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Promotor Pedro Baracat mata motoboy em suposto assalto

Disparos ocorreram em frente ao Parque do Ibirapuera, onde morreu Firmino Barbosa

Por Edison Veiga e Fabio Brisolla
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Como milhares de outros paulistanos, Pedro Baracat Guimarães Pereira, de 42 anos, promotor do Ministério Público do Estado de São Paulo, escolheu o Shopping Higienópolis para passar a tarde do último sábado. Na companhia da namorada, a também promotora Regiane Zampar, comprou dois jogos de toalha de banho na Zêlo. Depois, foi à Crawford e levou uma camisa social para presentear um de seus três irmãos (dois são delegados de polícia e o terceiro, juiz). Feitas as compras, o casal seguia para o cinema Kinoplex Itaim com a intenção de comprar ingressos para a última sessão.

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No mesmo sábado à tarde, o motoboy Firmino Barbosa, de 30 anos, saiu de sua casa, no Embu, para encontrar amigos e familiares numa lanchonete na vizinha Taboão da Serra. Depois de passar o dia ali jogando sinuca, pediu ao cunhado sua moto emprestada (uma Yamaha Fazer 250). Disse que precisava ajudar um amigo que estava com o carro quebrado na Avenida 23 de Maio.

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Às 22h30, essas duas histórias se cruzaram na Avenida República do Líbano, na altura do número 150. Quando o semáforo fechou, em frente ao portão 9A do Parque do Ibirapuera, dois carros pararam lado a lado. Logo atrás, posicionou-se o Honda Civic preto do promotor Baracat. Naquele instante, o motoboy Barbosa teria se aproximado pelo lado do motorista e pedido seu relógio Bulova, segundo declarou o promotor à polícia. Ao anunciar o roubo (“Passa o relógio, na moral”, de acordo com depoimento de Regiane), o assaltante teria enfiado a mão sob a cintura da calça sinalizando que iria sacar uma arma. Baracat pegou uma pistola automática 9 milímetros (arma de fogo de uso restrito das Forças Armadas) e disparou onze vezes até o homem cair no chão. “Na hora, fiquei com muito medo de morrer. Não tive noção de quantos tiros disparei”, relatou o promotor a um colega do MP. “Dei o primeiro, mas ele era forte, continuava de pé e sem tirar a mão da cintura.” O motoboy estava desarmado.

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Baracat acelerou o carro e saiu para a direita, em direção ao acesso principal do parque, seguindo sem rumo pela cidade. Durante toda a ação, a promotora Regiane ficou em estado de choque, paralisada. Minutos depois, teve uma crise de choro. Baracat tentou acalmá-la, ligou para seus dois irmãos policiais e depois avisou um amigo da promotoria. Deixou a namorada em casa e, como suspeitava se tratar de um atentado de um dos integrantes do PCC, disse a amigos ter decidido procurar a equipe do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) para registrar um boletim de ocorrência.

Nascido no interior de São Paulo, formado em direito pela PUC, Baracat trabalhou como investigador de polícia antes de entrar no Ministério Público, em 1988. Em 2006, após os atentados do PCC em São Paulo, ele foi um dos seis promotores destacados para acompanhar as investigações sobre a organização criminosa. Desde agosto, fazia parte do Gecep, uma divisão dentro do Ministério Público especializada em casos que envolvem crimes cometidos por policiais. Logo após a morte de Barbosa, o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, afastou o promotor de suas funções no Gecep. Ele passou a trabalhar na 7ª Vara Criminal. Segundo seus colegas do Gecep, o procurador estaria aproveitando politicamente a situação para enfraquecer a divisão, cujos promotores são escolhidos por voto. “Essa alegação é inconsistente”, diz Pinho. “Fiz isso para preservar a instituição.” A lei prevê que, por envolver um promotor, o crime seja investigado pela Procuradoria-Geral de Justiça, e não pela polícia.

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Barbosa era casado havia oito anos com Soraia Moreira, com quem tinha um filho, Vitor, de 7 anos. Ela está grávida do segundo filho do casal, Miguel, que é esperado para os próximos dias. “Ele era carinhoso. Tinha o nome dos dois garotos tatuado nos pulsos”, conta. “Nem enterrado admito que meu filho seja chamado de bandido”, diz Valdete Barbosa Amorim, mãe do motoboy. Apesar de sete relógios terem sido encontrados com o motoboy e de quatro pessoas se apresentarem ao Deic afirmando que seus relógios foram roubados por ele, a família não concorda com a versão de que o rapaz fosse um ladrão.

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