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Homossexualidade: como assumi-la

Três grupos ajudam paulistanos a assumir a homossexualidade

Por Fernando Cassaro
Atualizado em 5 dez 2016, 19h29 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

Confusão, insegurança, rejeição, preconceito e depressão. Palavras assim estão no dia-a-dia de boa parte dos homossexuais que lutam para se assumir. Sair do armário é uma tarefa por vezes árdua e que pode levar muito tempo. Mas nem por isso a caminhada precisa ser feita sozinha. É com essa idéia que surgiram três grupos de apoio a quem busca ajuda: Projeto Purpurina, Grupo de Pais de Homossexuais (GPH) e Grupo de Casais do Corsa. Criado há doze anos, o GPH é o mais antigo deles. Em sua casa, no Alto de Pinheiros, a professora universitária aposentada Edith Modesto recebe pais e mães para uma conversa franca sobre a sexualidade dos filhos. “É uma oportunidade de trocarmos experiências”, diz Edith, criadora do projeto. “Além de um espaço para desabafarmos.”

O responsável pela origem do GPH foi seu filho, o professor universitário Marcello Modesto, hoje com 38 anos. Após passar seis meses em Londres, no fim da década de 80, ele diz ter se identificado como gay. “Antes, a minha única referência era o carnavalesco Clóvis Bornay”, afirma. Contou à mãe anos depois. “Os dois ficaram tristes”, lembra. Edith, então, procurou ajuda. E também pais que estivessem vivendo a mesma situação. Não encontrou. Só conseguiu algum auxílio em salas de bate-papo da internet, com gays. Começou a pensar em como tornar menos difícil a vida de quem está nas mesmas condições. Atualmente, o GPH conta com a participação, ainda que esporádica, de cerca de 200 pais e mães.

Edith criou o Purpurina, voltado para adolescentes, como uma conseqüência natural do grupo de pais. As reuniões ocorrem uma vez por mês em um salão na Vila Madalena. Lá, os jovens trocam experiências e paqueram bastante. O estudante Dan (nas reuniões, ele se apresenta pelo apelido), de 16 anos, é um dos freqüentadores. Hoje sorridente, Dan enfrentou um drama até ser aceito por sua família. Há dois anos, sua mãe, desconfiada, resolveu encostá-lo na parede e perguntou se ele “gostava de meninas”. Com receio de contar a verdade, o garoto afirmou que tinha interesse pelos dois sexos. A partir daí, encarou seis meses de sofrimento. “Minha mãe entrou em pânico e começou a questionar se eu usava drogas”, afirma. Dan, que na época pesava 81 quilos, chegou a 46. “É comum recebermos adolescentes depressivos, tomando remédios ou que já tentaram o suicídio”, diz Edith.

Poder falar abertamente sobre os problemas é um dos pontos positivos desses grupos. Mas não é o único. O psicólogo Klecius Borges, especialista no atendimento a gays e seus familiares, afirma que as reuniões são importantes para que se tenha contato com pessoas com o mesmo perfil. “É como um espelho”, explica. “Uma forma de cada um entender melhor o que sente.” Borges afirma que, de maneira geral, são três os passos para quem procura se assumir: aceitar a própria sexualidade, contar para os amigos e, finalmente, para a família. Quanto mais etapas são vencidas, menos conflitos internos.

No Grupo de Casais do Corsa, os freqüentadores aliam a troca de experiências com discussão de direitos e dicas de saúde. Como todos desse grupo já se assumiram, a dificuldade é encarar o mundo como um casal. “Gays pensam em coisas com as quais heterossexuais jamais se preocupariam, como qual a melhor maneira de pedir uma cama de casal em um hotel”, conta Lula Ramires, que foi coordenador do grupo e hoje participa dos encontros com seu companheiro, o supervisor técnico de informática Guilherme Nunes. O designer de interiores Euclides Nobile, de 56 anos, e o administrador de empresas André Mussari, de 26, vão às reuniões há um ano. Juntos desde 2000, encontravam travas na vida em comum. “Evitávamos sentar um ao lado do outro em restaurantes, por causa dos olhares de reprovação”, diz Nobile. Cansados de fazer tudo com cautela, procuraram ajuda no Corsa. Agora se sentem mais à vontade. “Não chegávamos a ter medo, mas era um desconforto muito grande”, diz Mussari. “Hoje sabemos que não vale a pena ficar se policiando para falar e mostrar a verdade.”

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Onde são as reuniões

• Grupo de Pais de Homossexuais (GPH). Rua Alberto Faria, 835, Alto de Pinheiros. 3031-2106. https://www.gph.org.br. Último domingo de cada mês.

• Projeto Purpurina. Escola da Rainha. Rua Rodésia, 213, Vila Madalena. 3031- 2106. Primeiro domingo de cada mês.

• Grupo de Casais do Corsa. Rua Conde de São Joaquim, 179, Bela Vista. 3773-5514. https://www.corsa.org.br. Encontros uma vez por mês. O próximo será em 20 de setembro.

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