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Primeiro DJ do Brasil celebra 55 anos de carreira

Durante o fim da década de 1950 e início de 1960, Seu Osvaldo, a "Orquestra Invisível", animava bailes do centro

Por Juliene Moretti
Atualizado em 5 dez 2016, 16h09 - Publicado em 12 abr 2013, 14h09

De terno e gravata, o mineiro Seu Osvaldo até hoje não consegue sair do lado dos pick-ups. E é tocando que, aos 79 anos, aquele que é considerado o primeiro DJ do Brasil celebra, este ano, 55 anos de carreira.

O mineiro Osvaldo Tadeu Pereira veio para São Paulo ainda criança e ganhou fama na noite paulistana em 1958, quando fez um arranjo com duas vitrolas e um mixer. Foi chamado para usar aquela invenção para animar bailes nos quais os produtores não tinham dinheiro suficiente para arcar com as big bands e osquestras da época. “Eu e meu amigo nos escondemos atrás de uma cortina com as vitrolas e aos poucos abrimos e o pessoal descobriu que se tratava de duas pessoas apenas”, conta. Surgiu ali a Orquestra Invisível, nome que Osvaldo adotou como sua atração.

Naquele ano, ele trabalhava em uma loja de conserto de aparelhos de som importados e discos.”Eu tinha facilidade com a importação porque os clientes do meu patrão – o armênio Sharom – eram, em sua maioria, pessoas do Jardins, com alto poder aquisitivo e que viajavam muito”, diz. Além de ter acesso a peças de última geração, ele também conseguia comprar muitos vinis de fora.

Piquenique rave

O início da curta carreira começou com as festinhas de casamento e aniversário do bairro. Até que passou a se apresentar em piqueniques em Guarulhos e Guarujá, que nada tinham a ver com reuniões em parques, com toalhas coloridas e cestinhas com sanduíches. “Os piqueniques eram as raves da época. Todo mundo passava o dia inteiro dançando”, explica. Numa dessas festas, Seu Osvaldo foi chamado para comandar os toca-discos de uma domingueira, no Clube 220, que ficava em um andar do Edifício Martinelli, no centro, das 18h à meia noite.

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Ele era o responsável por toda a estrutura do som, incluindo as disposições das caixas nos salões. Outro produtor o convocou para os bailes de madrugada na Avenida Rio Branco. “Não tinha festa no centro de São Paulo”, conta. “Tinha barzinhos e os taxi dancing – onde as mulheres pagavam para dançar com o par. Mas não os bailes, que se assemelham às baladas de hoje em dia”, diz.

De lá, os bailes começaram a se espalhar por Santa Cecília, República, Campos Elíseos… Coincidência ou não, áreas que vem sendo exploradas pelas novas ocupações artísticas da cidade. “Era um evento. As mulheres estavam sempre impecáveis e os cavalheiros muito bem cuidados. Sequer bebiam. O cheiro do álcool podia espantar a pretendente”, conta Seu Osvaldo. E existia o cuidado com as damas. “Quando iam dançar e a senhora estava com vestido claro, o homem colocava um lencinho nas mãos, para não sujar o vestido”, lembra.

Seu Osvaldo ainda sente saudades dos anos que trabalhou a noite. “Era mais um bico. Continuava com o meu trabalho na loja e até usava as facilidades para conhecer ainda mais equipamentos e ter acesso a mais discos”, lembra. Entre os hits obrigatórios nas pistas de dança estavam Jamelão e Elza Soares. “E não podia faltar Ray Coniff”, diz, além de chachachá, bolero e rumba. 

Desde aquela época, preferia o soul, mas – e aí vai uma dica do veterano aos principiantes – nunca deixou seu gosto influenciar no set list. “Conheceça o seu público e selecione o que acredita que eles vão gostar. Se niguém estiver dançando, troque o disco.”

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Trilha do flerte

Para ele, a parte mais difícil era o início da balada, quando as pessoas ainda estavam chegando. “Eu fazia assim: começava com músicas bem agitadas e só de madrugada colocava aquelas mais calmas, quando o cavalheiro já estava de olho em uma dama”, conta. Não raro, recebia drinques dos clientes porque repetiu uma música a qual um rapaz queria dançar com a moça que estava flertando. 

Por dez anos, Seu Osvaldo se dividia entre o trabalho, a família e as noitadas (são cinco filhos do primeiro casamento e dois enteados do segundo). Parou porque o emprego seguinte exigia maior dedicação. Ele garante que as esposas não tinham ciúmes e que, mesmo varando noites animando bailes, tinha um comportamento exemplar. “A primeira até chegou a me acompanhar. Confiavam em mim”, conta.

E em vez das várias sobreposições de faixas e mash-ups de hoje, o precursor dos DJs lembra de ter sofrido críticas quando “inovou” ao fazer a transição entre uma faixa e outra sem intervalo. “O público não gostou”, recorda. “Aqueles segundos de troca de música era o tempo suficiente para o cavalheiro escolher outra dama para dançar.” Nunca mais deixou isso acontecer. “A minha alegria era ver as pessoas se divertindo. E como se divertiam.”

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