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O que mudou na rotina da rua onde mora Fernando Haddad

Depois da eleição, moradores da Rua Afonso de Freitas, no Paraíso, recorrem com frequência a vizinho ilustre

Por Mauricio Xavier
Atualizado em 1 jun 2017, 17h45 - Publicado em 12 abr 2013, 20h51

Na noite de 27 de janeiro, uma bomba movida a óleo diesel instalada pela Sabesp trabalhava em velocidade máxima para drenar um vazamento na Rua Afonso de Freitas, no Paraíso, na altura do número 687. Sem conseguir dormir por causa do barulho ensurdecedor, um grupo de vizinhos apelou para as autoridades: tocou o interfone de um apartamento no 11º andar do Edifício Panorama, que fica ali nas redondezas.

O endereço não abriga o escritório da companhia de água e esgoto do estado, mas a residência do prefeito Fernando Haddad. Alertado, ele deixou o prédio por volta das 6 da manhã e desceu um quarteirão para constatar a balbúrdia provocada pela máquina. “Em poucas horas apareceu uma tropa de funcionários e, no fim do dia, tudo estava resolvido”, lembra o autônomo Ricardo Rosales, que teve sua casa alagada.

O episódio mostra como mudou a rotina da pacata via da Zona Sul desde 1º de janeiro, quando um de seus moradores assumiu o comando da cidade. O vizinho ilustre é assunto recorrente nos bate-papos de padarias, salões de beleza e pontos de táxi. Durante a campanha eleitoral, a presença constante de fotógrafos e jornalistas por ali já indicava que a vida naquele lugar não seria mais a mesma. E foi o que aconteceu.

Pouco mais de dois meses depois da posse do prefeito, dezenas de ciclistas se reuniram na frente do seu prédio para um ruidoso protesto por mais segurança. Na ocasião, Haddad não estava presente. Seu filho, Frederico, de 20 anos, acalmou a multidão com a promessa de que o pai os ouviria em breve. “Se querem reclamar, por que não vão até a prefeitura?”, diz Lígia Chedid, do apartamento 32 do Panorama.

Prédio Fernando Haddad
Prédio Fernando Haddad ()
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O edifício transformou-se no epicentro desse frisson. Os moradores ainda ficam impressionados ao cruzar com algumas figuras conhecidas no corredor. “Há poucos dias vi a ex-prefeita Luiza Erundina entrando pelo saguão”, conta a síndica Roseli Rodrigues. O próprio Haddad é abordado com sugestões para a gestão — a maioria de envergadura similar a “arrumar a calçada da frente”.

Não raro, há quem exagere nos pedidos. No mês passado, por exemplo, uma reunião de condomínio debatia animadamente a possibilidade de solicitar ao prefeito a antecipação do horário de recolhimento do lixo no bairro, mudando a regra que vale para toda a cidade. Motivo? Otimizar a escala de trabalho de um funcionário. “Eu expliquei que era inviável e, mesmo assim, sugeriram que ele poderia abonar a multa”, diz Roseli Rodrigues. Nada disso aconteceu.

Prédio Fernando Haddad
Prédio Fernando Haddad ()

Morador do prédio há vinte anos, Haddad era síndico em 2002, quando tentou, sem sucesso, comprar o terreno ao lado para ampliar as vagas da garagem. Sua “obra de vulto” à época envolveu a implantação de uma academia de ginástica. A proximidade com o paulistano famoso também serviu para criar uma fervorosa base eleitoral. No segundo turno da disputa para a prefeitura, Haddad teve apenas 28% dos votos no distrito da Vila Mariana, que engloba o bairro do Paraíso, tradicional reduto do PSDB.

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O cenário no Panorama, onde vive com sua mulher, Ana Estela, e os dois filhos, foi diferente. “Achava que nunca apoiaria o PT, mas mudei de ideia com o Fernando”, afirma a aposentada Maria Aparecida Sallum. “Votei no partido pela primeira vez na vida”, diz Lígia Chedid. No comércio local, o prefeito é figura carimbada. Na Padaria Cecilia, costuma sentar-se ao balcão para traçar um sanduíche de queijo com mortadela e uma xícara de café. “Ele é simpático, conversa, mas o acho um pouco tímido”, conta o gerente Gerenaldo Lima.

Prédio Fernando Haddad
Prédio Fernando Haddad ()

A poucos metros dali, a Sapataria Veneza ostenta calçados da família pelas prateleiras. No último dia 2, uma das botas da primeira-dama estava na fila do serviço. “Os sapatos dele são engraxados a cada três semanas”, diz o sapateiro Edson Silva. Outro ponto já requisitado foi a Oficina Mecatron. “No ano passado, eles deixaram um Toyota Fielder para trocar a bateria, por 200 reais”, lembra o dono Cesar Parra.

Prédio Fernando Haddad
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Mas nenhum estabelecimento da área tem mais recordações que o Salão Primus, onde o prefeito cortou o cabelo por dezenove anos. Na campanha eleitoral, entretanto, o então candidato passou a frequentar o badalado Celso Kamura, na Rua da Consolação. A decepção pela perda do cliente é grande. Tanto que a data da última visita está na ponta da língua: 3 de janeiro de 2012. “Espero que ele volte um dia”, suspira o dono André Ribeiro. “Notei pela televisão que Haddad perdeu cabelo nos últimos tempos, está com entradas. É bom ficar atento.”

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