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Manifestações na casa de Michel Temer afetam moradores do Alto de Pinheiros

Vizinhos do presidente interino sofrem com pichações e ruas bloqueadas

Por Adriana Farias e João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 16h09 - Publicado em 27 Maio 2016, 00h00

A empresária Tatiana Hamada, de 36 anos, estava em casa com a mãe, o irmão e os três filhos (um casal de gêmeos de 1 ano e um menino de 4) quando se assustou ao ver da janela o formigueiro de gente que se formou em frente à porta da residência. A construção de 700 metros quadrados fica nas imediações da Praça Conde de Barcelos, no Alto de Pinheiros. O movimento começou por volta das 20 horas do domingo (22).

“Eles gritavam ‘Bairro nobre vai virar quebrada, vai ter baile funk’ e picharam meu portão inteiro e o muro sem que eu pudesse fazer nada”, conta ela, referindo‑se às pessoas recrutadas pela Frente Povo Sem Medo e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem‑Terra (MTST), entre outras, para um protesto contra o morador mais famoso do pedaço, o presidente interino Michel Temer

O momento de maior tensão aconteceu no fim da noite daquele domingo. Por volta das 23h45, a Polícia Militar dispersou um grupo de ao menos 150 pessoas usando bombas de gás e jatos d’água. “Achei que iam invadir minha residência”, lembra Tatiana. Assustada, ela trancou todas as portas e ficou com a família dentro de um dos quartos, esperando o clima se acalmar. “Minha mãe sofreu com os efeitos do gás e ficou com os olhos ardendo”, relata. “Agora, o sentimento de quem vive por aqui é o medo de voltar a ficar encurralado, sem poder entrar nem sair da própria casa.”

Em seu período de auge, o protesto reuniu 5 000 pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar (para os organizadores, estiveram por lá 30 000). Além de fazer bagunça, os presentes agiram como vândalos, pichando cerca de quarenta residências no entorno com palavras de ordem como “Fora Temer”, “MTST” e “Aqui é periferia”. Duas árvores e três placas de sinalização também acabaram sendo danificadas.

Tatiana Hamada
Tatiana Hamada ()

“Estamos em alerta, pois certamente vão ocorrer outros protestos”, diz o empresário Thiago Cavalli, 38, que teve a fachada de seu imóvel pichada em três lugares, incluindo o espaço do interfone. “Tenho mais de 60 anos e tive de deixar o carro longe e vir a pé, porque não consegui entrar na minha casa. Tudo isso ao voltar de uma viagem de quase cinco horas com meu marido”, conta a aposentada Maria da Glória, que também teve a casa pichada.

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A prefeitura e os próprios moradores removeram a sujeira e os objetos espalhados na região, como restos de alimento, barracas, colchões, cobertores, galões de água e latas de spray. Na noite de segunda (23), a casa de Temer recebeu outro ato, desta vez promovido por cinquenta pessoas que se identificaram como moradores do próprio Alto de Pinheiros. Apelidado de “Serenata dos vizinhos contra o golpe”, o evento foi convocado pelas redes sociais. “Vamos mostrar que tem gente no bairro que também repudia Temer”, dizia o chamamento na página.

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O presidente deixou São Paulo às 14 horas de domingo. Encontrava-se bem longe quando a serenata começou na janela de sua casa. Na residência, estavam a sua mulher, Marcela, o filho caçula, Michelzinho, e a sogra, Norma Tedeschi. Como o garoto, de 7 anos, estava febril, a avó não se conformou com a bagunça e, em determinado momento, abriu a janela da varanda para reclamar. “Pedi a eles que nos deixassem em paz”, afirmou Norma a VEJA SÃO PAULO. “Depois disso, os manifestantes foram embora e Michelzinho teve uma noite tranquila.”

Desde que Dilma Rousseff foi afastada da Presidência, em 12 de maio, e Temer assumiu seu posto, a Praça Conde de Barcelos, com residências cotadas a partir de 4 milhões de reais e permeada de caminhos de cascalho, parquinho e grama bem aparada, foi perdendo a tranquilidade. A presença de jornalistas, fotógrafos, curiosos e policiais por ali passou a ser constante. Nas últimas semanas, o perímetro da casa de Temer foi transformado em “área de segurança presidencial”, com agentes à paisana vigiando o espaço 24 horas por dia. “Nunca vi nada igual”, comenta Rael de Jesus, zelador na área há 25 anos. Sua cabine fica instalada na calçada da Conde de Barcelos.

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“As pessoas podem se manifestar. O que não dá é depredarem patrimônio e ainda perdermos o direito de acesso à praça com os bloqueios”, reclama a editora Adriana Amback, 55, que frequenta a área três vezes por semana para se alongar no gramado e ler nos bancos da praça. A Associação dos Amigos de Alto de Pinheiros (Saap) entrou em contato com a equipe de segurança da Presidência da República, em Brasília, tentando negociar que os moradores sejam notificados com antecedência sobre bloqueios no bairro. “Tivemos uma resposta positiva dessa conversa e ficamos otimistas”, afirma Maria Helena Bueno, presidente da entidade.

Em meio aos protestos da semana passada, cogitou-se que Michel Temer tomaria uma medida definitiva para evitar barulho na porta de casa: ele mudaria sua residência civil de Alto de Pinheiros para Tamboré 3, o mesmo condomínio em Barueri onde moram quatro das seis filhas de Silvio Santos e o cantor sertanejo Luciano, entre outras celebridades. Corretores estariam levantando imóveis para ele no local. Sua sogra nega a história. “Não foi falado nada nesse sentido”, afirma Norma.

Casa Michel Temer - lixo manifestação
Casa Michel Temer – lixo manifestação ()

Outras pessoas que vivem perto da casa de políticos poderosos enfrentam problemas semelhantes. A rua do prédio onde mora o prefeito Fernando Haddad, no Paraíso, foi alvo recentemente de um protesto de trinta taxistas contra o Uber. Em 2013, jovens tomaram a via para reclamar do aumento do transporte público. “O que incomoda mais é o barulho”, diz Lígia Chedid, uma das moradoras do condomínio. Desde o ano passado, o prefeito vem reformando uma casa de 586 metros quadrados no Planalto Paulista, avaliada em 2 milhões de reais, e cogita se mudar para lá.

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O prédio de Luiz Inácio Lula da Silva, no centro de São Bernardo do Campo, no ABC, também foi alvo de protestos em 4 de março, quando o ex-presidente foi levado para depor na Polícia Federal. Houve confronto entre manifestantes pró e contra o petista, com troca de socos e pontapés. “As pessoas ficaram com medo de sair de casa”, lembra um morador do edifício, que preferiu não ser identificado. Desde o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência, no entanto, o clima no local mudou. “Agora ficou mais tranquilo”, completa o mesmo vizinho.

“VOVÓ, NINGUÉM VAI FAZER NADA?”

Norma Tedeschi esteve a semana passada inteira em São Paulo. Veio ajudar a flha, Marcela, a olhar Michelzinho, de 7 anos, que estava gripado. Na entrevista a seguir, a sogra de Michel Temer conta detalhes do que aconteceu nos últimos dias na residência da família, no Alto de Pinheiros.

A senhora ficou preocupada com as manifestações?

Foi terrível, fiquei tensa mesmo. As pessoas foram pelo lado pessoal, falavam o nome da minha filha, gritavam… Não era uma demanda política. Na madrugada de segunda para terça, um grupo fez uma serenata na porta da residência.

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É verdade que a senhora saiu na varanda da casa para pedir silêncio?

Sim. O Michelzinho estava em um processo de gripe. Naquela noite, quando escutou as pessoas xingando o pai e a mãe dele, o menino olhou para mim e perguntou: “Vovó, ninguém vai fazer nada?”. Foi quando abri a porta da varanda do quarto e pedi a eles que nos deixassem em paz.

A senhora se arrepende?

Não sou uma mulher que se arrepende do que faz. Além do mais, o meu neto ficou mais calmo depois que fiz aquilo, viu que tem gente que o defende. Depois disso, os manifestantes foram embora. Ficamos no quarto dele, brincamos um pouco e Michelzinho teve uma noite tranquila.

Isso mudou a rotina da casa?

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Meu neto não faltou ao colégio nenhum dia. Para uma criança, é fundamental ter rotina. Mas nós ficamos em casa no começo da semana, sem sair de lá.

Seu neto já tem consciência de que o pai dele é o presidente do Brasil?

Sim, ele está orgulhoso.

O que a senhora tem a dizer a quem chama o atual governo de “golpista”?

Não tem nada disso. O Michel era vice da Dilma, então, com a queda, era natural que assumisse. Ele não tem culpa de nada do que ela fez. Agora, estou confiante de que ele fará um bom governo.

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