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Tudo sobre a reinauguração do Hopi Hari após três meses fechado

“Voltaremos a ser o maior parque da América Latina”, afirma o presidente

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 8 ago 2017, 11h58 - Publicado em 4 ago 2017, 18h27

Na segunda passada, 31, centenas de funcionários faziam os últimos ajustes no Hopi Hari, no quilômetro 72 da Rodovia dos Bandeirantes, em Vinhedo, interior paulista, para a esperada reabertura neste sábado (5), após três meses de reformas. Pintavam fachadas, ajustavam o sistema de iluminação e testavam brinquedos, como o pêndulo Vulaviking e a montanha-russa Vurang.

Uma placa do Superman com 12 metros de altura e mais de 2 toneladas foi instalada no meio do looping da Katapul, a atração mais procurada. Trata-
se de uma montanha-russa que, nos tempos áureos, atraía 900 pessoas por hora.

Quando foi fechado, em maio deste ano, com apenas 20% das atrações em funcionamento, uma dívida de quase 600 milhões de reais e público que, muitas vezes, não chegava a 100 pessoas por dia, o parque parecia estar enterrado para sempre. Por isso, o fato de o local ter conseguido se reerguer em tão curto espaço de tempo é uma surpresa.

O presidente Xavier: posts frequentes nas redes sociais lhe renderam o apelido de João Doria (Leo Martins/Veja SP)

O empreendimento trocou de dono meses antes do encerramento das atividades. Em dezembro, o acionista controlador da companhia, Luciano Correa repassou suas ações pelo valor simbólico de 1 centavo a um amigo de infância, José Luiz Abdalla, dono da BR Realty, empresa de empreendimentos imobiliários (procurado pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, ele não quis conceder entrevista).

Pelo acordo, Abdalla assumiu o passivo do negócio. O novo proprietário pretende quitar tudo em 261 parcelas mensais de aproximadamente 500 000 reais (no mercado, é normal descontos de até 90% dos valores). Um total de 330 milhões de reais da dívida é renegociado em uma recuperação judicial assinada em agosto do ano passado pelo juiz Evaristo Souza da Silva, da 1ª Vara de Vinhedo.

O processo foi movido para garantir o pagamento aos 1 700 credores, que incluem o BNDES e aproximadamente 1 000 funcionários. A gerente operacional Claudia Valério, que trabalhou no parque de 1999 a julho do ano passado, com um salário de 9 000 reais, está entre eles. Segundo a ex-empregada, os pagamentos chegaram a atrasar até três meses. “Não perdi meu carro e a casa que comprei para minha mãe porque tive a ajuda do meu marido”, conta. Sua ação gira em torno de 400 000 reais.

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Outras cerca de 700 empresas e prestadoras de serviços dividem o restante do “bolo”. Há dívidas de todos os tamanhos. De 320 000 reais com a Warner Bros., parceira de licenciamento, dona dos personagens Superman e Pernalonga, que circulam por lá, a 900 reais com a Nextel, pelo uso de rádios. Sem falar de dezenas de pequenas distribuidoras de ingressos. Elas costumavam comprar lotes dos chamados “passaportes Hopi Hari” e revendê-los a empresas e escolas.

Funcionários fazem os últimos ajustes: o custo de operação será 30% menor (Leo Martins/Veja SP)

Pagavam com cheques pré-datados que só eram descontados com a condição de que seus clientes comprassem os tíquetes. “Algumas tiveram prejuízos de até 300 000 reais e quase quebraram”, afirma o advogado Willians dos Santos. Atualmente, o serviço está suspenso, mas essas distribuidoras pretendem voltar a trabalhar com o parque em breve. No passivo do Hopi Hari também há cerca de 250 milhões de reais de impostos devidos, além de 12 milhões de reais em novos contratos com fornecedores.

Para voltar ao mercado, Abdalla investiu 9 milhões de reais, obtidos com o fundo de investimento brasileiro American Bank. “Corremos com as obras de manutenção, mas não havia condições técnicas para realizar tudo a tempo de aproveitar o período de férias escolares”, diz José David Xavier, o atual presidente e administrador do local.

Nessa reabertura, a grande novidade é o retorno do parque aos velhos tempos. Ele vai operar com 85% das atrações, o equivalente a 35 brinquedos. É um recorde em relação aos últimos cinco anos, quando apenas oito funcionavam, em esquema de rodízio. Entre as diversões estão hits como a Montezum, a quinta maior montanha-russa de madeira do mundo, e o Rio Bravo, no qual o visitante percorre 600 metros dentro de uma boia e finaliza o trajeto em uma queda-d’água.

Também foi possível revitalizar a roda-gigante Giranda Mundi, que saiu do branco desbotado para ganhar cabines coloridas, e pintar os 630 000 metros quadrados de piso. Outros trunfos do empreendimento, como o Evolution (roda-gigante radical), deverão voltar a operar na segunda quinzena de agosto. O Electron e o Hecatombe (dois tipos de pêndulo) retornam daqui a três meses.

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O advogado Willians dos Santos: representante de parte dos credores (Alexandre Battibugli/Veja SP)

O passaporte custa 130 reais para adultos e crianças com no mínimo 1 metro de altura. Na promoção de reabertura, o ingresso, com estacionamento, vale 140 reais (no período anterior, o combo ficava em 154 reais).

As seis lanchonetes e os três restaurantes têm o mesmo cardápio e preços do início do ano, antes do fechamento. O público desembolsa 28 reais pelo combo batata frita, refrigerante e hambúrguer. “A carne, agora, tem 120 gramas, o dobro do que pesava anteriormente”, afirma Xavier. No cardápio há ainda pastel e pizza (9,90 reais cada um) e água (três unidades por 10 reais).

Nas últimas semanas, o presidente publicou dezessete vídeos nas redes sociais, nos quais aparece uniformizado testando brinquedos, inclusive os radicais, apesar de sofrer de labirintite. Essas aparições lhe renderam o apelido de João Doria, uma alusão ao prefeito paulistano. “Minha referência, na verdade, é Steve Jobs. Não acho conveniente um gestor público fazer marketing pessoal”, desconversa.

Como Doria, o executivo de 46 anos já tinha experiência diante das câmeras. Xavier estreou na televisão em 1996, quando era diretor da Polishop e promovia o 7-Day Diet, kit de alimentos para emagrecer. “Eu usava, e perdi 20 quilos”, garante. Foi apresentado a Abdalla pelo dono da Polishop, João Apolinário, e eles se tornaram amigos.

Em fevereiro deste ano, Xavier topou o convite para administrar o parque. Estima-se que ganhe 50 000 reais mensais e que, futuramente, terá participação em ações. Em poucos meses no cargo, envolveu-se em um imbróglio com o vizinho Wet’n Wild que acabou na polícia. Em julho, representantes do parque aquático registraram um boletim de ocorrência na delegacia de Vinhedo por ameaça, após uma discussão sobre uma área limítrofe entre os dois terrenos.

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“Eu não agredi ninguém, armaram para mim”, diz Xavier, que apelidou seus vizinhos de “girinos”. O espaço da discórdia, de 1 100 metros quadrados, vem sendo utilizado pelo Wet’n Wild como estacionamento de funcionários. Xavier busca documentos para provar que o terreno em questão pertence ao Hopi Hari.

Retrofit na montanha-russa: placa do Superman, com 12 metros de altura e 2 toneladas (Leo Martins/Veja SP)

Com investimento de 200 milhões de dólares e a ambição de ser a “Disney World brasileira”, o empreendimento de Vinhedo foi inaugurado em 1999 em um evento de grande pompa, que reuniu Xuxa, Angélica e Eliana, as então “rainhas dos baixinhos”. Posteriormente, também recebeu festas de personalidades como Rafaella Justus, filha de Ticiane Pinheiro e Roberto Jusus.

A ideia de conquistar uma população com poder aquisitivo mais alto, que frequenta os parques dos Estados Unidos, não se concretizou. Assim, a expectativa inicial de atrair 3 milhões de pessoas e faturar 200 milhões de reais por ano foi por água abaixo. Em 2009, no auge da operação, a receita chegou apenas a 70 milhões de reais, com 1,8 milhão de visitantes.

Para tentar virar o jogo, a direção baixou o valor dos ingressos. Mas, em vez de ajudar, isso prejudicou tanto a rentabilidade do lugar quanto os investimentos nas atrações e nos serviços, como a contratação e o treinamento de funcionários. Sem público suficiente para pagar as contas, o parque passou a se afundar em dívidas.

Os prejuízos também se refletiram na infraestrutura. Além de não serem renovadas a cada ano, como acontece no complexo Disney, por exemplo, muitas atrações sofreram com a falta de manutenção.

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O ponto máximo da crise se deu em 2012, quando a estudante Gabriela Nichimura, de 14 anos, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel por causa de uma falha na trava de segurança da cadeira.  O carro-chefe do Hopi Hari foi então desativado. Em 2018, deverá passar por um “extreme makeover” e talvez até mude de nome. Por ora, virou palco da Hora do Horror, espécie de festa de Halloween tradicional.

O mercado acompanha o novo movimento com certa desconfiança. “Eles não têm experiência nessa área e seriam necessários pelo menos 100 milhões de reais para tornar o local mais atraente”, diz um dos credores, que prefere não se identificar. Além disso, há a crise brasileira e, consequentemente, seus reflexos no mercado de entretenimento.

“O custo de manutenção baixo e a alta rentabilidade fazem com que muita gente deixe de lado grandes empreendimentos ao ar livre e passe a investir em negócios indoor, em shoppings”, diz Álvaro Mendes Pereira, presidente da Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil (Adibra).

La Tour Eiffel: acidente fatal em 2012 (Giuliano Miranda/Fotoarena/Veja SP)

Exemplo dessa tendência, o Playland, que pertence ao mesmo grupo do Playcenter (fechado em 2012), pretende abrir, ainda sem data prevista, o maior parque indoor da América Latina, no Shopping Aricanduva, em uma área de 5 000 metros quadrados.

Ao comentar sobre o vizinho, Alain Baldacci, presidente do Wet’n Wild e do Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas, esquece as diferenças na questão da disputa de terreno e se mostra positivo quanto à aposta do vizinho, mas com algumas ressalvas: “Gostaria de rever o Hopi Hari funcionando normalmente, desde que essa recuperação siga regularmente os termos da lei, com proteção aos credores, e seja feita de maneira muito transparente”.

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Para sair do vermelho e, a médio prazo, tornar o lugar lucrativo, a administração do negócio reduziu as despesas em 30%. O parque vai funcionar apenas de sexta a domingo, das 11 horas às 20h30. Assim, terá 400 funcionários, menos da metade da força de trabalho anterior. Com essa operação, espera-se faturar até o fim de 2017 cerca de 30 milhões de reais, atraindo para o local 300 000 pessoas (cinco vezes o fluxo em todo o ano passado). A expectativa é que 60% dos visitantes venham da capital, mantendo a média histórica.

Além disso, o espaço está sendo oferecido no mercado a promotoras de eventos. Já há negociações com uma rave, apresentações do Comedians Club (do humorista Danilo Gentili) e um festival sertanejo. Antes, a locação custava 250 000 reais, mas a nova administração está revendo o valor. Circula também no mercado um projeto de patrocínio de atrações e áreas do parque, com cotas entre 1 milhão e 7 milhões de reais .

“Se tudo der certo, vamos apresentar em 2018 três novos brinquedos: um radical e dois para a família”, prevê Xavier. O plano é chegar ao azul até 2019, com um público de 3 milhões de frequentadores. Existe ainda a ideia de aproveitar parte do terreno disponível para erguer por ali um complexo hoteleiro com 1 200 unidades e praia artificial, em um investimento previsto de 2,2 bilhões de reais.

De acordo com as projeções mais otimistas, as construções devem começar em 2020. “Voltaremos a ser o maior parque da América Latina”, afirma o presidente do Hopi Hari.

(Amauri Nehn e Francisco Cepeda/AgNews/Veja SP)

Novidades em atrações e serviços

Combo de entrada: o ingresso custa 130 reais (crianças de até 1 metro de altura não pagam). O pacote “entrada e estacionamento” sai por 140 reais, em promoção. Antes o valor da entrada era 99 reais e o do estacionamento, 55 reais, que precisava ser pago à parte.

Katapul: a montanha-russa ganhou uma chapa do Superman com 12 metros de altura e mais de 2 toneladas.

Rio Bravo: passou por uma reforma de 1,8 milhão de reais e agora, como todas as atrações, o ingresso está incluso no passaporte (antes era preciso pagar 25 reais à parte).

Piso: os 630 000 metros quadrados de área construída também foram repaginados e coloridos.

Montanha-russa financeira

Depois da inauguração badalada, o empreendimento poucas vezes saiu do vermelho

Ao desembolsar 200 milhões de dólares para abrir o parque, em 1999, a GP Investimentos, dona do empreendimento na época, tinha a expectativa de faturar 200 milhões de reais por ano. Mas o valor nunca chegou sequer à metade disso.

A ideia de atrair frequentadores com poder aquisitivo alto, que costumam passar férias em Orlando, nos Estados Unidos, nunca se concretizou. Para se adequar ao bolso dos visitantes com menor poder aquisitivo, o parque teve de baixar o valor dos ingressos. Isso prejudicou tanto a rentabilidade do lugar como os investimentos nas atrações e nos serviços.

Como está localizado no quilômetro 72 da Rodovia dos Bandeirantes, sem outros atrativos turísticos nos arredores, o parque não foi capaz de atrair uma quantidade razoável de visitantes do interior paulista ou de outros estados.

Sem público suficiente para pagar as contas, o lugar passou a se afundar em dívidas. Os prejuízos também se refletiram na infraestrutura do parque. O ápice do problema da falta de manutenção ocorreu em 2012, quando a estudante Gabriela Nichimura, de 14 anos, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel devido a uma falha na trava de segurança da cadeira.

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