USP ameaça fechar canil
Com mais de 100 animais, reitoria quer fechar estabelecimento mantido por voluntários
Foi uma barulhada só. De um lado, uma centena de protetores dos animais. Do outro, o coordenador do câmpus da Universidade de São Paulo, Antonio Marcos Massola, e o diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, José Antônio Visintin. Em questão, 110 cães sem dono de um abrigo localizado na Coordenadoria do Campus da Capital (Cocesp). Aberto em 2004, o canil amanheceu no último dia 26 com uma placa que informava sua desativação. Preocupados, defensores dos bichos começaram a se mobilizar. Na sexta (30), realizaram uma passeata pelas ruas da Cidade Universitária: com alguns totós na coleira, de rabinho abanando, mais de 100 pessoas caminharam rumo à reitoria. Chamaram pelo reitor aos uivos, deram um abraço simbólico no prédio da administração e — acredite — entoaram o Hino Nacional latindo.
Em comunicado oficial, a assessoria da universidade respondeu que o canil não seria desativado imediatamente. “Trata-se de um problema de saúde pública”, afirma Visintin. Em parceria com a Cocesp, o diretor reivindica o controle do espaço, até então mantido por voluntários do grupo Patinhas Online. De 2007 para cá, os protetores contabilizam 900 esterilizações e 300 doações de animais. Eles também monitoram e alimentam os 100 cachorros que vivem inexplicavelmente soltos na USP, causando risco para seus frequentadores. “Precisamos botar ordem na casa”, diz Visintin. “Panela em que todo mundo põe a mão, ou você come cru ou se queima.” Para ele, é preciso promover uma campanha educacional que abordaria desde a orientação contra a soltura dos cães até a adoção.
Um projeto com esses objetivos, o USP Convive, já existe há nove anos. “A ideia do canil surgiu daí”, afirma o atual coordenador do programa, Tibor Rabóczkay, professor do Instituto de Química. Criado para combater o problema crescente de animais abandonados nos domínios da universidade, o canil acabou esvaziado ao longo do tempo. “Houve falta de interesse dos participantes.” Foi então que entraram os voluntários, responsáveis por arrecadar 2 000 reais mensais para cobrir as despesas com veterinário. A ração é doada pela USP. “Não queremos ser excluídos”, diz Rafael Splichal, do Patinhas Online. Os apaixonados pelos bichos temem que, nas mãos de outras pessoas, cachorros idosos e doentes acabem sacrificados. “Quem deve dar esse diagnóstico é o médico veterinário, e não o protetor”, rebate Visintin. Vêm mais latidos por aí.