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Histórias da Penha

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 12h36 - Publicado em 11 abr 2015, 00h00

Adão Roberto me aguarda na catraca de saída da Estação Tatuapé do metrô às 14 horas, como combinado. Não o conhecia. Ele me escrevera oferecendo-se para mostrar a Basílica da Penha, depois de ler nesta página a crônica O pagador de promessas. Naquela ocasião, eu divagara sobre um aparelho novo da academia de ginástica. É uma escada rolante que roda no ar, sem ir a lugar algum, gerando questionamentos existenciais junto com o cansaço físico. No Brasil, traz o apelido irônico e divertido de “o pagador de promessas”. No texto revelara minha ignorância ao contemplar a possibilidade de pagar uma promessa do tipo na cidade. Os lendários 382 degraus da Igreja da Penha ficam, descobri no Google, no Rio de Janeiro.

Mas as igrejas da Penha em São Paulo devem ser visitadas também, garantiu-me Adão na sua simpática carta eletrônica. Daí a minha ida ao bairro. Ele havia marcado o encontro na Estação Tatuapé por uma questão de estacionamento, explica, no carro, a caminho da principal basílica da região. E, para que eu não errasse mais, tinha preparado uma folha com as informações básicas sobre as edificações religiosas no bairro. Adão trabalhou durante 32 anos como redator da Pirelli, conta. Está aposentado hoje. É descendente de italianos. Torce pelo Palmeiras. Morou sempre na Zona Leste, dentro ou próximo da Penha.

Estacionamos o carro na basílica. É enorme, com capacidade para 7 000 fiéis, pouco menos do que comporta a Catedral da Sé. Está pintada, hoje, de amarelo. Fica no ponto mais alto do pedaço, ou quase, visível da Linha 3 – Vermelha do metrô. A palavra Penha, explica Adão, é derivada de penhasco. O amarelo provoca certa polêmica no bairro, de acordo com meu anfitrião. Alguns o acham espalhafatoso demais.

Saímos a pé da basílica pela Rua Santo Afonso, rumo à velha Igreja de Nossa Senhora da Penha, uma pequena joia da história de São Paulo. Sua construção terminou em 1667, e ela foi reformada em 1682. Fica em uma praça, entre ruas movimentadas. Basta passar pela porta de entrada para sentir uma mudança brusca de século. A pressa dos automóveis cede lugar aos mistérios espirituais (eternos?) de frases em latim, a tipologias arcaicas (lindas), santos e pinturas pré-modernas. Percebe-se a vontade intensa de contar as histórias da Bíblia em todas as paredes e no teto. Faz sucesso ainda hoje. Há um movimento de fiéis maior do que na basílica.

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De lá, Adão me leva a pé pela Avenida Penha de França até a Capela Nossa Senhora do Rosário, erguida com taipa em 1802 pelos negros, que eram proibidos de entrar nas igrejas dos brancos. Sua simplicidade é belíssima ainda hoje. Emociona. Fica na simpática Praça 8 de Setembro, daquelas do interior.

Antes de me deixar de volta no metrô, meu guia faz questão de me oferecer um café na Confeitaria, Padaria, Restaurante e Pizzaria Vera Cruz, na Avenida Celso Garcia. Conta um pouco da sua infância. Lembra com gosto de como cabulava aula para assistir a filmes de faroeste nos cinemas Penharama e Penha Príncipe. Ocorre-me que, sejam de santos ou de caubóis, são as histórias que comovem e fazem caminhar a humanidade.

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