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Valmir Fernandes, da rede Cinemark

Presidente da rede é o responsável por trazer à cidade a platéia em formato stadium, o som digital... Ele modernizou o cinema em São Paulo

Por Alessandro Duarte
Atualizado em 5 dez 2016, 10h20 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

A executiva Meissa Negrelli reclama sempre que assiste a algum filme na rede Cinemark. Não que ache a projeção ruim ou se incomode com o barulho dos saquinhos de pipoca dos vizinhos. Noiva do presidente da cadeia americana no Brasil, Valmir Fernandes, Meissa diz que costuma ser abandonada no escurinho para que ele resolva problemas da empresa. “Certa vez, estávamos vendo Penetras Bons de Bico e o Valmir falou que precisava ir ao banheiro”, conta. “Protestei, claro, mas ele garantiu que não iria trabalhar. Na saída, o gerente chamou a gente de lado e entregou: ‘Pode ficar tranqüilo, já providenciei tudo o que o senhor pediu’.” Faz dez anos que Fernandes, paulista de São Caetano do Sul e morador dos Jardins, não consegue relaxar quando está de frente para a telona. Formado em engenharia química, ele largou a carreira de consultor em 1996 para revolucionar o mundo das salas escuras da cidade. Na primeira metade da década de 90, os cinemas paulistanos estavam, por assim dizer, com o filme queimado. As platéias viviam vazias, muitas salas tradicionais caíam aos pedaços e os grandes espaços eram vendidos um atrás do outro. Foi quando a Cinemark, a terceira maior exibidora dos Estados Unidos, chamou Fernandes para comandar a operação brasileira. “Era uma época em que várias salas estavam sendo transformadas em igrejas evangélicas”, lembra. “Eu brincava que, se o negócio de cinema não desse certo, eu viraria pastor.” A Cinemark foi a principal responsável por trazer o conceito multiplex, em que um conjunto de salas de exibição com bilheteria centralizada divide a área de espera, banheiros e lanchonete. Também investiu em equipamentos de ponta (como som digital e telas maiores do que aquelas às quais estávamos habituados), poltronas espaçosas e platéias em formato stadium (tipo arquibancada). Hoje, a situação dos cinemas paulistanos é muito melhor que uma década atrás, apesar de sempre se encontrar quem lamente o desaparecimento de cineclubes como o Elétrico, a morte dos cinemões do centro ou o fechamento dos elegantes Astor e Liberty, na Avenida Paulista. Em 1996 os paulistanos se divertiam com blockbusters como Twister, Independence Day e Missão Impossível em 113 salas de exibição comerciais. Atualmente são 240, mais que o dobro. Além do número, mudou a localização. A concentração nos shoppings, que há dez anos já era grande – eles contavam com 68 salas, contra treze no centro da cidade –, se intensificou. Agora 203 salas estão em shoppings, e restou apenas uma no centro. “A entrada de capital estrangeiro fez o mercado acordar”, diz Adhemar de Oliveira, um dos sócios do Grupo Espaço, que reúne o Espaço Unibanco, o Unibanco Arteplex e o Morumbi, entre outros. “Havia um campo enorme para o cinema crescer e se modernizar no Brasil, mas ninguém tinha dinheiro para isso.” Foi justamente essa injeção de capital que transformou a Cinemark na maior exibidora do país. Somente na cidade de São Paulo, ela conta com 106 salas, 44% do total. É mais do que têm seus quatro concorrentes diretos somados (veja quadro). Para os próximos três anos, a rede planeja abrir mais 34 salas – num ritmo de quase uma por mês. O primeiro complexo será no Eldorado e deve ficar pronto no fim de novembro. Os outros serão nos shoppings Tatuapé 2, Paulista, Pátio Higienópolis, West Plaza e Cidade Jardim (em construção), além do empreendimento que o apresentador Silvio Santos pretende erguer no bairro da Bela Vista. Para os demais exibidores, acompanhar essa corrida é uma tarefa mais complicada do que ver filme iraniano sem legenda. “A UCI tem uma política que privilegia a qualidade, e não a quantidade”, afirma Carlos Marin, diretor executivo da UCI Brasil, dona de dois complexos, no Shopping Jardim Sul e no Anália Franco. “Tentamos nos diferenciar pelo serviço, que é mais personalizado”, diz Otelo Bettin Coltro, vice-presidente executivo do grupo nacional Playarte. “É impossível competir em velocidade com uma rede estrangeira, que dispõe de recursos a juros muito mais baixos que os nossos.” Mas como um engenheiro químico, hoje com 45 anos e pai de uma filha de 11 do primeiro casamento, foi parar na presidência de uma exibidora de cinema que só no ano passado faturou 300 milhões de reais? Fernandes foi apresentado aos representantes do grupo americano por um conhecido comum. Quando recebeu o convite, estranhou a idéia de abandonar as conversas sobre polietilenos e propenos para tratar das novidades acerca de Julia Roberts, Tom Cruise e Uma Thurman. “Falaram que era ótimo eu nunca ter me envolvido com cinema”, afirma. “Para os americanos, tudo o que se fazia no Brasil até então estava errado.” Antes de abrir seu primeiro multiplex, em São José dos Campos, em 1997, Fernandes reuniu mais cinco funcionários e foi participar de um treinamento em Dallas, no Texas, cidade em que a Cinemark está sediada. Todos os seis trabalharam durante quatro meses em complexos da rede, nas mais diferentes funções. “Lembro de um dia em que estava encarregado de servir pipoca e, como não tinha muito serviço, me encostei no balcão”, conta. “Tomei uma bronca da gerente, pois aquela não era uma postura adequada. “Aos poucos, Fernandes deixou de lado o receio com a nova empreitada. Além de não conseguir assistir a filmes sem arrumar serviço, ele é do tipo que supervisiona obras e dá palpites em tudo. “Já enviei um e-mail ao Valmir e recebi a resposta de madrugada”, diz a cineasta Carla Camurati, que organiza em parceria com a Cinemark o Festival Internacional de Cinema Infantil. Segundo ela, o fato de não ter vindo do meio o ajuda em alguns momentos: “Ele tem uma visão mais prática e menos emocional do cinema”. Além de comandar a Cinemark, Fernandes é presidente da Abraplex, associação que congrega os cinemas multiplex no Brasil, e vice-presidente da Associação Brasileira dos Exibidores de Cinema (Abracine). Como representante de classe, suas maiores queixas são a meia-entrada para estudante (“Com a quantidade de carteirinhas falsificadas que há por aí, temos de aumentar o preço dos ingressos normais para não tomar prejuízo”) e a pirataria (“É um absurdo que na frente do cinema tenha gente vendendo DVDs de filmes em cartaz por 5 reais e ninguém faça nada”). Umas cinco vezes por ano, Valmir Fernandes vai aos Estados Unidos para participar de reuniões com seus chefões americanos. Mas as viagens que mais gosta de fazer são aquelas a convite de estúdios e distribuidoras para acompanhar filmagens e lançamentos que podem ocupar diversas de suas salas. Já viu James Bond em ação de pertinho, foi à avant-première de Pearl Harbor em um porta-aviões no Oceano Pacífico e em abril estava em Vancouver, no Canadá, dentro do set de filmagens de Uma Noite no Museu, fita estrelada por Ben Stiller com estréia prevista por aqui em janeiro. “Quando, trabalhando como engenheiro químico, eu teria oportunidades como essas?” Que ninguém reclame do cheiro de pipoca amanteigada perto de Valmir Fernandes. Para ele, quase tão importante quanto escolher o filme que vai entrar em cartaz – e quanto tempo ele ficará em exibição – é manter os saquinhos dos espectadores sempre cheios nos complexos da Cinemark. É da bonbonnière que saem até 25% do faturamento da rede – e, ainda por cima, a renda auferida com pipoca, refrigerante e afins não precisa ser dividida com distribuidores. “Entre 30% e 40% do nosso lucro, dependendo do complexo, vem da venda de guloseimas”, afirma Fernandes. Os funcionários são treinados no melhor estilo McDonald’s: atendimento rápido e eficiente, com a missão de sempre oferecer a porção mega, maior e mais cara, e só depois as menores e mais baratas. Os números são de arrasar quarteirão. Todos os meses, 560 000 pacotes de pipoca e 630 000 copos de refrigerante são vendidos na rede em São Paulo. E há muito tempo pipoca deixou de ser um tira-gosto de preço baixo. No Villa-Lobos, o saquinho pequeno custa 5,25 reais e a tal porção mega – um balde com 3 litros que pode ser reabastecido quantas vezes o cliente quiser durante a sessão – é vendida a 10,50 reais. Simulação de um filme no sistema Imax (no alto) e poltronas no estilo das usadas nas salas vip nos Estados Unidos e México: os cinemas paulistanos em um novo patamar. Duas boas notícias prometem mexer com os cinéfilos paulistanos. Para os que toparem pagar um ingresso mais caro e assistir aos filmes cercados por mimos, a Cinemark vai trazer à cidade uma luxuosa inovação: as salas vip. Em funcionamento nos Estados Unidos e no México, elas contam com poltronas de couro que lembram as da classe executiva dos aviões, serviço de bar com garçons e elevador exclusivo direto do estacionamento com manobristas. As entradas podem ser compradas com antecedência para a poltrona escolhida – assim como acontece hoje no Iguatemi. Três dessas salas vip devem ser inauguradas em dois anos, com a expansão do Shopping Paulista. Depois, serão levadas para mais dois centros de compras do grupo Victor Malzoni, o Pátio Higienópolis e o West Plaza. Outra novidade é a chegada do sistema Imax. Presente em 38 países, o cinema com tela ligeiramente curva de 25 metros de altura (contra 8 metros da de uma sala convencional) dá ao espectador a impressão de estar dentro do filme. Alguns dos títulos em cartaz contam com tecnologia 3D. A sala, cuja inauguração está prevista para setembro de 2007, será construída dentro do Shopping Bourbon Pompéia, ao lado do Parque Antarctica, a um custo estimado de 3 milhões de reais. Uma das características do Imax é sua programação, que mescla campeões de bilheterias adaptados para a tela gigante com documentários educativos de cinqüenta minutos. “O período da manhã é reservado a grupos de escolares, e o fim da tarde e a noite, para o espectador comum”, diz Adhemar de Oliveira, do grupo Espaço, responsável pelo projeto.

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