inteiro dessa tragédia.
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Transformá-la em solo é uma forma de viabilizar a produção?
Claro! Onde eu conseguiria 22 atores experientes para levar a tragédia na íntegra? A maioria dos grandes atores está comprometida com televisão ou cinema. O teatro passa por uma tremenda crise. Sempre montamos espetáculos sem o apoio do Estado. Vivíamos cooperativados, na base de porcentagens dos participantes sobre a renda bruta da bilheteria, e dava tudo certo. Hoje, mesmo com leis de incentivo, não conseguimos reunir um bom elenco para encenar Shakespeare.
Atualmente você encontra mais dificuldade para decorar texto, ainda mais um monólogo?
É a mesma de quando tinha 18 anos. Quem me ensinou a decorar corretamente foi a Irene Ravache, na época da peça De Braços Abertos (1984). Em um ensaio, ela me deu uma dura: “Você não sabe decorar, meu querido, pensa que sabe, então tenta adivinhar as palavras, todo inseguro, pois não decorou nada”. Fiquei furioso, mas entendi. O texto precisa ser memorizado como bula de remédio, palavra por palavra. Depois, o ator busca o sentido e as emoções. No primeiro ensaio de Rei Lear, já sabia de cor. O trabalho duro veio depois (risos).
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