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Moradora de Pinheiros transforma sua casa em museu

Regina Pinho de Almeida é uma das maiores financiadoras de novos talentos das artes plásticas 

Por Julia Flamingo
Atualizado em 1 jun 2017, 16h34 - Publicado em 9 out 2015, 19h15

Para apreciar trabalhos de arte contemporânea, os paulistanos costumam dirigir-se a galerias ou museus. Regina Pinho de Almeida, de 54 anos, não precisa programar o GPS para nenhum lugar. Basta saltar da cama na casa cinematográfica de 1 000 metros quadrados no Alto de Pinheiros, onde está metade das 500 obras de sua impressionante coleção particular (as demais peças ficam acomodadas em um imóvel climatizado de 100 metros quadrados na Vila Madalena alugado só para esse fim).

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Pelos corredores, há surpresas a cada passo: uma escada em espiral no jardim que sobe até o nada, de autoria de Rubens Mano, uma falsa poça d’água de acrílico negro, assinada por Tatiana Blass, e uma poltrona de madeira que parece um conjunto de pixels da franco-brasileira Courtney Smith. Entre as peças mais valiosas estão a da portuguesa Joana Vasconcelos (215 000 reais) e a do mexicano Damián Ortega (270 000 reais).

“Sou compradora compulsiva de arte”, reconhece. O poder de Regina nesse meio, porém, vai muito além do museu particular. Ela vem se firmando como uma das mais importantes mecenas do país. Em 2014, foi a maior investidora física na área pela Lei Rouanet, com 750 000 reais — o triplo do que desembolsou José Olympio, presidente do banco Credit Suisse no Brasil, outro famoso patrono.

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Rodrigo Braga
Rodrigo Braga ()

O montante se somou a idênticos 750 000 reais de aporte direto (sem incentivo fiscal) no Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo), fundado por ela em 2009, que recebeu ainda 800 000 reais dos demais apoiadores, como o Itaú, no ano passado. O ICCo é uma instituição sem fins lucrativos que fomenta o trabalho de artistas por meio de captação de recursos, produção e curadoria, de exposições internacionais a publicações. 

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Entre os nomes estão figuras consagradas como Tunga e Rodrigo Braga. “Muitos investidores focam obras de gerações passadas, quando ela estimula o que está sendo produzido hoje”, diz Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc. As doações de Regina não se resumem ao instituto. Incluem 100 000 reais, em 2015, ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), do qual é conselheira, e 12 000 reais anuais para abastecer o acervo da Pinacoteca do Estado.

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Além disso, é conhecida por bancar jovens talentos, que seleciona com olho clínico e estimula tanto comprando suas obras como patrocinando seus estudos e projetos. “Seu grande diferencial é apostar em calouros, no momento em que ainda não são valorizados”, avalia Fernanda Feitosa, diretora da feira SP-Arte. O hoje badalado Nino Cais, de 46 anos, começou a receber apoio há dez anos, quando tinha pouca expressão. “Ela pagou passagem e estada na minha residência artística em Portugal. Até fiadora se tornou quando precisei alugar uma casa”, relembra.

Nino Cais
Nino Cais ()

A famosa generosida detem como efeito inevitável a fila de aspirantes e iniciados que recorrem a ela compedidos pessoais, como pagar prestações de apartamento. A mecenas comprou, por exemplo, três obras do ateliê de Fabio Miguez de uma só vez quando soube que ele estava adquirindo um imóvel.

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“Agora falo muitos nãos, para direcionar meus gastos ao ICCo”, afirma. Regina se iniciou nesse universo em 2005, ao se tornar sócia na galeria Virgílio, após receber uma fortuna com a venda de uma das fazendas de seu pai, o empresário Flávio de Almeida, que morreu quatro anos depois. Atualmente, ela vive da renda das plantações de cana-de-açúcar e café no Paraná e do investimento em ações. O apreço pelas artes plásticas é tradição de família.

Começou com seu avô Tácito, uma das mais importantes figuras da Semana de Are de 1922. O tio-avô Guilherme fundou a revista Klaxon, a mais emblemática da vanguarda modernista. Seu pai doava parte da renda como latifundiário e diretor da incorporadora Paulista S/A a projetos culturais. Formada em administração pela PUC, Regina logo fez jus ao DNA: passou a trabalhar no Sesc, aos 18 anos. Organizava mostras e outras ações e logo se enturmou com artistas como Tomie Ohtake e Mira Schendel.

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Agora em seu terceiro casamento, mora com os dois filhos (um de 29 anos e o outro de 16) e a golden retriever Bela, prontamente perdoada por quebrar uma namoradeira da artista Valeska Soares, no valor de 150 000 reais. “Gostava tanto que encomendei uma idêntica.” Mas o que motiva alguém a concentrar todo o tempo e dinheiro nesse propósito? “Eu sempre me pergunto o porquê”, reflete. “As pessoas se aliam à arte para sair deste mundo e entrar em outro, transcendental”, completa.

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A próxima fronteira de seu mecenato: investir em música experimental, ao apresentar artistas desconhecidos a paulistanos influentes ou abastados. “Vou à casa de colecionadores de arte e escuto no máximo Caetano Veloso. Quero tornar audíveis os sons escondidos do Brasil”, afirma.

Cifras sobre tela

Os aportes feitos pela profissional apenas em 2014

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– No Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo), que fundou e administra, investiu 750 000 reais via Lei Rouanet e mais 750 000 reais sem incentivo fiscal

– Doou 100 000 reais ao Masp, do qual é conselheira

-Transfere 12 000 reais anualmente para a Pinacoteca do Estado

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