Que elas não se enganem: o primeiro olhar de um homem para uma mulher que o atrai já é uma carícia. Discreta se ele é fino, leve brisa que arrepia; pesada se ele é grosso, apalpadela ofensiva.
Que os homens também não se enganem: o olhar-resposta da mulher propõe uma rápida charada — se souber como, você me ganha. A cena pode dar em nada, os dois podem não querer transformar a carícia visual em tátil, mas a dinâmica daquela olhada não nasceu ali, naquele breve instante, resultou de momentos da vida inteira deles, de eleições, de preferências, de sensações prazerosas.
Desde que eram bebês, a imaginação deles acumulou dados sobre pessoas, detalhes que atraíram sua visão, tato, paladar, olfato, audição, e encantam: certo olhar, um peito, um jeito de sorrir, o tom de voz, uma pele tocada pela luz, o ruído de passos, certa pisada, uma pinta, um modo de pegar, movimentos de mãos, consistência e calor de mão, roçar de cabelo, certo cabelo, um canto, cheiro, perfume, uma boca, dentes, pé, respiração, ocomer, o dormir… São pequenos momentos de encantamento guardados para a pessoa futura montar seu kit fascinação.
Os meninos, mais tarde, na escola, acrescentam ao seu banco de dados os encantos da menina mais bonita da sala, as pernas de certa feia, o cabelo da professora… Na adolescência, absorvem alguma informação sobre volumes e sabor. Está quase desenhado o tipo da mulher que vai atrair seu olhar. Às suas fontes pessoais de busca de dados agora se somam o cinema, a televisão, as revistas, a realidade virtual. Então, quando eles olham, já sabem o que querem ver.
As meninas, convivendo com o interesse muitas vezes desajeitado dos meninos, traduzido ora em empurrões, ora em gostosuras do lanche dividido no recreio, vão esculpindo seus modelos de príncipes e vilões, e acrescentarão à receita novos lances da vida e das ficções. Então, quando as olham, elas sabem o que procuram.
A psicologia comportamental tem constatado coisas curiosas a respeito da atração feminina sobre o homem em determinadas situações. Quando ele está cansado, ou relaxado, ou com medo, o seu interesse é menor, o índice de apreciação cai. A endorfina e a adrenalina, que entram em ação nos momentos de tensão e esforço físico, parecem aguçar no homem “aquele”olhar.
Um estudo feito nos Estados Unidos, comparando o comportamento de dois grupos selecionados de homens em um parque, um deles correndo e o outro apenas vagando por ali, mostrou que os homens que corriam achavam as mulheres — as mesmas para os dois grupos — mais bonitas e atraentes. Outra experiência foi realizada em duas pontes: a primeira de concreto, firme; a segunda de cordas e madeira, balançante. Um grupo de homens deveria atravessar a ponte de concreto, na extremidade da qual estaria por acaso uma mulher bonita. Outro grupo atravessaria a ponte insegura, e no fim passaria pela mesma mulher bonita. Depois os grupos foram entrevistados sobre detalhes variados da travessia. Os homens da ponte perigosa acharam a mulher muito mais bonita e atraente. (Será por isso que as academias de ginástica são lugares de olhares?)
O olhar do homem não é só carícia: é caça. O das mulheres é também produto de uma vida inteira de seduções. Seu mas gostam dos discretos e ternos, outras preferem a pegada forte. Quando cruzam o olhar, o homem não pode esconder o jogo, a mulher só negaceia até certo ponto, senão não há jogo, a partida termina em zero a zero. Ele e ela sabem que seus olhares buscam o que de melhor passou pelos seus sentidos.