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Pagode da 27 atrai paulistanos de várias partes da metrópole

Tradicional roda de samba no Grajaú vira programa cult e revela novos talentos

Por Pedro Henrique Araújo
Atualizado em 1 jun 2017, 18h28 - Publicado em 12 ago 2011, 20h40

No fim das tardes de quase todos os domingos, a publicitária Paula Gabriel, de 31 anos, sai de sua casa, no Itaim, e faz em companhia de uma amiga uma pequena viagem de 20 quilômetros até a Zona Sul. Seu destino é a Rua Manuel Guilherme dos Reis, antiga Rua 27, uma via estreita do bairro do Grajaú que fica fechada com cavaletes nesses dias para a diversão de visitantes e moradores. Por lá acontece o chamado Pagode da 27, um tradicional encontro de sambistas da capital que ganhou nos últimos tempos status de programa cult. Por edição, aparecem por lá cerca de 300 pessoas para curtir a animada roda de músicos, especializados em tirar de violões e cavaquinhos clássicos de Bezerra da Silva, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Candeia e outros bambas do gênero. “Aqui não tem frescura, há muita gente interessante na calçada e a cerveja é vendida a um preço justo”, afirma Paula — em média, a bebida sai por 4,50 reais a garrafa.

Fundada no dia 26 de agosto de 2005 sem grandes pretensões, a roda de amigos foi juntando gente na base do boca a boca. Um ano depois, eles conseguiram autorização para fechar a rua no evento e, em seguida, criaram uma sede, onde ocorrem hoje aulas de iniciação musical para as crianças do bairro e arrecadação de mantimentos e agasalhos para o Centro de Promoção e Resgate a Cidadania Grajaú, instituição que cuida de mais de cinquenta crianças na região. “A gente fazia samba para tomar cerveja e bater papo com o pessoal, mas depois de um tempo surgiu a vontade de acrescentar algo”, afirma o banjoísta Ricardo Rabelo, um dos fundadores do pagode. Criado no mesmo pedaço, o rapper Criolo, que lançou neste ano o elogiado disco “Nó na Orelha”, é um dos compositores que levam seus versos para apresentar à plateia e um dos entusiastas da festa. “Tem muita gente talentosa por aquelas bandas”, afirma.

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Embora o domingo seja um dia sagrado para o futebol, as partidas do Campeonato Brasileiro atraem pouca atenção quando o som começa a esquentar por ali. A maioria nem liga para o jogo que passa na grande TV do Bar do Careca, o ponto de encontro dos músicos. No lugar dos dribles e gols, eles estão atentos aos novos versos trazidos por compositores desconhecidos que frequentam o pagode. A glória suprema dos aspirantes é ter uma canção aprovada na roda. Para isso, é preciso levar dez cópias da letra, o tom em que a música será tocada e o gogó para defendê-la. Se ela passar num primeiro exame, na semana seguinte o autor precisará aparecer com outras cinquenta cópias e disposição para mostrá-la ao público. Há espaço de sobra para esses talentos emergentes. A cada dez partideiros cantados no Grajaú, apenas três são nomes consagrados. Em 2010, a nata das promessas gravou um CD independente batizado de “A Comunidade Chegou”. As 1.000 cópias foram vendidas rapidamente e há planos de lançar em breve um novo disco.

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Samba no Grajaú 2230 - Nenê Partideiro
Samba no Grajaú 2230 – Nenê Partideiro ()

Criador de mais de uma dezena dos sambas dominicais entoados naquele pedaço, Edson Matos Pires, de 39 anos, funciona como um faz-tudo do evento. É conhecido como Nenê Partideiro, Nenê da 27 ou o “pulmão da quebrada”. Seu dia começa cedo no domingo. Às 7h30 ele está de pé. Vai à casa dos pais, faz a feira e passa a toalha que será usada nas mesas do pagode. À 1 da tarde ele já está carregando equipamentos, desenrolando os cabos e estendendo a lona azul. Duas horas depois há um projeto de iniciação musical com as crianças do bairro e, em seguida, começa a chegar a rapaziada que vai animar o local. Pouco antes do início da noite, ele ataca o pandeiro e o ganzá com uma dúzia de companheiros. Por volta das 23h30 recolhe os instrumentos e os equipamentos e volta para sua casa, que fica ali perto, ainda sem almoço. “Eu vivo essa rotina há seis anos”, conta Nenê. “A família já se acostumou a não ter Dia das Mães, Dia dos Pais, Páscoa… O meu domingo é na 27”, afirma.

Roteiro da Cuíca

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Alguns dos melhores encontros de samba da capital

PAGODE DA 27

Onde: Rua Manuel Guilherme dos Reis, s/nº, Grajaú

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Quando: aos domingos, das 18h às 23h30

Quanto: grátis (aceita doações de alimentos e agasalhos no inverno)

SAMBA DO PEIXE

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Onde: Boteco do Timaia — Rua Coruqueamas, 367, Parque São Rafael

Quando: dia 24, das 20h às 23h30

Quanto: grátis (peixe na brasa, R$ 30,00).

SAMBA DA VELA

Onde: Casa de Cultura de Santo Amaro — Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes, 434, Santo Amaro

Quando: às segundas, das 20h30 à 0h

Quanto: grátis

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