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Pina Bausch e o balé da solidariedade

Espetáculo da coreógrafa alemã ajuda ONG que cuida de crianças e doentes mentais

Por Marcella Centofanti
Atualizado em 5 dez 2016, 19h20 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

Enquanto o motorista dirige pela Rodovia Anhangüera a caminho de Franco da Rocha, na região metropolitana, o celular de Anna Schvartzman toca. Sentada no banco de trás do Vectra, a assistente social atende: “Joããão! Vai querer comprar quantos ingressos? Como é para você, vou escolher os melhores lugares”. O interlocutor é o empresário João Doria Jr., que retornava sua ligação. Às vésperas de mais um espetáculo beneficente promovido por ela, o celular de Anna não pára. Desta vez, sua meta é lotar os 830 assentos que lhe foram reservados na primeira noite de apresentação da companhia da bailarina alemã Pina Bausch, no Teatro Alfa, nesta segunda (28). “Sabe o trabalho que dá vender um teatro inteiro assim?”, pergunta. Embora sua secretária dispare e-mails e correspondências para um mailing repleto de nomes poderosíssimos, o que funciona mesmo é o corpo-a-corpo, nos telefonemas de Anna para cada convidado. “Quando eu ligo, a pessoa se sente na obrigação de ajudar e acaba comprando.” Anna ganhou os ingressos de empresas patrocinadoras e os revende com ágio de 50 reais em relação aos preços cobrados na bilheteria (entre 30 e 200 reais). Mas a causa é nobre. Todo o dinheiro arrecadado com as entradas do espetáculo será revertido para os projetos assistenciais do Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (Ciam). A ONG, presidida por Anna há dezoito anos, atende 243 pessoas, quase todas portadoras de deficiências mentais. Fundada em 1959, a entidade promove diversas atividades, divididas em duas frentes. Na do Jaguaré funciona uma pré-escola e um centro de reabilitação que oferece tratamentos de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional para pacientes de até 7 anos. Para jovens com mais de 16 anos, há um projeto que visa a sua inclusão no mercado de trabalho. Cerca de 85% dos que são atendidos não pagam nada. O segundo braço do Ciam – e verdadeiro xodó de Anna – é a Aldeia da Esperança, em Franco da Rocha. Trata-se de um condomínio para 63 moradores. Todos são portadores de algum tipo de deficiência mental. As casas, individuais, ficam distribuídas num terreno de 415 000 metros quadrados, rodeado por área verde. Elas seguem o mesmo padrão: 36 metros quadrados, com quarto, closet, banheiro, cozinha americana e varanda. A aldeia tem quadra, academia, canil, centro de reabilitação, oficinas, refeitório, área de lazer e uma piscina aquecida adaptada para deficientes. Os moradores, com idade entre 21 e 62 anos, são monitorados 24 horas por dia, mas têm liberdade de entrar e sair quando quiserem. Praticamente todos trabalham, dentro ou fora de lá. Baseada num projeto israelense, a Aldeia da Esperança criou um modelo pioneiro no Brasil. Ela representa um alívio para uma grande preocupação de quem tem um filho com deficiência: como será seu futuro após a morte dos pais? Por contrato, a ONG assume responsabilidade vitalícia sobre todos os que vivem ali. A maioria paga uma mensalidade, que varia de acordo com a possibilidade de cada um. E 33% são isentos. Na Aldeia da Esperança, os moradores conhecem Anna Schvartzman pelo nome. Saudada aonde quer que vá, ela se orgulha em contar a história de cada um. Uma de suas preferidas é a de Paulino Gorenstein, que chegou à aldeia quando o projeto nasceu, há treze anos. Na época, ele tinha câncer no cérebro e um prognóstico de seis meses de vida. Gorenstein mora no condomínio até hoje. No ano passado, numa das quatro viagens anuais promovidas pela ONG, ele, que anda de cadeira de rodas, conheceu a cidade de Bonito, em Mato Grosso do Sul, e fez rafting. “São essas coisas que me dão energia”, diz a presidente. A principal missão de Anna é convencer benfeitores a ajudar a manter os projetos da ONG. “Posso me concentrar nessa tarefa porque tenho a retaguarda de uma diretoria voluntária.” Por ano, o governo estadual destina ao Ciam 91.562 reais, que representam 2% de seus custos. O restante vem de 900 sócios, que contribuem com quantias a partir de 20 reais, e dos eventos beneficentes. Casada com o jornalista Salomão Schvartzman, Anna circula em diversos eventos e tem as portas abertas na sociedade paulistana. “Minha vantagem é conhecer muita gente”, afirma ela. Uma dessas pessoas é o cantor Roberto Carlos, que, sensibilizado com a causa, fez um show em prol do Ciam em agosto do ano passado para 2 500 espectadores, no Credicard Hall. O espetáculo rendeu aos cofres da entidade 500.000 reais. Com a apresentação da companhia de Pina Bausch, Anna pretende conseguir mais 250.000 reais para ajudar a sustentar seus projetos. • Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (Ciam). Rua Irmã Pia, 78, Jaguaré, tel: 3714-0688. https://www.ciam.org.br

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