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Paulo Maluf ainda quer ser prefeito

Na semana em que a prefeitura anunciou que tentará repatriar 120 milhões de dólares em nome de Paulo Maluf num paraíso fiscal, o eterno candidato diz que é inocente em todas as acusações que lhe fazem

Por Alessandro Duarte e Alvaro Leme
Atualizado em 5 dez 2016, 19h28 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

Desde que assumiu a prefeitura de São Paulo pela primeira vez, em 1969, Paulo Maluf (PP) vê seu nome envolvido em escândalos. As denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público cresceram à medida que ocupou outros cargos, como o de secretário estadual de Transportes e o de governador do estado, nas décadas de 70 e 80. A maior parte das acusações contra ele, no entanto, surgiu quando foi prefeito pela segunda vez, entre 1993 e 1996. Investigações do Ministério Público Estadual encontraram indícios de superfaturamento em diversas obras. Só na construção da Avenida Água Espraiada, hoje Jornalista Roberto Marinho, os promotores estimam que tenham sido desviados 240 milhões de reais. Segundo eles, o total de recursos que teria deixado os cofres municipais para abastecer contas no exterior pode chegar a 500 milhões de dólares. Na semana passada, esse histórico ganhou mais um pesadíssimo capítulo. A prefeitura anunciou que entrará com uma representação para repatriar 120 milhões de dólares que estariam em nome de Maluf, bloqueados, na Ilha de Jersey, um paraíso fiscal. O Ministério Público já teria os documentos que comprovariam as transferências de dinheiro da Suíça para Londres e de lá para Jersey na década de 90. E ele ainda quer voltar a ser prefeito.

Obcecado pelo poder, Maluf, 76 anos de idade, é um reconhecido tocador de obras. Em um de seus arroubos, ele costuma alardear que não se anda 1 quilômetro dentro de São Paulo sem passar por pelo menos uma realização sua. Em todas as campanhas de que participa, sempre repete, cada vez com um slogan, que fazer é com ele mesmo. Eleição também é. Nas majoritárias, já perdeu nove (oito diretas) e ganhou duas (uma direta). E processos nem se fala. Ao sair da prefeitura, em 1996, tinha 150 ações contra ele. Hoje, responde a quinze ações populares e dezenove ações civis públicas.

Há dois anos, candidatou-se a deputado federal. Elegeu-se com quase 740 000 votos. Ele entra neste pleito numa situação bastante diferente da de anos anteriores, quando as primeiras pesquisas de opinião o colocavam disputando a liderança das intenções de voto. Via seus pontos minguar à medida que aparecia na TV e era duramente criticado pelos adversários. Segundo o último levantamento do Ibope, divulgado na quarta, ele está com 8% – contra 31% da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), 25% do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e 13% do atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM). Tem uma taxa de rejeição impressionante (51%, enquanto Marta aparece com 32%; Kassab, com 27%; e Alckmin, com 14%).

“Ele sempre se beneficiou da grande exposição e da lembrança que os eleitores tinham dele”, afirma o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do instituto Cepac Pesquisa e Comunicação. “Mas suas posições polêmicas fizeram com que essa imagem se desgastasse ao longo dos anos.” As denúncias contra ele também pesam, claro, e passar uma temporada atrás das grades não é algo que faça bem à imagem de nenhum político. Em 2005, Maluf ficou por quarenta dias na carceragem da Polícia Federal, com seu filho Flávio. Os dois foram presos preventivamente, sob acusação de coagir uma testemunha no processo de corrupção passiva, formação de quadrilha, evasão de divisas e lavagem de dinheiro que ainda corre contra eles. “Foi uma grande injustiça”, afirma Maluf, que sempre teve a seu serviço advogados caros e competentes.

Na última de uma série de entrevistas com os principais candidatos à prefeitura paulistana, Maluf conta que aposta em sua fama de construtor para surpreender. “Posso resolver a questão do trânsito”, diz. Ele anuncia um projeto mirabolante, que classifica como ambicioso: “Quero construir uma laje sobre o Rio Tietê para aumentar cinco ou seis faixas de tráfego de cada lado, sem semáforos”. Segue negando todas as acusações e sustenta que nunca teve contas fora do país. Já disse que, caso fosse encontrado algum dinheiro no exterior em seu nome, ele seria doado à Santa Casa de Misericórdia – atualmente promete tal doação aos jornalistas que o questionam sobre o assunto. Nas rodas de políticos, comenta-se que nem ele mesmo acredita que tenha alguma chance de vitória e que usará a campanha para tentar “limpar sua imagem”. Será uma tarefa árdua.

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