O Brasil de Jean-Baptiste Debret e Charles Landseer
Mostras em cartaz dos pintores francês e inglês revelam cenas do Brasil no século XIX
Em uma coincidência de rara relevância no cenário artístico da cidade, duas mostras em cartaz revelam o Brasil do século XIX sob a ótica de dois estrangeiros. A Caixa Cultural do Conjunto Nacional apresenta sessenta desenhos e aquarelas do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), conhecido do público brasileiro pela radiografia do dia a dia da corte no Rio de Janeiro. Aluno de Jacques-Louis David (autor da célebre tela “Marat Assassinado”), Debret chegou ao país em 1816 e permaneceu aqui por quinze anos. As obras da montagem, oriundas do acervo do colecionador Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968), trazem as indefectíveis crônicas do cotidiano imperial — cortejos fúnebres, celebrações oficiais e até uma barbearia. O centro da montagem está nas peças realizadas durante uma expedição aos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em 1827, acompanhando uma comitiva do imperador dom Pedro I. Concentram-se nesse corte paisagens, com destaque para os belos horizontes de Taubaté e Florianópolis (então chamada Nossa Senhora do Desterro).
No Instituto Moreira Salles, por sua vez, está hospedada uma retrospectiva do inglês Charles Landseer (1799-1879). Os 92 trabalhos da exposição — também aquarelas e desenhos, além de óleos — foram feitos entre 1825 e 1826 em Portugal e no Brasil. Com apenas 25 anos, Landseer viajou junto de uma missão diplomática chefiada por Charles Stuart, que, ao fim do percurso, confiscou toda a sua produção. O traço delicado do londrino surpreende nos registros de praias e, sobretudo, da dura vida dos escravos nas cidades, inclusive em cenas de surra de chicote em público.