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Greves e manifestações atravancam a cidade de São Paulo

Caminhoneiros param as marginais e professores bloqueiam a Avenida Paulista. Só neste ano, 570 manifestações pioraram a vida dos paulistanos

Por Daniel Nunes Gonçalves e Fabio Brisolla
Atualizado em 5 dez 2016, 19h28 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

Com 700 000 carros a menos nas ruas em razão das férias escolares e 85 000 caminhões proibidos de circular no centro expandido da cidade, a segunda-feira passada, 30, tinha tudo para ser um dia tranqüilo na vida do motorista paulistano. Pela manhã, exatamente isso aconteceu: o congestionamento foi reduzido em 40%, comparado com o das segundas-feiras de julho de 2007. À tarde, porém, o trânsito superava em 20% a média das segundas-feiras de junho, quando as aulas não tinham acabado. Motivo: um protesto de 150 caminhões nas marginais Tietê e Pinheiros contra as novas regras de circulação impostas aos grandalhões pela prefeitura das 5 às 21 horas. Com os veículos estacionados no meio da pista, alguns motoristas se deitaram no chão e tiveram a cara-de-pau de pedir a entrega de esfihas como se estivessem na sala de casa, enquanto milhares de motoristas buzinavam em vão. Não é difícil imaginar o transtorno que esse tipo de atitude estúpida causou em toda a cidade.

Nas democracias, protestar é um direito. Greves também. Mas há regras, que levam em conta o bem comum e a ordem pública. Manifestações não podem interferir em outro direito sagrado do cidadão – o de ir e vir –, como têm feito caminhoneiros, professores, motoboys, vigilantes, sem-terra… Neste ano, foram registradas 570 manifestações em São Paulo, 101 delas na região central, principalmente na Avenida Paulista, corredor crucial para a fluidez do tráfego. Com cinqüenta linhas de ônibus e movimento diário de 1,7 milhão de pedestres, ela é passagem obrigatória para chegar a vinte hospitais da região. “As reivindicações podem até ser justas, mas esse tipo de manifestação burra só desperta a antipatia da população”, diz o engenheiro de transportes Gabriel Feriancic. Passageiros perdem vôos, executivos atrasam negócios importantes e as perdas econômicas da cidade são astronômicas. “Cada quilômetro de paralisação causa um prejuízo de 138 000 reais”, calcula o economista Marcos Cintra, vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. Ele leva em conta as oportunidades de trabalho perdidas, o desperdício de combustível dos automóveis e do transporte público, o aumento dos valores de frete, e por aí vai.

O exemplo mais recente e perverso é o dos professores da rede estadual de ensino. Como os caminhoneiros, eles demonstram que não gostam de São Paulo. Em junho, reclamaram de uma série de coisas – salários, transferência, efetivação de temporários etc. – em três sextas-feiras (13, 20 e 27), contribuindo para que a fila de carros parados às 19 horas atingisse 195 quilômetros por dia. A quarta molecagem estava agendada para a última sexta, 4. “Ninguém precisa pedir autorização para se manifestar, mas a lei exige que as autoridades sejam avisadas, o que não foi feito no primeiro protesto”, afirma Alexandre de Moraes, secretário municipal de Transportes.

Os cerca de 8 000 professores reunidos em frente à Secretaria da Educação, na Praça da República, invadiram a Rua da Consolação e bloquearam a Avenida Paulista. Resultado: os motoristas ficaram presos por horas, a SPTrans não conseguiu redirecionar os ônibus para rotas alternativas e a CET penou para desviar o trânsito.

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“Uma ação-surpresa de um grupo prejudica mais a cidade do que a festa planejada de milhões de pessoas no réveillon ou na Parada do Orgulho GLBT”, diz o coronel Álvaro Camilo, comandante da PM na região central. Segundo ele, os professores dão mais trabalho que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que alinha milhares de caminhantes numa longa fila, ocupando uma única via. Pelos danos causados à população em greves de 1999 e 2005, o Ministério Público cobra do sindicato dos professores duas indenizações que, somadas, beiram os 3,5 milhões de reais. Até agora, entretanto, nenhum centavo entrou para os cofres públicos. O Ministério Público tem mais cinco processos em andamento contra outros sindicatos. Só o dos metroviários deve 14 milhões de reais.

Em metrópoles como Chicago, nos Estados Unidos, a lei é dura quando artérias importantes do trânsito são ocupadas. “Não tem essa de aplicar multas que nunca serão pagas”, afirma o pesquisador Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral. “Os infratores vão para a cadeia.” Na Alemanha, depois que manifestantes foram atropelados em protestos nas auto-estradas, as greves passaram a acontecer em praças, sem afetar o trânsito. Até a ONG Greenpeace, famosa mundialmente pelo estardalhaço de suas ações contra agressões ambientais, como o rapel no Cristo Redentor, evita impactar motoristas inocentes. “Organizamos bem as nossas iniciativas para não causar danos à propriedade alheia, não incitar a violência e para deixar na memória das pessoas a causa pela qual lutamos, e não a raiva por terem ficado presas em um congestionamento”, diz Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace Brasil. Enquanto as autoridades forem tolerantes com esse tipo de ação, quem vai continuar refém dos que olham apenas para o próprio umbigo e se lixa para o resto da cidade somos nós.

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