Irmãos Gullane abrem a 32ª Mostra Internacional de Cinema
Os irmãos produtores Caio e Fabiano Gullane lançam Terra Vermelha, sucesso de crítica no Festival de Veneza
A abertura da 32ª Mostra Internacional de Cinema promete deixar os cinéfilos paulistanos em polvorosa. Prevista para o dia 16, a noite só para convidados terá a exibição do longa-metragem Terra Vermelha, do chileno Marco Bechis. Enquanto os espectadores estiverem acompanhando a trama sobre a tribo indígena guarani-caiová, os paulistanos Caio e Fabiano Gullane prestarão mais atenção à reação da platéia. Produtores do filme, eles estão cheios de boas expectativas. “A fita vem demonstrando sinais de força”, diz Caio, referindo-se às críticas positivas que recebeu no último Festival de Veneza. Uma co-produção italiana totalmente rodada no Brasil, Terra Vermelha pode ser vista como um símbolo do amadurecimento dos irmãos, que, juntos, já realizaram onze filmes nacionais, uma série de TV e duas co-produções internacionais. Fabiano, 37 anos, encarrega-se de buscar recursos. Caio, 35, pesquisa locações, participa de testes com o elenco e bate ponto diariamente no set para resolver problemas de última hora. “Nossa missão é tornar possível tudo o que é pensado pelos roteiristas e pelo diretor”, afirma Fabiano.
Atualmente, uma produção dos irmãos Gullane está em cartaz na cidade: Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, acaba de sair do circuito. No Festival de Veneza, além de Terra Vermelha, eles exibiram o último episódio da trilogia de terror de Zé do Caixão e competiram com Plastic City, uma co-produção com China e Japão. Estão ainda por trás da série Alice, que estreou no último dia 21 no canal por assinatura HBO.
A primeira grande produção da empresa dos dois irmãos, a Gullane Filmes, foi Bicho de Sete Cabeças, de 2001, de Laís Bodanzky, uma de suas principais parceiras. Eles a conheceram na faculdade de cinema da Faap, no início dos anos 90, quando os três freqüentavam as mesmas salas de aula. “São meus irmãos profissionais e já fazem parte da história do cinema brasileiro”, diz Laís. Um capítulo importante dessa história é o tocante O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, que levou 400?000 pessoas ao cinema. “Caio e Fabiano estão entre os melhores produtores do país”, afirma Hamburger. “Eles têm uma visão moderna de fazer filme, tanto na produção quanto na comercialização.”
A credibilidade conquistada faz com que a produtora se dê ao luxo de investir em projetos mais ousados. Para que José Mojica Marins levasse às telas suas esquisitices, eles captaram 1,8 milhão de reais. “Os meninos apostaram na idéia, mas me seguraram”, lembra Mojica. “Se dependesse de mim, o filme seria muito mais pesado.” Filhos de educadores – mãe paulista, pai italiano –, Caio e Fabiano são os primeiros do clã a ligar o sobrenome à produção audiovisual. Mas não devem ser os últimos. Seu irmão mais novo, Danilo, de 32 anos, estuda dramaturgia em Londres. “Ele está pesquisando novos formatos para programas de TV”, conta Fabiano. “Será o nosso próximo passo.”
Curiosidades de bastidores
Algumas histórias que rolaram nos sets de cinco produções da Gullane Filmes
Terra Vermelha, de Marco Bechis, tem estréia prevista para 7 de novembro. Caio participou de rituais indígenas para conseguir filmar na tribo guarani-caiová, em Mato Grosso do Sul. “Levamos alguns dos índios para Veneza”
Durante os cinco meses de filmagem de O Ano em queMeus Pais Saíram de Férias, Michel Joelsas e Daniela Piepszyk tiveram aulas particulares para não perder o ano letivo
Tônia Carrero e Leonardo Villar, num dos bailes de Chega de Saudade. Por causa da idade da maioria dos atores, havia sempre uma ambulância de plantão
Homens pendurados em ganchos, 3 000 baratas (de verdade!) e muito sangue causaram arrepio em membros da equipe de Encarnação do Demônio. “Alguns não agüentaram ficar até o fim das cenas”, lembra Caio
Jô Odagiri e Tainá Müller, de Plastic City. Depois de ser duramente criticado em Veneza, o filme voltou para a ilha de edição. Deve estrear (de cara nova) só no ano que vem