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Fim do Studio SP: para onde vão os artistas da nova música brasileira?

Fechamento do ícone do Baixo Augusta gera discussão na cena independente e joga luz em espaços culturais menores, mas expressivos, como Mundo Pensante e Casa de Francisca

Por Mayra Maldjian
Atualizado em 1 jun 2017, 17h44 - Publicado em 20 abr 2013, 22h05

“E agora?”. A incerteza de Miranda Kassin é também a de muitos colegas da nova geração da música brasileira, que, além de chorar pelo fim de uma história, se questionam para qual palco correr quando o Studio SP fechar as portas no fim desta semana.

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O chororô tem motivo. O clube de Alê Youssef, Maurizio Longobardi e Guga Stroeter, que nasceu em um sobradinho da Vila Madalena em 2005 e foi para a Rua Augusta em 2008, tornou-se um templo vanguardista na noite paulistana por apostar em artistas independentes e impulsionar a formação e o crescimento de uma cena expressiva e autossustentável. Seus holofotes jogaram luz em Tatá Aeroplano, Céu, Thiago Pethit, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Criolo, Daniel Ganjaman e Instituto Coletivo, Rodrigo Campos e os amigos Kiko Dinucci e Juçara Marçal, entre tantos outros.

Miranda, por exemplo, tornou-se conhecida ali, como cover de Amy Winehouse, personagem que incorporava desde 2008, em noites de casa lotada. Graças a esse trabalho, deu um passo à frente e lançou um álbum solo com canções autorais, Aurora (2012). Chorosa, diz que ficou órfã e lamenta o que pode vir a ser o fim do Baixo Augusta. “Com os empreendimentos imobiliários subindo, não vai sobrar nada. Vão acabar com um conceito incrível de rua, onde todas as tribos se misturam. As prostitutas, o povo do underground, as patricinhas.”

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“Nos últimos anos perdemos um monte de casa. Começando pelo Vegas, tinha aquela na Vila, o Bleecker St., que também fechou. O CB e o Berlin, na Barra Funda. Eram os lugares onde essa cena alternativa também se colocava”, observa o músico André Frateschi, marido da cantora, habitué do Studio SP com o seu projeto Heroes, em homenagem a David Bowie. Para ele, esse quadro atual é um reflexo das políticas públicas, que parecem jogar contra a noite paulistana.  

Palcos menores, força gigante

O cantor e compositor Tatá Aeroplano, DJ oficial da casa e líder do Cérebro Eletrônico, é um pouco mais otimista. “Foi um lugar que abriu as portas para eu levar minha música autoral e minha discotecagem para lá”, reforça. Bem relacionado, ele aponta para endereços culturais um pouco mais novos na cidade, como a Casa de Francisca, o Mundo Pensante, o Puxadinho da Praça e o Espaço Serralheria (leia mais sobre cada um abaixo). Apesar de serem bem menores que o Studio SP, onde cabiam 450 pessoas, esses espaços dão uma grande força para a cena. “Acho que a tendência é sim que essas casas absorvam essa programação órfã.”

Aeroplano deve participar da curadoria de uma das noites do Puxadinho da Praça, a casa cool do momento na Vila Madalena, regida pelo fundador e produtor cultural Fernando Tubarão. Aberto há um ano, o local passou por uma reestruturação e turbinou a agenda de shows (veja as atraçõs do mês abaixo). Lulina, Pélico e Bárbara Eugênia, também filhos do Studio, devem passar por lá no próximo mês.

Quem deve fixar raízes no bairro também são os rapazes do Vanguart, que arrastavam fãs de Beatles para o clube de Alê Youssef com o projeto mensal Vangbeats desde dezembro de 2009. A banda de Cuiabá tem uma data marcada no Grazie a Dio!, em maio. “É um alívio porque a gente consegue tocar o projeto adiante sem sair daquele universo”, comemora o líder Helio Flanders, apesar de não ter negociado uma residência por lá ainda.

Evandro Fióti, produtor e irmão do rapper Emicida, não vê um destino muito certo para a festa Estilo Livre, inaugurada no Studio SP em agosto do ano passado. “O rap foi conquistando espaço na casa durante as noites de Seleta Coletiva, do Daniel Ganjaman [produtor de nomes como Sabotage e Criolo] e o coletivo Instituto. Foram muitos anos [sete] até ganhar uma noite própria”, conta Fióti. “São Paulo está carente de casas de show de médio porte. É tudo muito grande ou muito pequeno. O lance é que muitos artistas passaram para outro patamar…” Pensando na capacidade, ele cita o vizinho Beco 203, cuja programação é mais voltada ao rock e à balada, e o Cine Joia, na Liberdade, frequentada por atrações gringas. “É um momento difícil.”

Aqui cresce uma cena

Rubens Amatto, dono da agradável Casa de Francisca ao lado de Rodrigo Luz, também lamenta o fim do Studio SP e a ausência de um número maior de palcos para absorver a grande demanda de artistas na cidade. Ele é otimista, no entanto. “A cidade se faz com a soma de pequenos lugares, é importante essa diversidade”, afirma, citando espaços como a Serralheria, na Lapa, cujo ponto forte é a música instrumental. “Acho que tem uma tendência de as pessoas procurarem mais a gente”, diz Amadeu Zoe, sócio e curador da Serralheria. “Eu sinto o fechamento do Studio também. Pelo tamanho da cidade a gente precisa de mais casas que atendam o mercado independente, alternativo. É um espaço a menos para gerar esse acontecimento em São Paulo.”

Responsável pela afinada curadoria do espaço onde somente 44 pessoas assistem a um concerto por noite, Amatto, porém, não é tão complacente com a nova cena musical. “São poucos os jovens artistas que se preocupam em propor algo novo. A música hoje é muito refém do mercado”, pontua. “Nossa prioridade é artística, e é isso que nos sustenta.” Como exemplo de sucesso, ele classifica os músicos do Metá Metá e do Passo Torto, frequentadores da programação da casa, como os mais expressivos de sua geração no Brasil. Veteranos como Paulo Vanzolini também estão sempre por lá.

Inaugurada em 2009, a Casa de Francisca realizou em março a segunda edição do El Grande Conserto, um festival de música contemporânea brasileira que, no ano passado, ajudou a financiar uma reforma no casarão de 1913 onde está instalada. Segundo Amatto, o evento  deve continuar a ocorrer anualmente. Outros projetos, para dentro e para fora da casa, também estão a caminho. “São esses encontros que jogam luz e celebram esse cenário desconhecido para muita gente.”

O baterista, designer gráfico e fotógrafo Paulo Papaleo, criador do espaço Mundo Pensante, também pensa em mostrar a cena que cresce ali em seu espaço para muito mais gente. “Eu estou muito a fim de fazer um festival na praça aqui na frente [Dom Orione]. Estamos começando a articular com as pessoas do bairro essa possibilidade”, adianta o produtor, que escolheu a dedo o galpão no Bixiga, nas proximidades do clube Glória e, não tão longe dali, do Teatro Oficina.  

Versátil, o galpão multimídia pode ser adaptado para estúdio de fotografia e de música, e ainda recebe exposições, cursos e outras intervenções que tenham a ver com a proposta da casa. “Eu sempre pirei na pop art. E o Andy Warhol tinha a Factory, de onde saiu o Velvet Underground, fotógrafos, vários músicos e artistas. Era um galpão onde aconteciam eventos, residências artísticas e uma série de intervenções. Eu sempre tive esse sonho de um dia tentar fazer isso aqui em São Paulo”, justifica. “E achei muito conveniente que fosse no Bixiga, que é um bairro que tem uma tradição de arte interessante. Acredito que o novo momento da cultural cidade vai ser vivido aqui”.

Poucas, pequenas e boas

Casa de Francisca

  • Onde | Rua José Maria Lisboa, 190, Jardim Paulista,  ☎ 3052-0547
  • Quando | quarta a sábado, 20h à 1h
  • Lotação |44 lugares
  • Agenda do mês | Ornitorrinco canta Brecht e Weill, com Cacá Rosset, Cida Moreira e Antonio Carlos Brunet (dia 20, 22h30, R$ 62,00, esgotado), Raphael Costa (dia 24h, 21h20, R$ 26,00), Aurelie e Veroca (dia 25, 21h30, R$ 26,00), Paulo Vanzolini (dias 26 e 27, 22h30, R$ 80,00).

Casa do Mancha

  • Onde | Rua Felipe de Alcaçova, s/nº, Pinheiros, ☎ 3796-7981
  • Quando | em dias de show, abre entre 18h e 19h
  • Lotação | 100 pessoas
  • Agenda do mês | Holger (dia 20, 19h, R$ 20,00), Felipe Cordeiro (dia 21, 19h, R$ 15,00), Chimpanzé Clube Trio (dia 28, 18h, R$ 15,00). Passe antes num caixa eletrônico, pois a casa só aceita dinheiro.
Casa do Núcleo
Casa do Núcleo ()

Casa do Núcleo

  • Onde | Rua Padre Cerda, 25, Pinheiros, ☎ 3032-8401
  • Quando | terça a sexta, das 14h às 19h (até as 23h em noites de shows); sábado, domingo e feriados, casa abre uma hora antes do início do evento
  • Lotação | 80 lugares (45 sentados)
  • Agenda do mês | Mano a Mano Trio (dia 20, 21h, R$ 20,00), Forró do Zé Pitoco (dia 21, 19h30, R$ 15,00), Vento em Madeira (dia 23, 20h, R$ 30,00), Paulo Monarco e Dandara (dia 25, 21h, R$ 20,00), Juliana Amaral (dia 26, 21h, R$ 20,00), Rosa Armorial (dia 27, 21h, R$ 20,00), Aula-espetáculo A Rabeca Pernambucana, com Mestre Luiz Paixão, Cláudia Rabeca, Renata Rosa e Maciel Salu (dia 30, 16h às 18h, R$ 20,00).
Mundo Pensante
Mundo Pensante ()

Mundo Pensante

  • Onde | Rua Treze de Maio, 825, Bixiga, ☎ 5082–2657
  • Quando | terça a sexta, 14h às 21h, sábados, 17h às 21h; shows a partir das 22h, sem hora para acabar
  • Lotação |250 pessoas
  • Agenda do mês | Aprochego Tropical com Andreia Dias (dia 20, 22h, R$ 25,00), Quinta Cantante com Lenna Bahule (dia 25, 22h, R$ 20,00), Meno Del Picchia (dia 26, 22h, R$ 25,00), Fiesta Pies Descalzos (dia 27, 23h, fantasiados e bregas pagam R$ 15,00, os demais pagam R$ 60,00).
O Terno Puxadinho da Praça
O Terno Puxadinho da Praça ()

Puxadinho da Praça

  • Onde | Rua Belmiro Braga, 216, Vila Madalena, ☎ 2597-0055
  • Quando | Segunda e terça, 11h às 0h, quarta, 11h às 19h, quinta a sábado, 11h às 4h30, domingo, 15h à 0h
  • Lotação | 100 pessoas
  • Agenda| Amplexos e DJ Magrão (dia 20, das 14h às 22h, R$ 10,00), Cataia (dia 20, 22h às 4h, R$ 15,00 e R$ 20,00 após 0h), Chaiss na Mala (dia 21, 16h, R$ 10,00), Forró com Thais Nogueira (dia 22, 19h, grátis até 20h) + Canções Velhas para Embrulhar Peixes (dia 25), Los Porongas (dia 26), Orkestra Bandida (dia 27), entre outros.
Espaço Serralheria
Espaço Serralheria ()

Serralheria

  • Onde | Rua Guaicurus, 857, Lapa, ☎ 6794-0124 e 98272-5978
  • Quando | quinta, 21h à 1h; sexta e sábado, 22h às 3h, domingo, 18h às 22h
  • Lotação | 240 pessoas
  • Agenda | Aricia Mess convida Paula Preta e Théo Werneck (dia 21, 19h, R$ 20,00), Circuito Impro Livre (dia 25, 20h, R$ 10,00), Marcos Paiva convida MC Moraez e MCs da Cooperativa de Rima (dia 26, 22h, R$ 20,00).
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