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Por que a pressa?

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Estou no aeroporto. No momento em que o vôo é chamado, os passageiros disparam. Alguns furam fila, outros se apressam cortando o caminho de quem já está no corredor de embarque. Vejo uma jovem senhora com uma menina pequena. Tento abrir espaço para as duas.

– Venham, vocês têm prioridade!

– Deixa pra lá – responde ela. – Não gosto de correria.

É um mistério. Por que tanta pressa para entrar no avião se os lugares são marcados e a aeronave só decola depois do embarque completo? É incrível: os apressados atropelam mães com crianças e não respeitam a prioridade aos idosos. Para depois esperar sentadinhos um bom tempo dentro do avião!

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No teatro é a mesma coisa. Os lugares são marcados. Quando as portas se abrem é uma aglomeração para entrar. Há até empurra-empurra. A peça vai começar antes de o público se acomodar? Nem pensar!

O respeito à fila anda desaparecendo. Se passo o cartão no caixa de uma loja lotada, sempre há alguém que entra de lado, pedindo para ser atendido. E a raiva de alguns clientes quando a mocinha demora para fazer o troco? Respiram fundo, causam mal-estar. Para depois continuar andando pelo shopping, admirando as vitrines! É comum a espera nos restaurantes. Pior ainda é testemunhar o conluio entre alguns clientes e o maître para sentar antes. Se há pressa, melhor ir a um fast-food!

Conheço uma jovem que mora perto do metrô, mas não o usa para chegar ao trabalho. O motivo: a conexão na Estação Sé.

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– Ninguém espera os outros saírem. Já vão entrando. Vira uma loucura. Sou empurrada, amassada. Dá medo.

Mesmo no lazer as pessoas se apressam. Ficam nervosas se a bebida demora para chegar. Reclamam se o filme demora para começar. Entram em guerra com manobristas, garçons e vendedores. Tudo, muitas vezes, por questão de cinco minutos!

Tenho um amigo que briga em todo tipo de lugar. Se está experimentando todas as prateleiras de uma loja e o vendedor se afasta um instante, reclama:

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– Você não está me atendendo? Agora foi atrás de outro cliente?

Exige presença, mas costuma ir embora sem comprar nada depois de horas.

Nos restaurantes, grita:

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– E aquela água que eu pedi faz um século?

– Já está vindo – murmura o garçom apavorado.

E assim por diante.

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Outro dia, desabafei:

– Não tenho mais coragem de freqüentar restaurante com você. Passo vergonha.

O pior é que esse tipo de pessoa consegue tornar qualquer passeio estressante.

Na raiz dessa atitude existe a velha vontade de tirar vantagem em tudo. Todos se lembram do prefeito que, em sua campanha, há várias eleições, prometeu o Fura-Fila. Foi aplaudido pela idéia. Como se furar fila fosse correto!

Passar à frente dos outros, sentar-se em primeiro lugar e atitudes do gênero são maneiras de obter vantagem. Francamente, para mim é uma forma de ser muito pequena. Mesquinha.

A vida na cidade, com tantas informações, compromissos e trânsito, induz todos nós a viver em velocidade. Corro o risco de perder a alegria de admirar um ipê florido na rua, de conversar entre cafezinhos sem tempo para terminar, de não ter tempo para mim e para as pessoas, até desconhecidos. É ótimo quando bato papo com um vendedor ou um garçom, falamos sobre a vida, trocamos idéias. Para muitos seria perda de tempo.

Afinal, para que serve o tempo? Não é para viver a vida? Nada melhor que ter tempo para mim mesmo, para a família, para os amigos e para conhecer o próximo. Em algumas situações, a pressa é necessária. Mas também é preciso saber quando é preciso ter calma e paz interior.

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