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Quem são os líderes das associações de moradores em São Paulo

Veja as pessoas que contribuem para melhorar a qualidade de vida do seu bairro

Por Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h22 - Publicado em 18 set 2009, 20h35

Com mais de 1.500 quilômetros quadrados de superfície e população superior a 10 milhões de habitantes, São Paulo possui cerca de 3.000 associações de moradores. Há entre elas as que são ligadas a grupos políticos e algumas que representam mais os interesses de seus diretores do que os da vizinhança. Não faltam também as que brigam com outras na mesma área de atuação. Em sua maioria, porém, elas empenham-se em zelar pela qualidade dos bairros. Como parceiras das 31 subprefeituras da capital, ajudam a fiscalizar a conservação das calçadas e ruas, a saúde das árvores, a legalidade das obras em construção… Juntas, essas entidades têm uma força de vistoria maior que a da própria prefeitura, que conta com apenas 704 fiscais. “As associações conhecem muito bem seu entorno, são determinantes na identificação de problemas e pressionam o poder público a agir”, afirma o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo. Além de questões comuns a qualquer região da capital (caso dos buracos nas vias públicas e da publicidade irregular), costumam lutar por causas mais complexas e peculiares. Nas páginas a seguir, conheça os líderes de alguns desses grupos. Insistentes, obstinados e brigões – às vezes são até chamados de chatos –, dedicam em média duas horas de seu dia à tarefa de melhorar a vida na cidade.

Ele descobriu um exército de 1 500 homens nos Jardins

Morador do Jardim América há 42 anos, o administrador de empresas Fábio Saboya ajuda a cuidar da segurança do bairro e arredores desde fevereiro de 2005. Presidente da associação Ame Jardins, que abrange ainda o Jardim Europa e o Jardim Paulista, ele é uma espécie de síndico da área. Quando Saboya tomou posse, a média anual de roubos a residências nos três bairros, segundo levantamento informal dos próprios moradores, era de quinze ocorrências. Em 2006, foram registrados apenas três casos. A diminuição nos números deve-se a ações simples. Uma das primeiras providências de Saboya foi convocar uma reunião com as dez empresas de segurança particulares que prestam serviço na região. “Descobrimos que podíamos contar com um verdadeiro exército”, diz ele, que recebe cerca de cinco e-mails por dia com reclamações da vizinhança. “São 1 500 homens ao todo, divididos em três turnos.” Em parceria com o Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo (Sesvesp), Saboya organizou as rotas dos carros de patrulha de forma a garantir o monitoramento, num mesmo horário, do maior número possível de vias. “Antes, era comum ver dois ou mais veículos fazendo a mesma ronda.” O próximo passo é a instalação de quinze câmeras em ruas de entrada e saída da área de atuação da Ame Jardins. Seu custo será bancado por patrocínios e contribuições dos moradores.

Os aviões foram dormir (e Moema também)

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Com a crise dos controladores de vôo, iniciada em outubro, o telefone da advogada Lygia Horta passou a tocar com mais freqüência. Por causa do apagão aéreo, o Aeroporto de Congonhas ampliou seu horário de funcionamento até meia-noite e meia, trazendo reclamações de gente incomodada com o barulho dos aviões aos ouvidos da presidente da Associação de Moradores e Amigos de Moema (Amam), bairro com 76 000 moradores. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), desde o início do ano o aeroporto voltou a encerrar suas atividades às 23 horas. Lygia garante que não. “Ainda ocorrem vôos na madrugada”, afirma. “Se isso não mudar, vamos convocar os moradores para mais essa batalha.” Velha conhecida das autoridades que cuidam do tráfego aéreo em Congonhas, Lygia participou ativamente do movimento que, em 1989, conseguiu a suspensão dos pousos e decolagens entre 23 e 6 horas (antes, havia operações 24 horas por dia). “Foram dois anos de luta, com abaixo-assinados e visitas a vereadores e militares”, lembra. Ligada à Amam desde sua criação, em 1987, a advogada transformou um dos quartos de sua casa em sede da associação. Mesmo antes de ela assumir a presidência, em 1992, as reuniões aconteciam em sua sala. “Meu sofá já recebeu até Jânio Quadros”, diz ela, sobre a ocasião em que o então prefeito esteve ali para discutir a mudança de nome do bairro, de Indianópolis para Moema.

O fiscal da natureza

Em 2000, quando foi anunciada a construção de um condomínio horizontal em sua rua, no Morumbi, o empresário Carlos Magno Gibrail visitou o estande de vendas do empreendimento para conferir a planta. Ficou surpreso ao constatar que, num terreno de 3 000 metros quadrados, seriam erguidas doze casas. “A rua, até então, tinha catorze”, conta ele. Gibrail distribuiu panfletos convocando a vizinhança para lutar pelo embargo da obra. Conseguiu reunir setenta pessoas, que acionaram o Ministério Público pedindo a modificação do projeto, sob a alegação de que ele descaracterizaria o bairro e traria prejuízos ao meio ambiente. Nesse encontro nasceu a Sociedade dos Moradores do Morumbi, que hoje representa os moradores de 500 casas localizadas entre o Palácio dos Bandeirantes e a Casa da Fazenda. A associação conseguiu que apenas cinco residências fossem construídas no tal condomínio. A partir daí, outros projetos sofreram modificações por causa de suas ações de fiscalização. Com uma foto aérea da região feita há nove anos, Gibrail costuma vistoriar as obras que pipocam pelo Morumbi. “Queremos que a vegetação continue como a daquela época”, diz ele. “Se derrubam árvores num lugar, devem plantá-las em outro.”

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Um ano sem shows no Pacaembu

Durante a apresentação da banda de heavy metal Iron Maiden no Estádio do Pacaembu, em janeiro de 2004, integrantes da Associação Viva Pacaembu por São Paulo saíram às ruas para contar o número de ônibus estacionados nos arredores do show. Foram destacados 25 representantes de diferentes áreas do bairro para, juntos, fazerem a soma. “Contabilizamos 380 veículos”, afirma Iênidis Benfati, presidente do conselho deliberativo da entidade. “Em noites de show, muita gente não conseguia entrar ou sair da própria garagem e ainda tinha de conviver com o vômito, a sujeira e a urina deixados nas calçadas.” Esse levantamento serviu de base para uma ação judicial movida contra a prefeitura por moradores dos 2 370 domicílios que compõem a área de atuação da Viva Pacaembu. Há um ano, desde a apresentação do grupo Pearl Jam, o estádio está livre desse tipo de evento, por força de uma liminar favorável à associação. Sua briga agora é outra. A Fundação Faculdade de Medicina, ligada à USP, quer transformar um imóvel projetado por Ramos de Azevedo, localizado no coração do bairro e com mais de 12 000 metros quadrados, em um estabelecimento de ensino. “Não vamos permitir”, diz Iênidis. “Só o impacto no trânsito do bairro já seria imenso.”

Sem trânsito na porta de casa

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Margeada por vias de grande circulação, como as avenidas Jornalista Roberto Marinho e Washington Luís, a região conhecida como Brooklin Velho costuma receber em suas ruas, onde estão plantadas cerca de 2 000 residências, uma enxurrada de veículos que cortam o bairro para fugir do trânsito pesado dos corredores principais. Combater esse problema sempre foi uma das prioridades da Sociedade Amigos do Brooklin Velho (Sabrove), criada em 1994 e presidida desde 2005 pelo empresário Júlio Marcondes. A associação conseguiu conquistas relevantes, como a alteração do projeto da Avenida Jornalista Roberto Marinho (antiga Águas Espraiadas, aberta em 1995). “Brigamos pela retirada de um cruzamento que traria ainda mais trânsito”, afirma Marcondes. Atualmente, a Sabrove pleiteia junto à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mudanças no sistema de mão e contramão para dificultar o tráfego de passagem. “O barulho dos carros desvaloriza os imóveis do bairro, que são alugados apenas para fins comerciais.”

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