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Adendo: Victor Civita, a Editora Abril e VEJA SÃO PAULO

Escolha de São Paulo como local para se investir foi acertada. A cidade lideraria a nova arrancada industrial brasileira, nos anos 1950

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h32 - Publicado em 22 out 2010, 21h15

O Brasil vivia um momento promissor, em 1949. Ao Estado Novo sucedia-se a democracia. A economia vivia o prelúdio de um novo salto. No cinema nacional destacavam-se os filmes da Atlântida, nas ondas sonoras reinava a Rádio Nacional, entre as revistas ‘O Cruzeiro’ não tinha rival — e tudo isso acontecia no Rio de Janeiro, a capital federal, com justiça chamada de a “caixa de ressonância” do Brasil. Era onde estavam os políticos, os escritores de expressão nacional, os artistas plásticos, os músicos, os atores. Victor Civita chegou nesse ano ao Brasil. Conheceu primeiro o Rio de Janeiro, depois São Paulo, comparou-as e pesou-as. O Rio lhe pareceu muito bonito e agradável, mas… A índole de milanês indicou-lhe que, para uma alma empreendedora como a dele, São Paulo era melhor. Como São Paulo?, objetavam as pessoas que andou sondando. Ele não tinha em vista um empreendimento de alcance nacional? Só acontecia no Brasil o que acontecia no Rio. Seria São Paulo sim, decidiu. E foi.

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Esse incrível Victor Civita (1907-1990) chegou ao Brasil já aos 42 anos. Vinha com a ideia de repicar, aqui, um certo Editorial Abril que seu irmão mais velho, César, havia inaugurado na Argentina com o lançamento de uma revista chamada ‘El Pato Donald’. O PATO DONALD foi lançada em julho de 1950. Os primeiros endereços da Editora Abril foram uma sala na Rua Libero Badaró e três num prédio da Rua João Adolfo. A primeira gráfica, no bairro de Santana, foi inaugurada, em 1951, com doze empregados. Aos sábados, Victor Civita levava-lhes pessoalmente os envelopes com o pagamento. Também frequentava a Praça Antônio Prado, no centro, ponto de encontro de jornaleiros, para pedir-lhes carinho para com O PATO. O resto é conhecido: às revistas Disney se somaram as de fotonovelas (CAPRICHO, de 1952, foi a primeira), uma de carros (QUATRO RODAS, 1960), depois as femininas (entre as quais CLAUDIA, 1961), uma histórica revista de reportagens (REALIDADE, 1966), uma de economia e negócios (EXAME, 1971), uma para homens (PLAYBOY, 1975 ), para ficar nas pioneiras. Victor Civita mudou o eixo da publicação de revistas, do Rio para São Paulo. Ele tinha feito a aposta certa. São Paulo lideraria a nova arrancada industrial brasileira, nos anos 1950. Se no censo de 1950 ainda era a segunda cidade brasileira (2,2 milhões de habitantes, contra 2,4 milhões do Rio), no de 1960 já assumia o primeiro lugar (3,7 milhões, contra 3,3 milhões).

VEJA, de 1968, foi criação mais do filho Roberto do que de Victor. Com a revista, a editora atingia outra dimensão — a da presença na atualidade do Brasil e do mundo, inclusive a atualidade política. VEJA chegaria a mais de 1 milhão de exemplares, e se tornaria uma das mais bem-sucedidas do mundo, no gênero. Em 1983, a revista passa a trazer, grampeado no miolo do reparte destinado a São Paulo, um guia com a programação da cidade. Em 1985, esse encarte evolui para uma revista de verdade, com reportagens e artigos. Nascia a VEJA SÃO PAULO. A aventura nacional iniciada por Victor Civita 35 anos antes revertia-se numa publicação local. Era como o reconhecimento de que a cidade virara uma entidade tão grande, diversa e complexa que valia por uma nação.

O primeiro número de VEJA SÃO PAULO trazia reportagem de capa sobre o bairro dos Jardins em que se falava das boates Gallery e Bom Bom, do restaurante In Città e do bar Supremo, as glórias do momento. Uma das notas na seção Terraço Paulistano informava que a antropóloga Ruth Cardoso iria entrar com força na campanha do marido, Fernando Henrique Cardoso, para a prefeitura paulistana, naquele ano. Os filmes que estreavam naquela semana eram ‘Amadeus’ e o nacional ‘Além da Paixão’, de Bruno Barreto. No teatro entrava em cartaz ‘O Outro Lado dos Lençóis’, de Walcyr Carrasco, e entre os shows eram anunciados os de Dori Caymmi, João Bosco e Zimbo Trio. Era uma época de aurora democrática e de suplício inflacionário. O presidente José Sarney cumpria seus primeiros meses de mandato. O governador de São Paulo era Franco Montoro e o prefeito da capital, Mario Covas, que teria como sucessor Jânio Quadros, vitorioso, na eleição de novembro, sobre o marido de Ruth. A primeira VEJA SÃO PAULO tinha 66 páginas. Hoje tem em média 180, e chega a 1 milhão de leitores de São Paulo e das cidades localizadas a até 100 quilômetros da capital. Tornou-se a segunda revista em faturamento publicitário da Editora Abril, atrás apenas de sua nave-mãe, VEJA. Victor Civita não viveu para ver, mas provavelmente não se espantaria. Ele nunca duvidou de que tinha acertado na escolha da cidade em que construiria a segunda e melhor parte de sua vida.

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