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Veja São Paulo entrevista Geraldo Alckmin

Nesta entrevista, ele conta por que insiste em ser o candidato do PSDB, mesmo contrariando vários caciques tucanos

Por Alessandro Duarte e Alvaro Leme
Atualizado em 5 dez 2016, 19h28 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

Veja São Paulo – Kassab tem sido um bom prefeito?

Alckmin – Ocorreram avanços importantes. Citaria a Lei Cidade Limpa, que foi positiva.

Veja São Paulo – Por que então o senhor quer o lugar dele?

Alckmin – Vejo que é uma corrida de revezamento. Cada um cumpre uma etapa, e estou animado para a próxima. Quero ser prefeito para trabalhar pelas pessoas.

Veja São Paulo – Qual é o principal problema da cidade hoje?

Alckmin – São vários. Um deles, como em toda megacidade, é a mobilidade. Não se vai resolver o problema do transporte com investimento somente nessa área. É preciso planejamento. Compatibilizar moradia, emprego, estudo e lazer em subcentros na cidade.

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Veja São Paulo – O senhor adotaria medidas restritivas ao transporte individual, como o pedágio urbano ou a ampliação do rodízio?

Alckmin – Inicialmente, não. Vamos investir em transportes coletivos, novos corredores e ônibus mais modernos. Pretendo também melhorar o transporte sobre trilhos, ou seja, metrô e trem.

Veja São Paulo – O senhor se compromete a não aumentar impostos como o IPTU ou criar novas taxas?

Alckmin – Assumo o compromisso. Aliás, fiz isso como governador. Reduzi o ICMS para mais de 200 produtos e serviços. A alíquota do álcool, por exemplo, caiu de 25% para 12%.

Veja São Paulo – Caso seja eleito, o senhor se compromete a cumprir o mandato até o final?

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Alckmin – Se não quisesse, não me candidataria. Já queria ser prefeito em 2 000. Não fui para o segundo turno por 7 000 votos, num universo de 7,5 milhões de eleitores. Não era para ser. Desígnios de Deus. Quando eu iria imaginar que Mario Covas ficaria doente? Tornei-me governador, fui reeleito, aprendi muito, amadureci, fui candidato a presidente. Conheci o país inteiro, o que me ajudou a entender São Paulo melhor. A cidade é uma síntese do país, de suas pujanças e desigualdades.

Veja São Paulo – O senhor ainda almeja ser presidente da República?

Alckmin – A curto prazo, não. Quero ser, se Deus quiser, um bom prefeito. Afinal de contas, com 11 milhões de habitantes, São Paulo é quase um país.

Veja São Paulo – Por que o senhor acha que tem melhores condições de administrar São Paulo que os ex-prefeitos Marta Suplicy e Paulo Maluf ou o atual prefeito, Gilberto Kassab?

Alckmin – Não sou melhor que ninguém, mas me sinto preparado. Adquiri uma boa experiência. Estou afiado e animado. A prioridade absoluta seria um binômio: revolução nos transportes e diminuição das desigualdades. É preciso um esforço nesse sentido.

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Veja São Paulo – Como diminuir a desigualdade social em São Paulo?

Alckmin – Vou dar um exemplo, que é a saúde. Existe má distribuição dos leitos hospitalares, concentrados na região da Avenida Paulista. E há regiões enormes, como Parelheiros e Grajaú, com quase 300 000 pessoas, sem uma cama sequer. Como governador, construímos hospitais em Sapopemba, Vila Prudente, Grajaú e Pirajussara. É preciso apostar nessa descentralização e na geração de empregos, com investimento público e privado. Ajudaria também na questão do trânsito.

Veja São Paulo – A sua insistência na candidatura pode trazer reflexos negativos na aliança PSDB-DEM?

Alckmin – Não. Sempre defendi as alianças. Aliás, em 2002, quando o PSDB não fez aliança com o DEM, na época PFL, para a Presidência da República, eu fiz na campanha para governador. Em 2004, tive papel importante para costurar a aliança com o DEM, na eleição do Serra. Agora tentei. Meses e meses de almoços, jantares e cafés. Não foi possível no primeiro turno. Kassab não é meu adversário. Não o vejo dessa forma.

Veja São Paulo – Se Kassab não é seu adversário, como convencer o eleitor a colocá-lo no lugar dele?

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Alckmin – Não pretendo fazer campanha de ataques. Vamos discutir o futuro. Pretendo fazer uma acupuntura urbana. Ou seja, para resolver problemas em certo trecho da cidade, investir num vizinho. No governo do estado, para evitar enchentes no Tietê, por exemplo, apostamos na construção de piscinões em Mauá e São Bernardo do Campo.

Veja São Paulo – Quando perdeu a eleição presidencial, em 2006, o senhor encarou seu primeiro período sem mandato em mais de trinta anos. O que mudou na sua vida pessoal e política?

Alckmin – Tive a oportunidade de parar um pouco para estudar. Fiquei cinco meses nos Estados Unidos, na Universidade Harvard, estudando políticas públicas. Aproveitei para fazer um curso chamado Leading Cities (Con-duzindo Cidades). Voltei a fazer uma coisa de que sempre gostei, que é lecionar. No tempo de faculdade, dava aula de química num cursinho. Eu brincava com os alunos dizendo que era melhor estudar química orgânica do que levar a namorada à praia.

Veja São Paulo – Sem mandato, o senhor ficou também sem parte dos seus rendimentos. Como tem sobrevivido?

Alckmin – Quando completei 50 anos, em 2002, poderia ter requerido aposentadoria por ter cumprido dois mandatos como deputado federal. Nunca o fiz, nem pretendo. Dou aulas em faculdades e palestras.

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Veja São Paulo – Quanto custa uma palestra sua?

Alckmin – De zero a 25 000 reais. A maioria de minhas palestras é gratuita, comunitária.

Veja São Paulo – Em média, qual é seu rendimento mensal?

Alckmin – Em torno de 17 000 reais.

Veja São Paulo – É suficiente para suas despesas?

Alckmin – Minha vida é modesta. Meu IPTU, pago em dez prestações mensais de 226 reais. Moro há quinze anos na mesma rua do Jardim Guedala, num apartamento de 105 metros quadrados. Quando levo um livro para casa, preciso tirar outro. Moramos eu, a Lu e o Thomaz, nosso caçula, pai da minha netinha, Isabella. Meu outro filho, Geraldinho, vive no México, por causa do trabalho num banco. Minha filha, Sophia, casou-se e mora a um quarteirão de nossa casa.

Veja São Paulo – As denúncias de que, em seu governo, a empresa Alstom teria pago propina para conseguir contratos com o estado podem abalar sua candidatura?

Alckmin – Não. Ocorreu a denúncia de que a Alstom teria pago propinas a governos em várias regiões do mundo. O governo do estado de São Paulo pediu informações ao Ministério da Justiça e nada recebeu, a não ser pela imprensa. Somos os maiores interessados em apurar e punir exemplarmente os culpados.

Veja São Paulo – Quem é seu melhor amigo?

Alckmin – Era meu pai, que morreu em 1998. Eu penso nele todos os dias da minha vida.

Veja São Paulo – E o Serra?

Alckmin – É um bom companheiro. Aliás, fico muito triste quando vejo essa história de “alckmistas” e “serristas”. Existem tucanos. Com garra para trabalhar pelo povo e pelas pessoas. Não há nem conflitos de possíveis disputas. Apoiei o Serra em todas as eleições. E ele a mim. Não tenho dúvida de que fará o mesmo desta vez. Quem apostar no contrário vai errar.

Veja São Paulo – Incomoda ser chamado de picolé de chuchu?

Alckmin – Sou admirador do José Simão (colunista da Folha de S.Paulo e criador do apelido). Eu o leio todo dia e me divirto. O bom humor permanente é uma das melhores provas de inteligência. Levo na esportiva. Não me sinto ofendido. Sou de uma nova política, que não é espetaculosa, discursiva. Uma outra geração.

Veja São Paulo – O senhor faz parte da organização católica ultraconservadora Opus Dei?

Alckmin – Não. Isso surgiu porque um tio meu, com quem morei quando vim fazer cursinho em São Paulo, era do Opus Dei. Não sou, mas, se fosse, diria.

Veja São Paulo – O senhor é religioso?

Alckmin – Sim, católico praticante.

Veja São Paulo – Assiste à missa em que paróquia?

Alckmin – Ia muito à capela de São Pedro e São Paulo, perto de casa, e na de Santo Antônio, no Caxingui. Agora, a cada domingo vou a uma diferente.

Veja São Paulo – Qual é seu santo de devoção?

Alckmin – São Francisco de Assis.

Veja São Paulo – Que tipo de imagem o senhor acha que tem hoje?

Alckmin – Eu? Devo ter muitos defeitos e gosto de trabalhar. Sempre estudei e trabalhei.

Veja São Paulo – Sophia se casou em 2007, o mesmo ano em que o senhor completou 55 anos. Ver os filhos sair de casa provocou alguma crise de meia-idade no senhor? E síndrome do ninho vazio?

Alckmin – A gente sente muita falta, tanto que quando a neta vai nos visitar é uma alegria. Dá uma vida enorme. A Lu é uma ótima companheira. Sempre digo que, depois de 29 anos de casamento, estou mais apaixonado.

Veja São Paulo – Dona Lu exerce alguma atividade atualmente?

Alckmin – É voluntária. Há trinta anos. Nunca foi nomeada para cargos públicos. Continua trabalhando no projeto das padarias artesanais, programa de geração de renda que criou sem um centavo do governo.

Veja São Paulo – O senhor teme que durante a campanha seja usado o episódio dos vestidos doados a ela pelo estilista Rogério Figueiredo?

Alckmin – A Lu, como eu disse, nunca recebeu um centavo do governo. Sempre trabalhou como voluntária. Acabou sendo até uma injustiça, que ganhou destaque em vez do trabalho voluntário. Acho que não deveria ter ocorrido. Mas que prejuízo houve? Ela recebeu alguns vestidos, disse de quem eram, em seguida os doou aos fundos sociais de solidariedade dos municípios. Fizeram desfiles de moda na região de Rio Preto, em Santa Fé do Sul e em vários municípios. Ela arrecadou dinheiro para várias entidades. Só ajudou. Tenho muito orgulho do trabalho da Lu.

Veja São Paulo – Ela doou todos?

Alckmin – Sim. Não tem mais nenhum.

Veja São Paulo – Qual foi o melhor prefeito que São Paulo já teve?

Alckmin – Se pegarmos os mais antigos, Prestes Maia e Faria Lima. Dos mais recentes, o doutor Olavo Setúbal e Mario Covas.

Veja São Paulo – E o pior?

Alckmin – Aprendi com meu pai: quando não puder falar bem, não diga nada.

Veja São Paulo – O que São Paulo tem de melhor?

Alckmin – Esse povo caloroso.

Veja São Paulo – E o que tem de pior?

Alckmin – O trânsito e a segurança.

Veja São Paulo – Que programa o faz sair de casa empolgado?

Alckmin – Gosto muito de caminhar.

Veja São Paulo – Vai ao cinema?

Alckmin – Vou. A cada quinze dias, mais ou menos. Adoro. Assisti ao filme que Marta Suplicy comentou na Vejinha (a comédia O Melhor Amigo da Noiva). Ela disse que não tinha gostado. Acho que tem razão. É bem fraquinho mesmo.

Veja São Paulo – E para ler, encontra tempo?

Alckmin – Leio mais revista e jornal. Li tudo que você imaginar de Monteiro Lobato, que era um gênio. Um visionário. Atualmente estou lendo O Presidente Negro. Imagine que foi escrito em 1926 e falava que os Estados Unidos teriam um presidente negro e a Ásia seria o motor do mundo. Outro grande livro é Curar, de David Servan-Schreiber, sobre a medicina das emoções.

Veja São Paulo – O senhor vai a restaurantes com freqüência?

Alckmin – Pouco. Tenho uma vida modesta. Não esbanjo dinheiro. Meu pai me ensinou que só gasta dinheiro fácil quem ganha dinheiro fácil. Vou à Lellis Trattoria, nos Jardins, e ao Paladar Real, de comida por quilo, no Itaim. Custa uns 10 reais, com refrigerante.

Veja São Paulo – O senhor é meio pão-duro, não?

Alckmin – Econômico. Raramente vou a restaurantes caros.

Veja São Paulo – E, quando sai para comer com o ex-presidente Fernando Henrique, como é que faz?

Alckmin – A última vez em que almoçamos juntos foi nos Estados Unidos. Ele é professor na Universidade Brown, em Rhode Island. Fomos eu, a Lu, a Sophia e uma amiga almoçar com ele. E pode registrar: ele pagou a conta. Um fato histórico!

Veja São Paulo – Como está sua saúde?

Alckmin – Boa. Faço acupuntura uma vez por semana, dou umas caminhadas e procuro almoçar, coisa que não vinha fazendo. Dou aula nos cursos de saúde sobre redução de stress, ansiedade e depressão.

Veja São Paulo – Qual é sua maior qualidade?

Alckmin – Valorizo muito o trabalho. É o que realiza o ser humano.

Veja São Paulo – E o maior defeito?

Alckmin – Vários, né? Às vezes, impaciência.

Veja São Paulo – Lê horóscopo?

Alckmin – Não. O que adoro desses cadernos culturais de jornal é sudoku. Faço toda noite. É bom para o cérebro. Durante a campanha presidencial, fui dormir em Quixadá, no Ceará, numa pousada meio retirada. Lá pela 1h30, já de pijama, vi que não tinha caneta. Eu me vesti, fui à portaria e acordei o funcionário para pedir uma. Sudoku vicia, viu?

Veja São Paulo – O que faz o senhor chorar?

Alckmin – Aquilo que mexe com o coração da gente. Por exemplo, quando sinto saudade do meu pai.

Veja São Paulo – Quando sua filha foi embora de casa o senhor chorou?

Alckmin – Não. Eu fiquei triste… Mas é inevitável. Os filhos crescem para voar.

Veja São Paulo – E quando perdeu a eleição?

Alckmin – Política nunca me faz chorar. Tenho absoluta serenidade para lidar com isso.

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