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Testamos as feirinhas gastronômicas e os food trucks de São Paulo

Separamos o que vale a pena das roubadas nos maiores eventos na cidade

Por Mariana Oliveira e Meriane Morselli
Atualizado em 20 jan 2022, 10h04 - Publicado em 3 out 2014, 00h00

Food truck é a versão moderna dos antigos caminhões de caldo de cana, das kombis de pastel e das vans de hot-dog. Se a ideia não é exatamente nova, virou agora um modismo saboroso. Em versões charmosas e descoladas, os veículos são pilotados hoje por chefs, alguns deles consagrados, e estacionam em áreas com boa infraestrutura, incluindo mesas coletivas, banheiros e segurança. Muitas vezes dividem o espaço com barraquinhas.

O clima é de praça de alimentação ao ar livre, mas com receitas muito mais bacanas. Em alguns desses locais, é possível encher a barriga com hambúrguer de cordeiro e ceviche de peixe branco, entre outras opções. Por cerca de 50 reais dá para fazer uma festa completa, incluindo prato, sobremesa e bebida. Como se vê, está longe de ser uma pechincha. No entanto, é menos do que se gasta num restaurante. Não há garçons, e as receitas são servidas em pratos de plástico. Mas a informalidade faz parte do barato do negócio. 

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Para separar nesse circuito o que há de melhor de algumas roubadas, VEJA SÃO PAULO testou recentemente as seis feirinhas gastronômicas fixas da capital. Somadas, oferecem mais de 130 pontos de venda de comida. Nos fins de semana, elas chegam a atrair aproximadamente 20 000 pessoas. As avaliações da revista foram realizadas entre 6 e 28 de setembro, sempre no pico de movimento da hora do almoço. Além de provarem três sugestões em cada um dos locais, os críticos observaram itens como infraestrutura, acomodação, limpeza, atendimento, variedade, filas e estacionamento. Não fizeram parte da prova os eventos realizados esporadicamente ou que mudam de endereço de uma edição para outra.

No cômputo geral, o Panela na Rua, realizado em Pinheiros nas noites de quinta e nas tarde de domingo desde junho, terminou como vencedor. Um de seus méritos é ter um dos cardápios mais equilibrados do mercado. Na data da avaliação, 7 de setembro, oferecia quinze pontos de salgados, sete de doces e três de bebidas. A título de comparação, a Wheelz, na Vila Olímpia, dispunha de quatro de salgados, dois de doces, um de café e nenhum de bebida no dia da visita, 12 de setembro.

 

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A relação de carros-chefes do Panela na Rua inclui tacos do GourMex, hambúrgueres do Meat Chopper, churros da Chucrê e mojitos do Del Cocktail, que se alternam no dia a dia da operação com outras atrações gastronômicas. O público circula com relativa tranquilidade pelo espaço de 400 metros quadrados, e em menos de quinze minutos dá para sair de um dos balcões com o pedido na mão (na Feirinha Gastronômica do Butantan Food Park, segundo colocado no ranking, uma pessoa pode amargar até trinta minutos na fila).

A feira em Pinheiros sobressaiu também pela limpeza. Funcionários esvaziam sempre as sete lixeiras e um deles cuida das duas cabines de banheiros. É a única que possui bebedouro. Um inconveniente: dispõe apenas de mesas altas para apoio (quatro no espaço interno e três na Praça Benedito Calixto, localizada em frente). “Vendemos comida com qualidade e frescor, algo rápido sem ser fast-food”, afirma Luiza Hoffmann, curadora do evento.

O Teste das Feirinhas Gastronômicas
O Teste das Feirinhas Gastronômicas ()

Nenhum dos espaços testados mereceu levar bola preta, mas alguns deles apresentaram defeitos. A Chefs no Bairro, na Zona Leste, inaugurada em 14 de setembro, peca pela falta de variedade. No dia da avaliação de VEJA SÃO PAULO, havia apenas uma opção de prato para fugir dos lanches. Para piorar, duas das três pedidas feitas apresentaram problemas. Além do lanche de pernil do O Quinto ter chegado com o pão murcho, faltava tempero ao yakissoba tailandês do Aim Thai.

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Mostrou-se também uma roubada o horário de almoço de quinta e sexta na Wheelz. Em funcionamento desde 2 de setembro, o lugar tem uma cara moderninha. Há painéis com plantas naturais, mesas de madeira rústica e uma panela antiga fazendo as vezes de pia. Mas o prato principal, ou seja, o número de participantes, é o menor desse mercado: apenas sete. Com isso, a espera nos balcões e a luta por acomodação são intensas. Durante a avaliação, o nhoque servido pelo Famiglia Massa Móvel chegou frio e teve de ser reaquecido no micro-ondas. Isso ocorreu com mais algumas pessoas que estavam na fila.

No item desconforto, a campeã foi a Mercado Pop – Augusta. Ela fica em um galpão coberto por telhas sem isolamento térmico e, nos dias quentes, vira uma estufa. Como se não bastasse, é a única que não oferece banheiros convencionais (apenas dois químicos). “Estamos tentando melhorar a ventilação e a infraestrutura”, afirma Rita Pescuma, responsável pelo negócio. Devido às obras de melhoria, a Mercado Pop está fechada desde o fim do mês passado e vai reabrir no próximo dia 12.

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O roteiro de feiras gastronômicas vem engordando há dois anos. Os chefs Henrique Fogaça e Checho Gonzales mais a produtora Lira Yuri foram os desbravadores do cenário. Em abril de 2012, eles realizaram a ação O Mercado pela primeira vez, na área externa do restaurante Sal Gastronomia, em Higienópolis. “Dois dias antes, quando começamos a divulgação na internet, meu telefone não parava de tocar e percebemos que ia encher”, conta Fogaça. Dito e feito. Durante nove horas, estima-se que 1 100 pessoas tenham conseguido cruzar o portão e outras 2 000 tenham ficado do lado de fora.

Até hoje, O Mercado continua sendo realizado uma vez por mês, em endereços diferentes (a próxima edição será no dia 12 no Mercado Municipal de Pinheiros). Entre os eventos regulares, o pioneiro foi a Feirinha Gastronômica, que ocupou entre fevereiro e julho do ano passado um estacionamento na Rua Girassol, na Vila Madalena. Em agosto do mesmo ano, ela se mudou para um galpão na Praça Benedito Calixto, onde permaneceu até maio de 2014. A receita desandou depois de um racha entre os organizadores. Um deles, Mauricio Schuartz, era a favor de ampliar o número de expositores, enquanto o parceiro e dono do imóvel, Caio de Sá, preferia um modelo mais enxuto. Resultado: em junho passado, Sá montou ali, Panela na Rua, em parceria com a chef Luiza Hoffmann.

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O Teste das Feirinhas Gastronômicas
O Teste das Feirinhas Gastronômicas ()

O dissidente Mauricio Schuartz criou junto com a chef Daniela Narciso em maio deste ano o Butantan Food Park, dentro de um terreno ao lado da Avenida Magalhães de Castro, nas proximidades da USP. É até hoje o maior espaço do mercado, com 1 400 metros quadrados e líder também nas ofertas (34 expositores). Na entrada, os visitantes dão de cara com uma Lambretta 1964 decorada com as cores da bandeira da Inglaterra.

Depois de escolher um dos balcões (os picolés do Me Gusta, o cachorro-quente à francesa do chef Raphael Despirite e os vinhos do Los Mendozitos estão entre os mais procurados), a pessoa pode ocupar uma das mesas comunitárias ao ar livre ou subir a um espaço coberto. O local chega a receber 7 000 visitantes nos dias de maior movimento. Uma das freguesas é a empresária Isabel Booker, de 32 anos, que passa por lá pelo menos uma vez por semana. “Gosto de fotografar tudo e dar dicas do que vale a pena no Instagram”, diz.

O negócio é um dos que mais investem em promoções para garantir o agito fora do horário de almoço. Na Copa foi instalado ali um telão de 65 polegadas. Às quintas e sextas, rola música ao vivo com bandas de blues e jazz. “Acho o momento ótimo para esse tipo de negócio, mas só vai ficar quem for sólido e organizado”, diz Schuartz. O empresário toca ainda o Faria Lima Food Park, inaugurado no fim do mês passado na Rua Matias Valadão, em Pinheiros.

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O ramo atrai tanta atenção hoje que começaram a surgir nas últimas semanas food trucks pouco usuais, como um dedicado a receitas com Doritos e outro especializado em champanhe (o primeiro vai estar no Pátio Gastronômico no dia 5 e o segundo fica na porta do restaurante Clos, na Vila Nova Conceição).

A onda também tem invadido os shoppings. No início do mês passado, o Iguatemi promoveu o Food Truck Festival e atraiu mais de 25 000 visitantes. O excesso de público,é claro, trouxe problemas. O atendimento dos vendedores ficou comprometido e a espera nas filas ultrapassou uma hora. Para se ter uma ideia do enorme movimento, no primeiro dia, 6 de setembro, a comida acabou no food truck de especialidades asiáticas The Asian Father por volta das 17 horas, três horas antes do fim do festival.

O Teste das Feirinhas Gastronômicas
O Teste das Feirinhas Gastronômicas ()

Uma semana depois, o JK Iguatemi levou treze barraquinhas ao seu agradável terraço e registrou movimento de cerca de 10 000 pessoas. Na sequência, o Center Norte fez um evento com 21 caminhões. O público total foi de aproximadamente 23 000 pessoas. Agora, em todas as quintas de outubro, o Lar Center, no mesmo complexo, vai abrigar uma versão noturna no formato de happy hour, das 17 às 21 horas. A estreia estava prometida para o dia 2.

Curiosamente, enquanto há um grande agito nos food parks montados em áreas privadas, o plano da prefeitura de legalização da comida de rua anda em marcha lenta. Em junho ocorreu a abertura das inscrições para que os interessados se candidatassem a ocupar os 900 pontos distribuídos por várias regiões.

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Mas, como a maioria dos locais não é muito atraente comercialmente, foram recebidos até agora pouco mais de 1 000 registros. Javier Herrera, dono da van de comida mexicana La Buena Station, disputa três dos dez lugares liberados pela subprefeitura de Pinheiros. “Assim que puder operar neles, pretendo ficar lá entre quarta e sexta e trabalhar nos food parks nos fins de semana”, planeja.

A preferência por atuar em estacionamentos ou galpões ocorre pelas facilidades oferecidas pelos organizadores, como segurança e infraestrutura. Em troca disso, o chef paga um aluguel (no caso do Butantan, o custo varia de 150 a 450 reais por dia). A febre está impulsionando muitos novos negócios. Os rapazes do Me Gusta, Ravi Leite e Gabriel Fernandes, de 23 e 21 anos, começaram a fazer picolés em novembro do ano passado exclusivamente para participar de feiras gastronômicas. Pegaram 20 000 reais emprestados com parentes e amigos e, de cara, venderam os 600 sorvetes preparados para o primeiro evento.

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A produção só cresceu desde então: hoje eles empregam dez pessoas, possuem uma loja na Rua Augusta e atuam em vários lugares com dois carrinhos com freezer. Atenta ao mercado, a nutricionista Bruna Gomes decidiu investir 80 000 reais em churros, guloseima muito popular em Santos, sua cidade natal. Hoje ela administra e põe a mão na massa nos dois carrinhos da Chucrê — Churros Gourmet e vende uma média de 800 doces por domingo.

Um dos casos mais impressionantes é a expansão do trailer especializado em vinhos Los Mendozitos, levado às ruas apenas cinco meses atrás pelos amigos André Fischer, Danilo Janjacomo e Ariel Kogan. Hoje eles possuem quatro lojas sobre rodas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro — cada uma delas custou 50 000 reais.

O Teste das Feirinhas Gastronômicas - tabela 2
O Teste das Feirinhas Gastronômicas – tabela 2 ()

Os veículos, equipados com três adegas para 33 garrafas cada uma, atendem a festas fechadas e feiras gastronômicas quase todos os dias. A bebida pode ser adquirida em taças (10 a 16 reais) ou garrafas (55 a 85 reais). Por mês, eles abastecem o estoque com 2 500 unidades trazidas da região de Mendoza, na Argentina. São vendidas pelo menos noventa por evento.

Casos de sucesso atraem mais gente ao negócio. Juliana Moreira, de 30 anos, abandonou a empresa da família como objetivo de tocar ao lado de um amigo a Massa na Caveira, uma Kombi de pizzas. Eles compraram um modelo 1974 de um colecionador e investiram 50 000 reais entre o automóvel e a adaptação. “Gastamos mais 25 000 para equipar uma cozinha industrial no bairro de Santana”, conta Juliana.

O veículo começou a rodar em abril e, desde então, os sócios venderam 12 000 unidades de pizza, que custam entre 15 e 17 reais. A ampliação do negócio está garantida: eles acabaram de adquirir um caminhãozinho, que está parado à espera de reforma. O custo da filial motorizada vai ser de 100 000 reais e, de acordo com a previsão dos comerciantes, sairá às ruas em janeiro, ajudando a congestionar ainda mais o tráfego de delícias sobre rodas.

O Teste das Feirinhas Gastronômicas
O Teste das Feirinhas Gastronômicas ()
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