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Sacoleiras angolanas: compras de 100 000 reais nas boutiques paulistanas

Comerciantes da Angola se transformam nas novas queridinhas das butiques de Moema e do Itaim Bibi

Por João Batista Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

O passaporte da angolana Vanda Silva tem mais de trinta carimbos de entrada no Brasil. Isso porque desde 2002, ano em que seu país saiu da guerra civil que havia durado três décadas, ela vem a São Paulo comprar roupas, acessórios e bijuterias para abastecer as duas lojas das quais é sócia. Ao contrário de suas 2 000 conterrâneas que, estima-se, aquecem diariamente o comércio popular do Brás e do Bom Retiro, ela integra um grupo seleto que faz a alegria de lojistas de Moema e do Itaim Bibi. “Minhas clientes, pequenas lojistas que vendem para advogadas, médicas e universitárias, não se importam em pagar caro por produtos da moda”, afirma Vanda. Para satisfazer o gosto de suas consumidoras, muitas vezes inspirado no figurino das telenovelas brasileiras, investe 115 000 reais a cada viagem ao Brasil. “As encomendas da vez são as túnicas e pulseiras iguais às das personagens de Caminho das Índias”, diz ela, que costuma retornar ao seu país com 500 quilos de mercadorias nas malas – 470 a mais que o permitido pela Taag (Linhas Aéreas de Angola), única companhia que faz a rota direta entre Angola e Brasil, com saídas e chegadas no Rio de Janeiro. “Parte do meu dinheiro é reservado para as despesas com excesso de bagagem, que saem por 27 reais o quilo.” As outras empresas aéreas que trazem angolanos para o Brasil são a portuguesa TAP e a sul-africana SAA, via Lisboa e Johanesburgo, respectivamente.

Para não gastar a sola de suas sandálias em vão, as sacoleiras endinheiradas contratam os serviços de uma assessoria comercial. “Indico o cabeleireiro para fazer megahair, levo ao cinema e, claro, mostro onde ir às compras”, conta Silvania Chinelli, que passa catorze horas por dia ciceroneando clientes. A recompensa pela dedicação lhe rende 2 500 reais por sete dias de trabalho, fora a comissão que recebe de alguns comerciantes. Nas butiques, é comum as angolanas merecerem atenção exclusiva de até três vendedores de uma só vez. “Elas levam apenas os lançamentos e não compram sapatos repetidos”, diz Diovane Busin, vendedora da sapataria Jorge Alex. Repetição, aliás, é uma palavra que não faz parte do vocabulário delas. “Percorro as lojas de São Paulo inteira para voltar com peças iguais? Nem morta”, afirma a despachada Clélia Monteiro, proprietária de uma loja em Luanda, a capital angolana. “Isso seria um atestado de falta de criatividade, sem falar que minhas clientes ficariam ofendidas.” Nas suas prateleiras, os produtos adquiridos deste lado do Atlântico custam até o triplo.

Com a recente desvalorização do real ante o dólar, o poder de compra das sacoleiras aumentou e a expectativa dos lojistas é que elas desembarquem por aqui com ainda mais frequência. Mas nem tudo são negócios na viagem dessas mulheres, que se hospedam em flats da região da Paulista, passeiam no Parque do Ibirapuera e abastecem o próprio closet em grifes da Rua Oscar Freire e dos shoppings Iguatemi e Morumbi. “As polos da Lacoste e da Tommy Hilfiger saem 50% mais baratas do que em Luanda”, diz Vanda, que entre uma comprinha e outra aproveita para jantar no restaurante A Figueira Rubaiyat e tomar café na Galeria dos Pães.

As compradoras angolanas…

…passam de dez a quinze dias em São Paulo;

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levam nas malas entre 200 e 500 quilos de roupas, calçados e bijuterias;

gastam 27 reais por quilo excedido na bagagem;

colocam em seu roteiro de compras grifes como Jorge Alex, Levi’s, Shoestock, TNG e Zara

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