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Marília Gabriela aos 60 e a mil

A jornalista, apresentadora e atriz Marília Gabriela estrela sua quarta peça, lança livro sobre mulheres viciadas em amor e admite que sempre procurou homens de personalidade submissa à dela

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h30 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

Na madrugada de sábado para domingo (19), a jornalista Marília Gabriela Baston de Toledo Cochrane, 60 anos, descia a Rua Haddock Lobo, nos Jardins, ao lado de três amigos. Voltava a pé do restaurante Quattrino para seu apartamento, a duas quadras dali, na Rua Bela Cintra, com a alegria de quem carrega nas costas mais uma vitória pessoal. Poucas horas antes, ela havia estreado no Teatro Sesc Anchieta, na Vila Buarque, seu quarto espetáculo como atriz. Escrito pelo romancista angolano José Eduardo Agualusa e dirigido pelo ator Antonio Fagundes, o monólogo Aquela Mulher discute poder e feminismo (leia resenha na pág. 134). Ela interpreta uma política na iminência de assumir a Presidência do país mais poderoso do planeta – qualquer semelhança com a democrata Hillary Clinton não é mera coincidência. Entre o alívio do projeto concretizado e a expectativa da repercussão, Gabi, como é chamada pelos amigos, já falava em seus futuros desafios: o lançamento de um livro previsto para novembro, as próximas edições do programa semanal Marília Gabriela Entrevista e o sonho de um talk-show para a TV portuguesa.

Apesar da intensa lista de atividades – que incluem ainda ocupações corriqueiras como aulas de pilates e preocupações típicas de mãe mesmo com os rebentos adultos -, Marília Gabriela acorda sempre, por volta das 7h30, atormentada por um medo: ser engolida pelo tédio. “A minha vida é monótona se eu não tenho uma história por dia para contar, nem que faça isso no palco”, afirma. Essa talvez seja a explicação de por que uma profissional popularizada na bancada do TV Mulher, atração global exibida entre 1980 e 1986, que já sabatinou celebridades e políticos do mundo inteiro em quase quarenta anos de carreira, se aventura como atriz desde 2000. “Sou movida pelo risco, ou nada tem graça.” Sem dar bola para críticas (pelo menos é o que ela diz), Marília Gabriela baixa a cabeça sob a exigência dos diretores Gerald Thomas, Aderbal Freire-Filho, Antonio Abujamra e, agora, Fagundes. “Muitas vezes eu me sinto realmente cansada, principalmente quando preciso repetir exaustivamente uma cena, mas respiro fundo e faço, quando minha vontade é explodir”, conta.

Quatro peças, sete filmes, duas novelas – como Duas Caras, apresentada pela Globo entre outubro de 2007 e maio passado – e a minissérie JK recheiam o novo currículo. O astrólogo Zeca Cochrane, 61 anos, que foi casado com Marília entre 1976 e 1986, afirma que isso não soa como algo surpreendente. A cada ano, ele refaz o mapa astral da ex-mulher e confirma: uma extensa longevidade e realizações profissionais ainda na maturidade. “A aposentadoria dela é começar tudo de novo”, afirma o ex-marido, que é pai do ator Theodoro Cochrane, 29 anos, e também criou o entrevistador Christiano Cochrane, 36, fruto do primeiro casamento de Marília, com o empresário Reinaldo Haddad, que morreu em 1974.

Foi Zeca quem manteve a casa em ordem enquanto ela trabalhava ininterruptamente para consolidar sua carreira, muitas vezes se dividindo entre São Paulo, Rio e até o exterior. “Sempre gostei dessa inversão de papéis, tenho um lado meio mamma e a incentivei mesmo na oportunidade de morar fora”, lembra ele. Em 1984, Marília recebeu a proposta mais sonhada de sua vida – ser correspondente da Globo em Londres. Depois de noites em claro, principalmente por saber que não poderia levar os filhos, a jornalista aceitou o convite para permanecer o tempo que suportasse. “Eu andava pelos parques chorando e, em seis meses, voltei”, conta ela, que sofreu muito não apenas nessa temporada. Quando passava dias seguidos no Rio, envolvida com a produção do Fantástico, no fim da década de 70, encontrava um consolo na ponte aérea. Muitas vezes, Marília pegava o primeiro avião rumo à capital paulista para tomar café com a família e voltava em seguida para a redação carioca sem revelar o feito a nenhum colega. “Por essas e outras, sei que tenho contas a acertar com meus filhos pelo resto da vida.”

Christiano e Theodoro parecem pouco preocupados com isso. O mais velho brinca que até gostava das ausências da mãe porque ficava sem ninguém para monitorá-lo. “Com 12 anos, já me virava bem em casa e, por isso, hoje sei cozinhar”, afirma Christiano, entregando que a mãe mal frita um ovo e nunca se importou em desenvolver habilidades domésticas. Theodoro, por sua vez, se diverte ao lembrar que não a reconheceu quando ela voltou de Londres. “Chegou uma mulher com um cabelo completamente diferente e eu fechei a cara, dizendo que não era minha mãe”, conta o caçula.

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A necessidade de desempenhar o papel de mãe com a mesma garra empregada em outras atividades não foge da cabeça de Marília. “Eu elogio o tempo inteiro meus filhos e queria que os outros enxergassem neles as mesmas qualidades que enxergo”, diz. Tamanha dedicação pode ser explicada por não querer repetir a educação que recebeu de seus pais. Filha do meio de um casal descendente de italianos de classe média, Marília Gabriela nasceu e passou a infância em Campinas sob rígida disciplina. Rigorosa ao extremo, a dona-de-casa Clélia não admitia que a garota sequer folheasse um gibi nem mostrasse o boletim com uma nota que não fosse a mais alta da classe. “Apanhei muito na infância. Minha vida foi isso enquanto ela viveu”, diz Marília. “Só depois de sua morte por um câncer, quando eu tinha 14 anos, é que comecei a entender o tamanho de sua tristeza. Minha mãe era uma mulher frustrada.”

Parte da compreensão da influência familiar veio no último ano. Morando por quase um ano no Rio de Janeiro por causa das gravações da novela Duas Caras, viu sua inquietação confrontada com uma solidão perturbadora. Recém-separada do ator Reynaldo Gianecchini, longe de casa e sem laços de amizade na capital fluminense, ela resolveu voltar à terapia. “Eu chorava e tentava entender por que não fazia escolhas mais simples. Talvez por exigir de mim o mesmo que minha mãe, se fosse viva.” Cansada com as longas horas de espera no estúdio, entre muitos cafezinhos, Marília Gabriela se ancorou no jornalismo novamente. Desenvolveu o projeto de um livro, concretizado entre o fim das gravações da novela e o início dos ensaios de Aquela Mulher, em setembro. Eu que Amo Tanto nasceu do depoimento de treze mulheres que freqüentaram as sessões do grupo de apoio Mulheres que Amam Demais (Mada). O livro, que será lançado em novembro, reúne histórias narradas em primeira pessoa que tomaram formato literário em suas mãos. “Fiquei impressionada ao ver como as pessoas reproduzem as vivências de suas famílias”, conta ela. “Descobri que sempre escolhi homens gentis, dóceis e de personalidade submissa à minha porque assim era a relação entre minha mãe e meu pai.”

Hoje, às vésperas de completar 36 anos, Reynaldo Gianecchini é o primeiro a reconhecer a importância da ex-mulher em sua trajetória. Quando eles se conheceram, em 1998, o então modelo começava a vislumbrar a possibilidade de atuar. Alçado dois anos depois ao posto de galã da novela Laços de Família, o estreante encarou o outro lado da fama, com uma enxurrada de críticas negativas ao seu trabalho e especulações sobre a vida pessoal. “Se não fosse a Gabi, não teria segurado a onda e talvez nem prosseguisse minha carreira”, diz. Dois anos após a separação, Gianecchini não assumiu outro namoro. “Eu tenho a referência de um grande amor na minha vida e sei que, agora, fica mais difícil.” Para Marília também não parece simples um novo romance depois dos oito anos ao lado do ator. Apesar de ter tido seu nome associado ao do fotógrafo português Jordi Burch, 29 anos – definido como um “amigo” -, a jornalista garante que está solteira. “Não tenho sequer um interesse amoroso”, afirma ela. “Vejo muitos amigos, saio à noite, mas realmente não tenho nada que se possa chamar de uma relação afetiva.”

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