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Espaço na Avenida Paulista exibe coleção de obras de arte e documentos

Conjunto de salas do Itaú Cultural abriga peças que contam cinco séculos da história do Brasil

Por Laura Ming
Atualizado em 5 dez 2016, 13h43 - Publicado em 12 dez 2014, 22h00

Um dos maiores empresários do mercado financeiro do país (comandou o Itaú de 1979 a 2005, quando se afastou um pouco do dia a dia dos negócios para presidir o conselho do banco), Olavo Setubal era também um grande colecionador de arte. Sua primeira aquisição ocorreu em 1969: uma paisagem nordestina do pintor holandês Frans Post. Nas décadas seguintes, sobretudo a partir dos anos 2000, passou a comprar de forma mais sistemática documentos e objetos de arte brasileiros em uma velocidade impressionante. Com a ajuda de especialistas no assunto, amealhou livros, mapas, telas e moedas que abrangem cinco séculos da história do país. Grande parte deles ficava armazenada na sede do Itaú, no Jabaquara. Somente em 2010 o acervo pôde ser apreciado pelo público, na Pinacoteca do Estado e em exposições itinerantes por diversas cidades. A partir deste sábado (13), o material raríssimo ganha um espaço permanente de exibição na capital no 4º e no 5º andar do prédio do Itaú Cultural, na Avenida Paulista. A expectativa é que receba 2 000 visitantes por dia.

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Durante três anos, os cenógrafos Daniela Thomas e Felipe Tassara transformaram um conjunto de salas administrativas no novo espaço cultural da cidade. A curadoria ficou por conta do historiador e colecionador Pedro Corrêa do Lago. Não poderia haver profissional melhor para escolher os 1 300 itens da exposição. Ele fez parte do grupo de pessoas que ajudaram Setubal na aquisição de diversas obras. “Quis contar a história através da arte”, diz Lago. A coleção, apresentada em nove temas, é cheia de peças únicas e superlativas, entre elas um exemplar do Le Grand Atlas, de Joan e Willem Blaeu, publicado em 1667. Uma das primeiras tentativas de mapear o mundo, ele é composto de doze volumes e foi adquirido na Bélgica. “A publicação era tão relevante na época que valia o preço de uma residência chique”, afirma Ruy Souza e Silva, ex-genro de Setubal e também consultor da coleção. Há um ano, uma casa de leilões vendeu uma edição similar por 360 000 dólares.

Mais de quarenta vídeos  contextualizam algumas obras (é possível ver como os índios tupinambás, adeptos do canibalismo, preparavam os inimigos capturados, por exemplo). Os textos explicativos são curtos, e a preocupação estética com a disposição das peças, grande. Para instalar a escada em caracol que une os dois andares e recorta a maior série de gravuras da fauna e flora brasileiras, do século XIX, foi necessário retirar uma laje, mas o efeito final é impactante.

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Entre as preciosidades encontra-se a única pintura feita da cidade de São Paulo antes da invenção da fotografia. Encomendada por dom Pedro I, ela acabou deixada quando a família real saiu do país. Ficou perdida por 110 anos, até ser reencontrada em uma casa no Rio de Janeiro. “Estava ali procurando livros antigos quando vi a tela, que todos davam como perdida”, lembra Pedro Corrêa do Lago, o autor da descoberta. Merece também destaque um trabalho do francês Debret que retrata o segundo casamento de dom Pedro I, com a princesa bávara Amélia de Leuchtenberg. Nesse caso, o achado ocorreu em um antiquário de Madri. A assinatura do quadro havia sido falsificada para que parecesse uma obra espanhola. Reconhecido por uma estudiosa brasileira, foi comprado, trazido para o Brasil e teve sua autenticidade comprovada. Ainda fazem parte da exposição lindas gravuras de Spix e Martius que mostram a idealização europeia em relação aos índios, dom Pedro II sem barba pelos pincéis do alemão Rugendas e um amplo material sobre a escravidão. A coleção numismática representa outro ponto alto do conjunto. Ela possui um exemplar de todas as moedas já cunhadas em território nacional, incluindo duas provas de 1695, rejeitadas por um detalhe: nelas, o Brasil é chamado de Terra de Santa Cruz, nome da época do descobrimento. Só existem dois exemplares no mundo.

Apesar de contar com o auxílio de especialistas, Setubal dava a palavra final nas aquisições. “Só comprava o que tinha valor histórico e era do seu agrado”, afirma o consultor Silva. O primeiro livro adquirido, de 1647, ficava na sala de espera do escritório do banqueiro, dentro de uma caixa de acrílico, para que as pessoas  pudessem manuseá-lo. Setubal também comandou a prefeitura de São Paulo de 1975 a 1979 e ocupou o cargo de ministro das Relações Exteriores em 1985 e 1986. Mesmo depois de sua morte, em 2008, aos 85 anos, o acervo continuou crescendo, com o dinheiro do fundo da instituição financeira destinado a investimentos em arte, e hoje conta com 12 000 itens. O melhor da coleção Brasiliana, como foi batizada em 2010, finalmente, está agora à disposição do público. 

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