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Roberto Costa: o coordenador da Fuvest

Conheça o professor de matemática que supervisiona cada uma das questões do maior vestibular do país

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h35

O sotaque típico do interior paulista – ele nasceu em Descalvado, a 223 quilômetros da capital – dá ritmo à fala tranqüila e bem articulada do professor de matemática Roberto Celso Fabrício Costa. Quem o vê conversando sem erguer a voz nem desconfia que se trata daquele que será responsável por tirar o sono de 142 656 estudantes na madrugada do próximo domingo (26). Atual consultor e coordenador da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), o maior e mais temido vestibular do país, Costa também passa noites em claro por causa da prova. Doutor em matemática pela universidade francesa de Montpellier II, ele supervisiona a elaboração de cada uma das questões da primeira e da segunda fase, a impressão e a correção do exame que seleciona alunos para as 10 482 vagas da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.

“Às vezes ele me liga de madrugada preocupado com a interpretação de uma alternativa”, conta a vice-diretora da Fuvest, Maria Thereza Fraga Rocco. “Quase sempre tem razão.” Além de Costa, só Maria Thereza conhece todo o conteúdo do caderno de perguntas. Da elaboração à correção das provas, o professor de matemática já participou de todas as etapas da Fuvest. Quando trabalhava para a extinta Mapofei, um dos exames ancestrais da USP, ele elaborou as questões de matemática do primeiro vestibular, em 1977. “Passamos dois dias trancados numa sala, mimeografando cada prova”, lembra. Costa foi diretor executivo da Fuvest por três mandatos consecutivos, de 1997 a 2003. Como não podia mais se reeleger, o conselho curador da fundação decidiu criar o cargo de consultor só para ele.

Costa orgulha-se do processo à prova de fraudes nos vestibulares de que participou. “Não houve um único caso de corrupção registrado até agora”, confirma o historiador e professor da USP Shozo Motoyama, que escreve os capítulos finais de um livro sobre a história do maior processo seletivo do Brasil. Os coordenadores fazem de tudo para não levantar suspeitas. Costa, por exemplo, licenciou-se do trabalho quando os filhos – um é arquiteto e o outro, piloto de avião – prestaram Fuvest. “Nenhum dos dois passou”, conta, com um misto de alívio e tristeza. “Fizeram faculdade particular, o que me deixa mais tranqüilo.” Aliás, nenhum dos filhos dos três atuais diretores da Fuvest conseguiu entrar na USP.

Nos últimos tempos, o exame vem se adaptando à evolução dos estudantes. “Os candidatos estão mais preparados hoje que há vinte anos, graças às informações da internet e aos cursinhos”, afirma. No dia 26, os alunos terão mais dois motivos para arrancar os cabelos. Das noventa questões da prova – até o ano passado eram 100 –, nove serão interdisciplinares. Ou seja, uma única pergunta pode abordar conceitos de duas ou mais matérias. E neste ano os egressos de escolas públicas largam com vantagem. Eles ganharão um bônus de 3% nas notas da primeira e da segunda fase. Desde 2002, o exame não passava por tamanha reviravolta. Apesar das mudanças, a recomendação de Costa para quem quer se dar bem nas provas que ele elabora continua sendo a mesma: estudar, estudar e estudar. “Mas sem perder os fins de semana nem deixar a vida de lado por causa disso”, diz.

O esquema contra fraudes

Acompanhe o caminho percorrido pelas provas da Fuvest, da elaboração à divulgação da nota final

1 ELABORAÇÃO

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Agosto (primeira fase) e novembro (segunda fase)

Para cada disciplina, há uma banca de três professores que elabora o dobro de questões necessárias para a prova. Essas questões são lidas por um revisor, que, junto com a coordenação, seleciona as melhores. Depois de definida a prova, ela é guardada num dos cofres do prédio da Fuvest

2 IMPRESSÃO

Novembro (primeira fase) e dezembro (segunda fase)

Há três anos, todas as provas são impressas dentro da Fuvest e consomem cerca de 7,5 milhões de folhas de papel sulfite. Isso garante o sigilo. Os cadernos são empacotados e as caixas são enviadas a um grande cofre secreto dentro da USP, cuja entrada é vigiada 24 horas pela Polícia Militar até o dia do exame

3 NOS DIAS DAS PROVAS

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Novembro (primeira fase) e janeiro (segunda fase)

Cerca de 9 000 pessoas, entre corretores, fiscais e policiais, são acionadas. Um responsável da Fuvest acompanha o carregamento dos veículos e o transporte das provas para as 113 escolas da capital e do interior, sempre escoltadas pela Polícia Militar. Nas salas, a busca por colas inclui até médicos, que vistoriam todo tipo de curativo. Na segunda fase, o número de profissionais e escolas é reduzido

4 CORREÇÃO

Cerca de cinco dias na primeira fase e quinze na segunda

Na primeira fase, um sensor de leitura óptica detecta as respostas corretas. Se algum quadradinho ficou em branco, o computador emite um aviso e só então a coordenação é acionada para avaliar. Na segunda fase, o processo é mais elaborado, já que se trata de provas dissertativas, com dez questões de cada matéria e uma redação. Cerca de 260 professores da USP trabalham oito horas por dia e ganham 3 000 reais pelo serviço

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