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Por que num fim de semana todos eles foram mortos?

Conheça as histórias que estão por trás das estatísticas de homício em São Paulo

Por Edison Veiga, Leonardo Fuhrmann e Rodrigo Brancatelli
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h35

ALEX CARNEIRO,

32 anos, desempregado, morto com dois tiros à 0h30 da segunda 23 de outubro, na Casa Verde

A dona-de-casa Patrícia Aparecida Notari tinha acabado de voltar de um culto religioso quando seu marido, Alex Sandro Carneiro, lhe pediu 12 reais. Ele ficara em casa cuidando do filho de 3 anos e queria comprar cerveja. Não conseguiu chegar ao bar. Na esquina da rua em que moravam, na Casa Verde, foi assassinado com um tiro no peito e outro na cabeça. Quando os policiais do DHPP encontraram seu corpo, Alex ainda segurava o dinheiro dado pela mulher. Desempregado, cumpria pena em regime aberto por um roubo cometido em 1999 – condenado a nove anos e cinco meses de prisão, deixou a cadeia em 2002. Na época, Alex havia sido denunciado também por tráfico de drogas, mas foi absolvido.

HARAIK BOGHOURIAN

39 anos, sargento da PM, morto com nove tiros às 10h10 do sábado 21 de outubro, no Belém

Logo após o enterro do sargento da PM Haraik Hagop Boghourian Júnior, no domingo (22), sua mulher, Kattia Marques Margatto, e os dois filhos, Leandro, 17 anos, e Rodrigo, 10, mudaram-se para a casa de parentes. Ela é dona de um bar no bairro do Belém, na Zona Leste. No sábado de manhã, Haraik e Kattia haviam acabado de chegar ao botequim quando o telefone tocou. Ninguém falou nada do outro lado da linha. Pouco depois, um homem desceu de um Celta branco, entrou no bar e disparou vários tiros com uma pistola automática, que atingiram o sargento na cabeça e no peito. “Ele era muito discreto, nunca nem o vi de farda”, diz a vizinha Alzira de Oliveira (acima, com a foto de Haraik numa festa). O sargento não trabalhava na rua. Era responsável por apurar faltas disciplinares de colegas, como atrasos, barba por fazer ou cabelos longos, na 2ª Companhia do 5º Batalhão, na Vila Maria.

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PEDRO DE SOUZA JR.

23 anos, mecânico, morto com um tiro às 2h20 do domingo 22 de outubro, em Heliópolis

O mecânico Pedro Antônio de Souza enterrou dois dos seus cinco filhos neste ano. Ambos mortos pela polícia. O mais velho, de 25 anos, estava envolvido com traficantes e morreu em junho durante uma blitz. Quando a família ainda se recuperava da notícia, Pedro Antônio Júnior, também mecânico, levou um tiro de calibre 38 de um policial civil. Morreu a 15 metros da sua casa, na favela de Heliópolis, na Zona Sul. Nesse seu último dia, ele passou boa parte do tempo brincando com as filhas, de 2 e 4 anos. À noite, foi para um bar com amigos. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, quatro policiais de Osasco estavam disfarçados no local, em um Opala, esquadrinhando o seqüestro de uma empresária em Heliópolis. Júnior e seus colegas, que jogavam sinuca, teriam visto os investigadores conversando e atirado contra o Opala. Os policiais revidaram. O jovem mecânico foi o único que morreu.

MOISES ANDRADE,

24 anos, desempregado, morto com dois tiros à 0h15 da segunda 23 de outubro, na Vila Nova Cachoeirinha

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Quem via o paulistano Moises Toscano de Araujo Andrade, o “Alemão”, pedalando sua bicicleta pela Vila Nova Cachoeirinha não imaginava que ele tinha, em seu currículo, passagens pelas celas do Distrito Policial de Vila Amália, do Cadeião de Pinheiros e da Penitenciária de Avaré, no interior do estado. No total, passou dois anos e quatro meses atrás das grades – em 2003, ele foi flagrado com vinte trouxinhas de maconha. Na noite de domingo (22), quando voltava, a pé, da casa de uma suposta namorada, levou dois tiros. Alemão deu entrada no pronto-socorro da Vila Nova Cachoeirinha, onde morreu pouco depois. Duas versões correm pelo bairro. A primeira, que ele teria sido alvo de vingança por causa desse seu relacionamento. Outros acreditam que sua morte foi acerto de contas com antigos desafetos.

MICHELE DE GODOY

22 anos, desempregada, morta com dois tiros às 15h50 do domingo 22 de outubro, no Campo Limpo

ISRAEL DE SOUZA SANTOS

26 anos, marceneiro, morto com um tiro às 15h50 do domingo 22 de outubro, no Campo Limpo

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João Guilherme, de 2 anos e 4 meses, andava falante nos últimos tempos. Tentava cantar as músicas que tocavam no rádio e repetia as palavras novas que aprendia. Um psicólogo do Hospital Municipal do Campo Limpo está cuidando do menino agora. Ele não come direito e uma das poucas frases que repete é: “Papai e mamãe caiu”. O garoto viu quando seus pais, a desempregada Michele de Godoy e o marceneiro Israel de Souza Santos, foram baleados, bem no meio da tarde, na calçada de uma tranqüila rua no Campo Limpo – ela com dois tiros de pistola calibre 9 milímetros nas costas e ele com um tiro de escopeta calibre 12 no rosto. O casal tomava cerveja com amigos quando dois homens desceram de um Tempra preto, andaram em direção ao grupo e atiraram em Israel, que estava ao lado do filho. Michele se jogou na frente para protegê-los (na foto, parentes e vizinhos estão diante da cena do crime). “Minha filha se envolveu com o cara errado”, diz a mãe, a dona-de-casa Rosa. “A Michele teve um filho com esse sujeito e, quando ele resolvia aparecer no bairro, ela fazia de tudo para lhe agradar.” Israel era casado havia cinco anos com Lucielma da Silva, com quem morava numa casa de um cômodo no Capão Redondo. Tinha outros dois filhos pequenos. “Se não existisse essa mulher na vida dele, Israel estaria cuidando dos nossos meninos”, afirma Lucielma, que só soube do relacionamento extraconjugal do marido pela polícia. José Jonas dos Santos, pai de Israel, de 66 anos, teve um infarto ao saber do assassinato de seu filho primogênito. Morreria na quarta-feira 25.

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