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José Padilha: “As comédias nacionais não me interessam”

Diretor afirma que sente falta de filmes brasileiros com conteúdo e diz confiar no resultado de <em>Robocop</em>

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 16h18 - Publicado em 20 fev 2013, 18h54

Mais conhecido pelo sucesso de Tropa de Elite (2007), que lhe valeu o Urso de Ouro no Festival de Berlim, em 2008, e a continuação Tropa de Elite 2 — O Inimigo Agora É Outro (2010), José Padilha estreou o no cinema com o aclamado documentário Ônibus 174 (2002). Premiada em vários festivais, a fita narrava o sequestro de um coletivo no Rio de Janeiro em junho de 2000, cujo trágico desfecho chocou a opinião pública e lançou luz sobre as deficiências do sistema público de segurança e sobre a relação entre as desigualdades sociais e a criminalidade.

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Padilha também atuou na produção de longas como Estamira (2004), Paraísos Artificiais (2011), ambos do cineasta e sócio Marcos Prado, e o inédito Rio, Eu Te Amo. Os êxitos do carioca, contudo, não se restringiram ao território nacional. Em 2008, a revista norte-americana Variety colocou seu nome numa lista de diretores dignos de atenção na próxima década e não demoraram a surgir os convites para dirigir produções estrangeiras. Além do muito comentado remake de Robocop, previsto para chegar aos cinemas brasileiros somente em fevereiro do ano que vem, ainda em 2009, Padilha dirigiu Segredos da Tribo, telefilme co-produzido entre a BBC londrina, o canal franco-alemão Arte e a HBO sobre o trabalho de antropólogos junto a uma tribo ianomâmi na Amazônia venezuelana.  O longa conseguiu uma indicação ao Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance em 2010, mesmo ano em que foi exibido na mostra É Tudo Verdade, e chega agora ao circuito comercial.

A seguir, uma conversa com o cineasta, que, no momento, filma Robocop, nos Estados Unidos.

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VEJASÃOPAULO.COM — O que o senhor acha do cinema brasileiro atual?

José Padilha — Acho que no momento o cinema brasileiro está dividido entre as comédias com estética televisiva, que tendem a fazer público mas nada tem a declarar, e os projetos extremamente autorais, como os do Kléber Mendonça Filho [O Som ao Redor], do Beto Brant [Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios], do Karim Aïnouz [O Céu de Suely] ou do Cláudio Assis [Febre do Rato], para citar apenas alguns dos nossos ótimos diretores, que tem muito a declarar mas que fazem pouco público. De minha parte, nada tenho contra as comédias nacionais, de estética televisiva. Elas não me interessam, mas acho que tem o seu espaço e cumprem uma função econômica importante. Quanto ao cinema autoral,  tento ver sempre que posso. São filmes que me ensinam sobre o Brasil e que me motivam como diretor. Ultimamente tenho sentido falta do caminho do meio. Filmes que tem algo a declarar e que tem potencial de público. Filmes como o Cidade de Deus, Carandiru e 2 Filhos de Francisco, por exemplo. Acho que seria bacana se tivéssemos mais projetos desse tipo.

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Muito se tem criticado a distribuição do cinema brasileiro no exterior. Qual é a sua opinião sobre esse assunto?   

O Brasil ainda não fez um filme que tenha sido grande sucesso de bilheteria no exterior. Já tivemos grande sucesso em festivais, mas nas bilheterias, o sucesso foi apenas relativo. Em grande parte, porque é bastante difícil se distribuir filmes falados em português em um mercado dominado pelos estúdios. 

O cineasta Fernando Meirelles declarou que o senhor não estava tendo uma experiência muito positiva durante a filmagem de Robocop, sofrendo pressões diversas. O senhor confirma o que ele disse?

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Não li a entrevista do Fernando. Posso apenas te dizer que a minha experiência aqui está sendo positiva, e que estou gostando muito do filme que estou fazendo.

O que o público pode esperar de Robocop?

Pode esperar um filme feito com muita dedicação e bastante suor, por pessoas extremamente talentosas, como Gary Oldman, Samuel L. Jackson, Lula Carvalho e Daniel Resende. Eu confio no cinema. O meu objetivo  é fazer um ótimo filme. Simples assim.

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Como surgiu Segredos da Tribo?

Na verdade, quem teve a idéia foi a  BBC de Londres. O chefe da produção de documentários da BBC, Nick Fraser, leu um artigo na New Yorker sobre as controvérsias que envolviam alguns antropólogos famosos e os ianomâmi da Venezuela. Então ele me telefonou, perguntando se eu tinha interesse em produzir um filme sobre este tema com eles. Eu li o artigo, e decidi aceitar o convite.

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Quais foram as dificuldades encontradas durante as filmagens?

Foi muito difícil filmar na Venezuela durante o governo Chávez. Na época, Hugo Chávez tinha decidido fechar a Amazônia venezuelana para expulsar os missionários americanos, e tinha proibido o acesso de estrangeiros ao território ianomâmi. Fiquei mais de um mês na Venezuela até conseguir acesso ao vice-presidente da república, que depois de muita burocracia, autorizou a nossa entrada na região. Além disso, as condições em que vivem os índios são muito duras – há muita malária e cólera. Filmar em um lugar tão remoto foi bastante difícil. Finalmente, eu não podia contar com antropólogos para me ajudar durante as entrevistas, de modo que foi complicado fazer perguntas, e mais ainda entender as respostas que recebia. Na verdade, só percebi o conteúdo do material que tinha filmado com os ianomâmi um mês depois, quando os Dawson, missionários americanos que falam ianomâmi muito melhor do que os antropólogos, fizeram a tradução.

 Temas áridos como populações indígenas e antropologia podem afastar o público do filme?

O filme é uma co-produção entre BBC, Arte e HBO. Para mim, isso significa que existe muito interesse internacional nas populações indígenas e nos antropólogos. Espero que o mesmo valha para o público brasileiro.

 

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