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Livraria Papagali: sebo de destaque em Perdizes

Sandro Uva Vasconcelos abriu o local em 2003, com um acervo de 800 exemplares

Por Davi Franzon
Atualizado em 5 dez 2016, 18h16 - Publicado em 26 fev 2011, 00h48

No último dia 11, um debate ganhava corpo entre as estantes da Livraria Papagali, uma das 75 do bairro. A questão: o pintor e escultor Lasar Segall (1891-1957) pode ser considerado brasileiro? O cliente dizia que sim, mas, ali, nem sempre ele tem razão. O dono argumentava que o lituano, apesar de naturalizado brasileiro, fez sua formação na Europa, portanto nada tinha de tupiniquim.

Não é a única tese polêmica que Sandro Uva Vasconcelos concebeu ao longo de seus 39 anos. Entre os frequentadores do sebo que comanda no número 288 da Avenida Professor Alfonso Bovero, ele é conhecido pelas críticas à literatura nacional, que classifica de “pobrinha” — exceção feita a Lima Barreto, Machado de Assis, Graciliano Ramos e aos poetas Ferreira Gullar e Haroldo de Campos. O desprezo pelos textos em língua portuguesa se estende para além-mar. “(José) Saramago é bobo. É cópia de quinta categoria de (Franz) Kafka”, dispara sobre o escritor luso, suposto plagiador do colega checo.

A relação de Vasconcelos com as letras começou na infância por influência dos pais, assíduos visitantes de livrarias de usados em Santana, onde vivem até hoje. Estudou para concluir o ensino médio e passava horas por dia lendo em uma biblioteca circulante do bairro. “Não gosto de trabalhar e não tenho vocação para nada, então encontrei saída nos livros”, diz, explicando como se decidiu pela profissão. A carreira iniciou-se em um sebo da Lapa, em 1999. Em 2003, abriu o Papagali, com um acervo de 800 exemplares, alguns doados pelo ex-patrão. Para escolher o nome da loja, fez uma rápida pesquisa pelas capas do que colocaria à venda, encontrando uma edição de 2.000 de “Terra Papagalli” (Terra dos Papagaios), de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. Estava batizado.

Hoje a livraria oferece cerca de 20.000 obras, além de 10.000 discos de vinil. O comprador médio tem mais de 25 anos. “Estudante não gosta de ler, só vem quando é obrigado”, afirma. Sua única funcionária é a mulher, a socióloga Silvia da Gama Corrêa Matos. Por mês, vende cerca de 250 livros. A definição dos preços segue uma lógica particular, que leva em conta a procura pelo produto e o gosto do proprietário. Por isso mesmo, delira com um de seus mais vendidos: “Hamlet”. “A obra de Shakespeare é mais perfeita que a de Deus”, diz ele, sempre provocativo.

OS MAIS VENDIDOS DA LIVRARIA

■ Hamlet, William Shakespeare

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■ A Política, Aristóteles

■ Guerra e Paz, Leon Tolstói

■ Moby Dick, Herman Melville

■ A Divina Comédia, Dante Alighieri

■ Crime e Castigo, Dostoiévski

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■ Os Irmãos Karamazov, Dostoiévski

■ Dom Casmurro, Machado de Assis

■ O Alienista, Machado de Assis

■ Os Sertões, Euclides da Cunha

 

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