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4. Gesto de dom Pedro I premiou São Paulo como local de independência

Cena ganhou dimensões épicas no quadro de Pedro Américo, que preferiu representar o príncipe regente em traje de gala e sobre um cavalo

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h31 - Publicado em 22 out 2010, 21h47

O arrabalde do Ipiranga, ou Piranga, era uma região em que muito mato e algumas roças se estendiam às duas margens do riacho que lhe empresta o nome quando por ali passou o príncipe regente dom Pedro, no ano de 1822. Nada de mais: o príncipe vinha de Santos, e ia para São Paulo. Não tinha como não passar pelo local. Ocorreu então um episódio que, conhecido dos brasileiros tanto quanto o nascimento na manjedoura é conhecido dos cristãos, conferiu à passagem do personagem pelo lugar um significado central na história do Brasil. Emissários que estavam no encalço de dom Pedro entregaram-lhe ali correspondência de Lisboa que exigia sua volta a Portugal e o cumprimento das resoluções que devolviam ao Brasil o estatuto colonial, abalado desde a vinda de seu pai, dom João VI, catorze anos antes, e a instalação da corte no Rio de Janeiro. Entre uma dor de barriga e outra, atormentado por uma crise intestinal, dom Pedro proclamou a independência do Brasil.

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O acaso premiou São Paulo como o local da independência do país. Foi uma grande honra para a cidadezinha de serra acima. O gesto de dom Pedro, que vinha extenuado, vestido simplesmente, e que cavalgava uma mula, o animal mais apropriado para a subida da serra, ganhou dimensões épicas no quadro de Pedro Américo, que preferiu representá-lo em traje de gala e sobre um cavalo. E o nome Ipiranga passou a ser citado pelos brasileiros ainda criancinhas, a partir do momento em que o poeta Osório Duque Estrada o incluiu no primeiro verso do ‘Hino Nacional’.

Dom Pedro veio a São Paulo para debelar uma crise política que ameaçava os partidários do principal de seus ministros, o santista José Bonifácio de Andrada e Silva, no governo provincial. Chegou à cidade em 25 de agosto, depois de onze dias de viagem e muitas paradas pelo Vale do Paraíba. No dia 5 de setembro, viajou para Santos, com a missão de inspecionar os fortes à beira-mar e visitar os parentes de José Bonifácio. No dia 7, voltou a São Paulo, e às 4 da tarde estava no Ipiranga para seu grande encontro com a história. À noite houve comemoração no modesto Teatro de Ópera, o único da cidade, com discursos, leitura de poemas (“Será logo o Brasil mais do que Roma / Sendo Pedro seu primeiro imperador”, dizia um deles) e execução do ‘Hino da Independência’, composto e executado pelo próprio príncipe. O Teatro de Ópera ficava no Pátio do Colégio, a dois passos da igreja dos jesuítas, no local em que, 268 anos, sete meses e treze dias antes, se dera o evento tido como fundador da cidade. A um simbolismo se juntava outro, sobre o mesmo solo.

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É um espanto que dom Pedro só tivesse 23 anos nessa jornada. Impetuoso na ação política como na vida amorosa, sua curta passagem por São Paulo rendeu-lhe, além da criação de um país, uma segunda façanha: a conquista da mais célebre de suas muitas amantes, Domitila de Castro Canto e Melo, a quem conferiria o título de marquesa de Santos, e que entraria para a história como a madame de Pompadour brasileira, tão descaradamente frequentadora do leito imperial, e tão influente nos bastidores da corte, quanto fora a francesa junto ao rei Luís XV. Não bastasse o fato de a cidade lhe ter servido de palco para o gesto da independência, a paulistana Domitila proporcionava-lhe um segundo elo com São Paulo. Não surpreende que, no ano seguinte, contemplasse a cidade com o título de “imperial”. “Imperial Cidade de São Paulo” era como garbosamente poderia se apresentar desde então.

Em 1827, por lei de dom Pedro I, São Paulo seria escolhida, com Olinda, para sediar uma das duas primeiras academias de direito do país. Não por constituir-se num centro importante, mas, ao contrário, por ser um lugar pacato, com condições consideradas ideais para a concentração dos estudantes nos estudos. A inspiração era a portuguesa Coimbra. Pelas décadas seguintes, a cidade cumpriria o destino de centro estudantil. Continuava a manter os ares sossegados. A proclamação da independência em seu território conferiu-lhe uma precoce centralidade na história nacional, desproporcional à pequena população e precária projeção econômica.

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