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Amor na era da internet chega aos consultórios psicológicos

Prints de conversas e ataques de esposas ciumentas são algumas das coisas que chegam para psicólogos em aplicativos de mensagem

Por Mariana Rosario Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 jan 2018, 11h39 - Publicado em 3 fev 2017, 18h29

Após doze meses de namoro, a estudante de publicidade Lidia Maria de Moura Gonçalves, de 20 anos, começou a se desentender com o namorado porque ele nunca a acompanhava a eventos sociais.

Ao contrário do que acontecia no início da relação, quando vivia se declarando pelo WhatsApp, o casal passou a usar o aplicativo para trocar impropérios. Essas brigas por torpedos costumavam ser mais acaloradas que as “DRs” presenciais.

Lidia chegou a encaminhar alguns textos dessas discussões virtuais, quase em tempo real, para o celular de sua psicóloga, pedindo uma opinião. “Ficava muito desesperada e cheia de dúvidas”, lembra. A situação chegou a um ponto insustentável, e o romance acabou em setembro.

Nesse caso, o ponto final ocorreu em uma conversa ao vivo entre os dois. A garota levou ainda um tempo para trocar o status de relacionamento no Facebook. Ele, por sua vez, apareceu na rede como solteiro alguns dias depois do rompimento.

“Fiquei surpresa com essa rapidez”, conta Lidia. Ao mesmo tempo que aproxima as pessoas e ajuda a formar novos pares amorosos, por meio de aplicativos como o Tinder, a tecnologia digital virou uma fonte de aflições e inseguranças em relacionamentos.

O que ela quis dizer com aquele emoji? Por que aquela perua vive curtindo as fotos do meu noivo? Essas e outras questões estão cada vez mais presentes nas sessões dos consultórios de psicologia da capital, segundo levantamento realizado por VEJA SÃO PAULO no fim do ano passado com vinte dos principais profissionais da área.

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As aflições paulistanas em relacionamentos na era das redes sociais Luiz Acácio Galeazzo Vareta,45 mudou todas as fechaduras depois de terminar um casamento (Foto Reinaldo Canato)
Luiz Acácio Galeazzo Vareta, 45, mudou todas as fechaduras depois de terminar um casamento
(Foto Reinaldo Canato) ()

Entre as reclamações mais frequentes estão a ausência de fotos do casal no perfil do parceiro, ciúme devido ao reaparecimento de antigos namorados na página do cônjuge e falta de respostas rápidas por mensagens instantâneas. “Eu escrevia para meu namorado no Facebook e ele me ignorava, mesmo estando on-line”, relembra a advogada Marcella de Carvalho, 23. Eles estavam juntos havia quatro anos.

A situação acabou gerando uma crise entre o casal. Resultado: terminaram de uma vez por falta de afinidade. “Com esse aparato tecnológico, as pessoas refletem menos antes de falar, o que abre espaço para mais conflitos”, entende Antonio Carlos Amador Pereira, professor de psicologia da PUC. Segundo Ernesto Duvidovich, diretor do Centro de Estudos Psicanalíticos, as facilidades também tornaram as relações mais volúveis. “Dá para contar nos dedos quem consegue ter um relacionamento duradouro que começa via aplicativos”, avalia.

Alguns desentendimentos viram caso de polícia. Exemplo disso foi o episódio envolvendo a assessora executiva Érica Barrientos e os empresários Felipe Cury e Enrico Celico em meados de 2016. Cury teve um caso com Érica e, depois de um tempo, passou a ignorá-la. Furiosa, ela mandou várias mensagens por WhatsApp cobrando explicações. Celico, amigo de Cury, tomou as dores do rapaz: pegou o celular dele e enviou insultos e ameaças à mulher.

Depois disso, Érica registrou em junho do ano passado um boletim de ocorrência no 78º DP de crime contra a honra. O caso está sendo investigado e Cury deve ser chamado para depor na semana que vem. O conteúdo de aplicativos e das redes sociais também foi parar em processos de divórcio.

“No ano passado, todos os casos de separação que acompanhei tinham algum trecho que falava sobre conduta na internet”, afirma Luiz Kignel, advogado especializado em direito de família. O publicitário Luiz Galeazzo Varetta, 45, terminou seu casamento em 2013, após um ano de união, porque a esposa era muito ciumenta, sobretudo por causa das postagens que ele recebia em seu perfil.

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“Cheguei até a desativar o Twitter para tentar melhorar a situação, mas não funcionou”, lamenta. “A comunicação on-line é um inferno para os ciumentos”, afirma Artur Scarpato, especialista em psicologia hospitalar do Hospital das Clínicas. “Já tive pacientes confessando ter colocado aplicativos que funcionam como ‘espiões’ no celular do companheiro.”

Existem casais que conseguiram contornar esses problemas, a exemplo da estudante de arquitetura Jaqueline Dias Saraiva, 20, e de seu noivo Rodrigo Araújo, 25, que estão juntos há dois anos. No começo do namoro, ela fiscalizava as redes sociais dele e chegou a deletar todas as amigas presentes no perfil do parceiro. “As coisas mudaram depois que a gente conversou e decidiu compartilhar as senhas”, conta Jaqueline. “Isso me deixou mais segura.”

A estudante de Direito Marcella (Foto: Leo Martins)
A estudante de Direito Marcella (Foto: Leo Martins) ()

AS DEZ MAIORES ANGÚSTIAS VIRTUAIS NO DIVÃ

PAQUERA

Tudo pelo Tinder
Desde que o aplicativo chegou ao Brasil, em 2013, muita gente passou a flertar apenas virtualmente; se um crush não dá certo, o sujeito já engata outro on-line.

Interpretação de emojis
Carinhas fofas do WhatsApp e frases no Messenger viraram motivo de paranoia. A pergunta-padrão é: “O que será que ele(a) quis dizer com isso?”.

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NAMORO/CASAMENTO

Posts de afeto
Uma das principais queixas, sobretudo entre os que estão começando um relacionamento, é o fato de o(a) parceiro(a) não publicar em seu perfil fotos dos dois juntos.

O fantasma do ex
É muito comum reencontrar amores antigos e virar “amigo” deles nas redes, o que tem gerado crises de ciúme no(a) namorado(a) ou no cônjuge e brigas entre o casal.

Não é nada do que eu pensava
Algumas pessoas iniciam um namoro virtual e mantêm esse status durante algumas semanas ou até meses. O problema é quando a história passa para a vida real: os dois começam a conviver
pessoalmente e surgem as diferenças.

Detetives do Facebook
Entre as armadilhas das relações está a de vigiar as postagens do(a) amado(a), de olho nos amigos que curtem com maior frequência, sobretudo os que dão Like nas fotos em que ele(a) aparece desacompanhado(a).

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Piadas infames
Nos grupos de WhatsApp sempre há o mais engraçadinho, que posta vídeos e fotos muitas vezes com conteúdo pornográfico. Isso tem sido motivo de discórdia entre os casais quando um dos dois se ofende ao flagrar essas imagens no celular do outro.

SEPARAÇÃO

O drama do status de relacionamento
Assumir no Facebook que se está solteiro novamente costuma ser um martírio, ainda mais se os outros amigos virtuais continuam casados e felizes.

Alfinetadas on-line
Algumas pessoas reclamam que começaram a receber indiretas do(a) ex por meio de posts provocativos. Fica um climão entre os conhecidos do ex-casal nas redes.

Novela mexicana
O amor acabou, mas a fiscalização nas redes, jamais! Há quem continue entrando diariamente na página do antigo affair e sofrendo horrores cada vez que ele(a) posta uma foto com a bola da vez.

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*Psicólogos consultados por VEJA SÃO PAULO: Ailton Amélio da Silva, Angela Guerreiro, Anita Maria Montone, Antonio Carlos Amador Pereira, Arnaldo Cheixas Dias, Artur Scarpato, Cleide Heloisa Partel, Cristiano Nabuco, Ernesto Duvidovich, Julio Peres, Katty Zúñiga, Letícia Marques, Marília Millam, Mariuza Pregnolato, Monique Fernandes, Priscila Rosemann, Reginandrea Gomes Vicente, Rita Calegari, Victor Mangabeira, Vera Zimmermann.

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