Varandas: ambiente vira segunda sala de estar
Paulistanos fazem de sacadas com mais de 25 metros área de convívio em apartamentos
A arquiteta Mariana Caram toma café-da-manhã com seu marido, o engenheiro Cesario, enquanto observa os pássaros que sobrevoam as árvores do Parque da Água Branca. Em volta da mesa, o filho de 1 ano do casal, Cesarinho, brinca embalado pelo violão de sua irmã, a cantora Bruna. A cena repete-se quase todos os domingos na varanda do apartamento da família, em Perdizes. “Adoramos nos reunir aqui”, diz Mariana. “Quando chamamos os amigos, fazemos sessões de chorinho.” Como os Caram, muitos paulistanos passaram a usar a varanda como uma extensão da sala de estar. A mudança ocorreu principalmente por causa do crescimento da área útil desse ambiente. Se há cinco anos as sacadas de apartamentos com até 150 metros quadrados tinham, no máximo, 15 metros quadrados, hoje medem o dobro. Em imóveis com mais de 250 metros quadrados, a proporção tornou-se ainda maior. É o caso de um lançamento da Tecnisa, na Pompéia, previsto para 2008. Dos 294 metros quadrados da unidade do 1º andar, 190 são de varanda. Custa 430 000 reais. “O terraço caiu no gosto das pessoas e, especialmente nos últimos dois anos, se transformou em âncora de venda”, afirma o especialista em mercado imobiliário Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). “Isso vale tanto para unidades de alto padrão quanto para as de classe média.” A tendência, antiga no Rio de Janeiro e no Nordeste, atende ao desejo dos paulistanos de se sentir menos presos dentro do apartamento. “É fruto de uma busca por ar livre e maior contato com a natureza”, acredita Arnaldo Martino, presidente da seção paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Alguns compradores que saíram de suas casas atrás da sensação de segurança proporcionada pelos edifícios querem continuar cuidando de plantas e chamando os amigos para um churrasco. “De janeiro de 2006 até agora lançamos oito empreendimentos, todos com terraços grandes e apenas um sem churrasqueira”, afirma Roberto Perroni, diretor da construtora Camargo Corrêa. Uma das novidades da empresa é um prédio no Jardim Sul, prometido para 2010. Na unidade de 195 metros quadrados, com preço médio de 570 000 reais, a varanda de 33 metros quadrados está integrada tanto à sala quanto à cozinha. “Não vou ver meu marido passar com a tábua de carne pingando no tapete”, diz a fisioterapeuta Cristiane Oliveira, uma das compradoras. A mudança no tamanho das varandas influenciou na decoração do ambiente. Sofás e poltronas de fibra tomaram o lugar daquelas velhas, feiosas e desconfortáveis cadeiras de plástico. Há quem instale fogão embutido, forno de pizza, adega e esteira ergométrica no espaço. “Os terraços se confundem com a sala”, conta a arquiteta Débora Aguiar, que decorou 32 apartamentos-modelo no último ano. “Gosto de usar o mesmo piso nos dois ambientes.” Ela costuma fechar a sacada com vidro. Assim, nem a chuva atrapalha o café-da-manhã, o churrasco ou a ginástica quase que ao ar livre.