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Sesc: um mundo de arte, esporte e lazer

Com onze unidades na capital, iniciativa faz sessenta anos e se firma como maior produtor cultural da cidade

Por Isabela Barros e Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 10h20 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

Todos os meses, cerca de 670.000 pessoas circulam pelas onze unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc) na capital. É uma multidão que poderia lotar oito vezes o Estádio do Morumbi. Toda essa gente está interessada em fazer ginástica, nadar, levar os filhos para ouvir histórias ou participar dos seus mais de 700 eventos, como shows, sessões de cinema, peças de teatro e apresentações de dança. Maior produtor cultural da cidade, o Sesc faz parte da programação e da paisagem de São Paulo há quase sessenta anos, a serem completados na próxima quarta (13). A arquitetura arrojada de algumas de suas unidades mudou a cara de bairros. Na Pompéia, desde 1982, é impossível não notar a construção projetada pela italiana Lina Bo Bardi, arquiteta do Masp e seu imenso vão livre, que transformou uma antiga fábrica de tambores em centro de artes e lazer. Na Vila Mariana, os dois prédios (cada um com dez andares) são unidos por duas chamativas passarelas de aço. O gordo orçamento da rede, cerca de 156 milhões de reais por ano, é distribuído entre todas as unidades, da mais antiga (Carmo, construída em 1960) à mais nova (Santana, erguida no ano passado). Tamanha força está ligada ao crescimento do varejo em São Paulo, que na década de 70 começou a tirar da indústria o título de principal atividade econômica da cidade. O Sesc é sustentado pelos empresários dos setores de comércio e serviço, que são obrigados por lei a lhe destinar 1,5% de suas folhas de pagamento. Fundado em setembro de 1946, um ano depois que um grupo de empreendedores se reuniu numa conferência em Teresópolis, no Rio de Janeiro, o Sesc nasceu com a idéia de oferecer lazer e bem-estar aos comerciários – visando também a motivá-los e assim aumentar sua produtividade. Em 30 de outubro, uma sala no prédio da Associação Comercial de São Paulo, na Rua Boa Vista, virou sede da entidade. O primeiro complexo voltado ao entretenimento de seus freqüentadores, nos moldes de outros que existem hoje, foi aberto em 1948. As regras sempre foram as mesmas: qualquer pessoa pode usar as instalações do Sesc, mas comerciários e empregados do setor de serviços têm prioridade e pagam taxas menores. Para comemorar os sessenta anos do Sesc, sua agenda de eventos está mais turbinada do que nunca. Serão dois meses de programação, que começa na quinta (14). Entre as mais de sessenta atrações previstas estão um show inédito de Caetano Veloso com o filho, Moreno, e a apresentação das coreografias Dom Quixote e Covariance, do israelense Niv Sheinfeld. Os palcos do Sesc sempre fizeram história. Até hoje, peças como Macunaíma (1978), Romeu e Julieta (1984) e Paraíso Zona Norte (1989) são lembradas como marcos do Centro de Pesquisa Teatral (CPT), comandado pelo diretor Antunes Filho e sediado na unidade da Consolação. O mais famoso entre os 2.218 funcionários do Sesc na capital, Antunes revelou talentos como os atores Luís Melo e Giulia Gam. “O Sesc sempre me deu total liberdade de criação”, diz. “Para mim, ele é o verdadeiro Ministério da Cultura.” Não menos agitado, o ótimo teatro do Vila Mariana, um dos melhores da cidade, já recebeu espetáculos que ficaram na memória do público, como Rei Lear, com Raul Cortez, visto por 24.000 pessoas em 2000. Criado em 1999, no Pompéia, o projeto Prata da Casa realiza, todas as terças-feiras, shows com artistas desconhecidos, selecionados entre aqueles que enviam seus CDs para lá. O programa apostou em nomes que depois se tornariam famosos, como Vanessa da Mata e Fernanda Porto. Naturalmente, cada unidade ganhou um perfil ao longo dos anos. Em Interlagos, famílias e atletas de fim de semana só querem saber de descansar e curtir a paisagem verde que se estende por 500.000 metros quadrados. Como se não bastassem as árvores (mais de 40.000), um braço da Represa Billings que passa por ali completa o clima de campo. Pertinho do Parque da Independência, a filial do Ipiranga mantém o ar bucólico mais perto do centro, com seu quintal, muito agradável para ler e fazer ginástica em dias de sol. O Pompéia, além de um teatro para lá de desconfortável (obra também da arquiteta Lina Bo Bardi, que dava uma no cravo e outra na ferradura), ficou famoso pela agitada choperia, com capacidade para 800 pessoas. Já o orgulho da unidade de Pinheiros é o seu teatro de 1 010 lugares, o maior da rede. Nos próximos quatro anos, os paulistanos devem ganhar duas novas unidades: uma na Rua Aldino Bueno, no Bom Retiro, e a outra na Rua 24 de Maio, no centro. “Queremos levar o Sesc para o maior número possível de bairros”, diz Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). No Bom Retiro, serão investidos 30 milhões de reais para erguer uma sede com teatro e área para exposições. As obras devem terminar no segundo semestre do ano que vem. O Sesc da 24 de Maio vai ocupar o antigo prédio da Mesbla, que terá sua estrutura interna refeita para receber uma piscina, uma praça e um teatro, entre outras instalações. Com projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, deve abrir suas portas em 2010 ao custo de 40 milhões de reais. As duas construções serão tocadas paralelamente às reformas das filiais Avenida Paulista, Santo Amaro (que funciona agora de forma provisória numa casa alugada na Avenida Adolfo Pinheiro) e Belenzinho, que ganhará um prédio novo. Cada Sesc que abre é um acontecimento e tanto para a vizinhança e sua área de influência, com impacto comparável ao de um novo shopping center. “Um Sesc serve como âncora de venda para os edifícios ao redor”, explica Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp). “Vira uma área de lazer para os moradores.” Freqüentador do Sesc Pompéia há mais de vinte anos, onde costuma almoçar, o viúvo Nelson Lopes, 83, não perde as partidas de xadrez ali disputadas durante todo o dia. “Os homens ficam de um lado e as mulheres do outro”, diz Lopes. “Mas todo mundo se paquera de longe.” As irmãs Marina, 16 anos, Amanda, 14, e Natália Brabo, 10, não tinham muitas opções de passeios quando iam visitar a avó, em Santana. Desde que uma filial do Sesc foi aberta na Avenida Luiz Dumont Villares, há pouco menos de um ano, as três a elegeram como programa predileto para os fins de tarde. “Virou um ponto de encontro para a nossa turma”, diz Marina. “A programação não é escrava do sucesso comercial”, diz Zuza Homem de Mello, produtor e crítico de música. “Estar no Sesc é como receber um selo de qualidade.” A identidade construída pelo Sesc ganhou força a partir de 1984, ano em que Abram Szajman escolheu o sociólogo e filósofo Danilo Santos de Miranda como diretor regional para São Paulo. Das onze unidades em funcionamento na capital, seis foram abertas sob o seu comando. “Apenas dei um foco mais claro ao objetivo da instituição, que é promover o bem-estar e a cultura”, afirma Miranda. Figurinha fácil nos prédios da rede, com sua barba grisalha, Miranda conta que costumava ir ao Sesc muito antes de se tornar diretor. Nadava no Consolação e levava as duas filhas, hoje adultas, para brincar no Interlagos. Atualmente, ele vai a pelo menos quatro eventos do Sesc por semana. Ele e milhares de paulistanos, em busca de opções criativas, atraentes e acessíveis de lazer.

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