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Hospital São Paulo ameaça fechar pronto-socorro definitivamente

Endividado, vítima de greves e com restrição no atendimento, o Hospital São Paulo tem queda de 50% nos procedimentos

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 Maio 2017, 14h34

Fundado em 1938 para oferecer ensino prático a alunos da Escola Paulista de Medicina (atual Unifesp), o Hospital São Paulo transformou-se com o passar dos anos em um centro de referência de mais de quarenta especialidades, como cirurgias cardíacas e transplantes de rim e fígado.

Em seu auge, chegou a receber 1 600 pacientes por dia e tornou-se uma das maiores clínicas universitárias do país. Nos últimos anos, no entanto, o crescimento exponencial de uma dívida — hoje da ordem de 160 milhões de reais, sendo 11 milhões com fornecedores de materiais e insumos — deixou a instituição em estado quase vegetativo.

A condição precária de trabalho provocou duas greves de funcionários nesse período. O quadro ficou mais delicado em março, quando a interrupção na entrega de suprimentos médicos por atraso de pagamentos levou a direção do local a estender uma faixa na entrada do pronto-socorro da Vila Clementino, na Zona Sul: “No momento, estamos atendendo somente urgências e emergências”.

Artur Brito Santos, médico residente do Hospital São Paulo: menos aulas (Antonio Milena/Veja SP)

Com a restrição, estão sendo liberadas apenas as consultas e cirurgias mais graves. Na prática, isso significou um corte pela metade na capacidade de atendimento de um dos principais centros de saúde da capital: a média diária de pessoas acolhidas desabou de 1 500 para 700.

Mesmo quem consegue passar pela triagem enfrenta situação desanimadora. Hoje o local sofre com a falta até de insumos básicos, como gaze, algodão e suporte para frascos de soro fisiológico.

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O baixo estoque de materiais é apenas um dos aspectos da precariedade. “Minha mãe passou 24 horas largada em uma cadeira de rodas e depois mais um dia inteiro deitada em uma maca dura no corredor”, afirma a comerciante Hillit Prates, que reveza com a irmã Élida no acompanhamento de Nair Prates, de 71 anos, internada de forma improvisada para tratar um câncer no abdômen e insuficiência renal. “Agora ela está instalada em um leito, mas no pronto-socorro, e não em uma enfermaria, como seria correto.”

A crise se reflete não só em pacientes e seus familiares, mas também em quem utiliza a instituição como escola. Cerca de 4 000 estudantes, estagiários e residentes circulam por ano pelos corredores do Hospital São Paulo em busca de experiências práticas antes de ingressar na profissão.

As irmãs Hillit e Élida Prates, que acompanham a mãe, internada: falta de insumos e atendimento precário a pacientes (Renato Pizzuto)

“Cada consulta ou cirurgia suprimida é uma aula a menos para nós”, queixa-se o médico-residente Artur Santos, que concluirá sua especialização em infectologia em 2019.

Para ajudar o complexo a sair da penúria, profissionais e alunos criaram uma vaquinha virtual, cujo objetivo é comprar poltronas, colchonetes e até escadinhas para leitos. Nessa primeira etapa, que se encerra no fim do mês, foram arrecadados 17 000 dos 20 000 reais pretendidos.

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Em três ações futuras, a expectativa é juntar mais 211 000 reais para a aquisição de mobiliários e outros equipamentos. A mais recente ameaça é o fechamento definitivo do pronto-socorro e a suspensão do programa de residência. “Preciso urgentemente de 18 milhões de reais para continuar funcionando”, diz o superintendente José Roberto Ferraro. “Caso contrário, ficarei sem alternativa.”

Com um orçamento anual de 570 milhões de reais, o Hospital São Paulo é mantido com 90% de verbas federais, sobretudo dos ministérios da Saúde e da Educação. Desde 2012, o montante não é suficiente para cobrir os gastos. Em 2016, por exemplo, esse déficit foi de 34 milhões de reais.

O cenário se tornou pior há duas semanas, com o anúncio do corte de um repasse de 10 milhões de reais. Em nota, a pasta da Saúde afirma que está verificando as finanças do hospital para avaliar a possibilidade de aumentar o auxílio financeiro. Mas não há perspectiva de que isso ocorra. “Não aceito isso de ‘vou fechar’. Eles precisam reduzir os gastos”, declarou o ministro Ricardo Barros, em recente evento na cidade.

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