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Infidelidade cibernética

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 17h55 - Publicado em 9 jul 2011, 00h50

A mulher de um amigo meu sempre foi caseira. Ele não gosta de badalações. Ela nunca exigiu vida social. Viveu para cuidar da casa, do marido e dos três filhos, hoje universitários. De cabelos meticulosamente tratados, bem-arrumada, encarnava a esposa ideal de um executivo de uma grande multinacional. Só reclamava quando ele saía sozinho com os amigos ou monopolizava a televisão para ver futebol.

— Eu fico aqui sozinha o dia todo. E você ou demora ou nem liga para mim!

Crescidos, os filhos já não davam tanto trabalho. E o marido a presenteou com um laptop.

— Ah, eu não entendo dessas coisas! — assustou-se ela.

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— Você vai gostar, pode até falar com suas amigas.

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Mal sabia! Em vez de um computador, botou um rival dentro de casa. Durante meses, ela só rodeou o laptop. Achava complicado. Finalmente, a filha caçula lhe deu algumas lições. E a mãe descobriu os encantos do Facebook. O marido assistia ao futebol? Ela ficava no computador. Chegava tarde após uma rodada com os amigos? Ela deixou de reclamar, tinha entrado na internet. Ele, cada vez mais satisfeito.

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— O computador facilitou minha vida.

Mas ela passou a se dedicar ao laptop o tempo todo e ele estranhou.

— Que tanto ela faz no computador?

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Foi de sobreaviso. Um dia ela foi dormir e esqueceu a conta do Facebook aberta. Surpreso, ele deparou com muitas mensagens trocadas entre ela e um corretor de imóveis, um pouco mais jovem. As primeiras, tímidas. Falavam de predileções, de coincidências, de signos. As próximas foram esquentando. O rapaz, divorciado, dizia que ela era especial. Muito melhor que a traíra que o deixara. Finalmente, nas mensagens mais recentes, ele tentava marcar um encontro. Ela ganhava tempo, mas não dizia que não. E, para horror do marido, o rapaz a chamava de “delícia”!

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Sentiu um alvoroço. A esposa voltava. Queria gritar. Mas acusá-la de quê, exatamente? E ouvir que tinha violado sua intimidade? Disfarçou. Fingiu que não tinha olhado o computador. Voou até seu próprio laptop. Entrou no perfil do rival. Esquadrinhou as fotos. Era atlético. Desnorteado, abaixou a cabeça e contemplou sua barriga saliente. O outro postava fotos em festas, baladas. Parecia ser animadaço. Lembrou dos fins de semana em que trabalhava, da parca vida social. Mordido pelo ciúme, passou a vigiar o computador da mulher. Sempre distraída, ela deixava a rede social conectada. Sofrendo, ele acompanhava os novos diálogos, as pequenas mágoas do cotidiano.

O corretor insistia no encontro. Ela relutava. O marido resolveu que iria, ele mesmo, conhecer o rapaz. Com os dados do perfil, ligou para a imobiliária. Fingiu ter recebido a indicação de um amigo. Marcou de ver uns apartamentos. Passaram juntos uma tarde inteira. Sentiu alívio: o rapaz estava uns 15 quilos mais gordo que nas fotos. O corpo atlético se fora e ele ofegava para subir as escadas. Pior: suava demais.

— Ela nunca vai querer nada com ele! — concluiu.

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Mas continuou em estado de alerta! Nas semanas seguintes, o interesse cibernético decresceu. As mensagens entre a mulher e o corretor escassearam. Ele acompanhou o término do quase romance com alegria.

— Foi só uma fantasia. A vida voltou à rotina. Mas, de uns dias para cá, a mulher continuou a passar horas na internet. E agora aprendeu a mexer com os programas. Não esquece mais o Facebook conectado. Ao meu amigo executivo só resta ter raiva do laptop!

— Dá vontade de arrebentar com ele.

Só não quebra porque vai ter de pagar o conserto. E gastar grana com o rival é humilhante demais.

E-mail: walcyr@abril.com.br

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