Profissionalização da gestão começa a resolver problemas do Masp
Com a casa arrumada, números de visitação voltaram a subir e, desde 2007, estão estabilizados
No dia 23 de maio de 2006, São Paulo chocou-se com a notícia de que seu mais importante museu tivera a luz cortada pela Eletropaulo, que cobrava uma dívida de quase 3,5 milhões de reais. Foi o auge da decadência de um dos maiores símbolos paulistanos. Após um pico de visitação em 1997, nas comemorações dos cinquenta anos da casa, houve uma queda brusca de público nos anos seguintes. A gestão do presidente Julio Neves, eleito em 1994, era intensamente criticada, tanto pelos problemas administrativos quanto pela ausência de um projeto artístico. Já não se fala disso.
Cinco anos depois do corte de luz, a instituição caminha, aos poucos, para um cenário muito mais alentador. Parte dessa recuperação se deu com a decisão de instituir o cargo de curador fixo, ocupado pelo crítico, professor da USP e ex-diretor do MAC Teixeira Coelho, em agosto de 2006. A posição estava vaga desde 1997. Com a casa arrumada, os números de visitação voltaram a subir, e desde 2007 estão estabilizados — foram 671.436 espectadores em 2010.
Ocorreu também uma evolução na programação de exposições temporárias. Um fenomenal conjunto de gravuras do espanhol Goya aportou na Paulista em 2007. Nos anos seguintes, a cidade apreciou belas mostras de Auguste Rodin, Walker Evans, Marc Chagall e Max Ernst. Em termos financeiros, os débitos têm sido equacionados e as contas pagas em dia. O passivo do museu hoje, de acordo com sua assessoria de comunicação, é de cerca de 3 milhões de reais. Em 2010, o Masp participou pela primeira vez do ProAc, programa de incentivo do governo estadual. Nos últimos cinco anos, foi o museu brasileiro que mais captou dinheiro via Lei Rouanet, soma acima de 50 milhões de reais.
Há muito para fazer ainda, claro. O principal entrave da administração é não ter fontes permanentes de renda. Os diretores negociavam, até 2010, uma parceria com o Ministério da Cultura, inclusive com participação no conselho deliberativo, mas não houve acordo devido à recente troca de titular na pasta. “Conseguimos ganhar a confiança de alguns patrocinadores. Mesmo assim, não dá para fazer planejamento a médio prazo”, diz Teixeira Coelho. Estuda-se agora criar um cargo de diretor financeiro ou de relações institucionais. Alguém que faça o trabalho de captação de recursos e ajude a implantar projetos antigos, a exemplo do programa de sócios.
No ano fiscal 2009-2010, o Metropolitan, de Nova York, recebeu 23,8 milhões de dólares em doações de seus 140.174 sócios. Trata-se, porém, de uma cultura diferente da brasileira. “Nos Estados Unidos, as pessoas se sentem responsáveis pelas instituições”, afirma Coelho. “O ideal por aqui seria algo na linha do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, gerido por um consórcio entre a sociedade civil, a prefeitura e os governos da Espanha e da Catalunha.”
Até tudo isso ocorrer, a melhor arma é a criatividade. Teixeira Coelho tem organizado boas mostras a partir de rearranjos no acervo — a mais recente delas, “Obsessões da Forma”, traz somente esculturas e começa neste sábado (19). Em 2012, deve ser finalizada a reforma do edifício Dumont-Adams, seu vizinho, orçada em aproximadamente 20 milhões de reais. Ali ficarão a administração do Masp, a escola, a loja e o restaurante. Aumenta, assim, o espaço expositivo do edifício projetado por Lina Bo Bardi. Nada mais justo para o museu que possui a coleção de arte mais importante da América Latina.