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Greve afeta 80% da capacidade de atendimento do Hospital Universitário

Paralisação deve durar até o fim de setmbro, quando será decidida a entrega do contrle da entidade para o governo do estado

Por VEJA SÃO PAULO
Atualizado em 5 dez 2016, 14h09 - Publicado em 29 ago 2014, 23h00

Para obter um equilíbrio mínimo das contas em meio a uma das piores crises financeiras de sua história, a Universidade de São Paulo (USP) estuda abrir mão de uma das principais ferramentas de ensino dos cursos de saúde: o Hospital Universitário (HU). Uma proposta apresentada pelo reitor, o médico Marco Antonio Zago, transfere sua administração e os custos de manutenção para o governo do estado, submetendo o HU à Secretaria de Saúde e ao Sistema Único de Saúde (SUS). A discussão, iniciada em abril, veio acompanhada do congelamento de salários dos funcionários, do corte na verba para serviços e compra de materiais e da ameaça de extinção das vagas de estágio para os estudantes de medicina e de outros cursos da área. Na última terça (26), o Conselho Universitário, formado por ex-reitores e representantes de diversas áreas da USP, reuniu-se em uma sala do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para debater o tema e anunciar uma decisão. No mesmo momento, em frente ao prédio, os 295 médicos e parte dos 1 786 funcionários esticaram faixas de protesto contra a mudança e conseguiram adiar a definição por trinta dias. Durante as duas horas em que durou a movimentação, os pacientes do hospital permaneceram sem supervisão.

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A paralisação, no entanto, não é novidade por ali. Sob a ameaça de demissão para dar lugar a profissionais do SUS, cerca de 30% dos empregados estão de braços cruzados desde o dia 10 de junho, o que reduziu o atendimento  no HU em 80%. A clínica é responsável pela realização de quase 1,5 milhão de procedimentos médicos por ano, como exames laboratoriais, cirurgias e atendimento de urgência para a população da Zona Oeste. Hoje, só são aceitos casos novos em estado de emergência. Apesar de os médicos trabalharem normalmente, outros departamentos importantes, como enfermagem, laboratório clínico e radiologia, estão com a equipe reduzida.

 

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Áreas inteiras, a exemplo da nutrição, não recebem agendamento de novas consultas. Com a adesão gradual de mais funcionários à greve, nem a escala mínima de atendimento, em torno de 750 pacientes por dia, está sendo cumprida. Desde 11 de agosto, os serviços do Samu e do Corpo de Bombeiros foram avisados para não levar acidentados ao local. Pedidos de transferência da Assistência Médica Ambulatorial (AMA), da rede municipal, também foram vetados. “Estávamos pondo os pacientes em risco, não podemos sentar e esperar por uma tragédia”, afirmou o diretor médico do HU, José Pinhata Otoch.

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Além de administrarem a paralisação, os funcionários precisam lidar com um arrocho de 30% nas verbas de contratação de equipes para limpeza e manutenção. “Tivemos até um cur to circuito nos quartos coletivos dos nossos pacientes”, conta a enfermeira Jaqueline Correa. O abastecimento de insumos também foi prejudicado. “Já faltou de agulha a copos descartáveis”, diz a técnica de enfermagem Rosane Vieira, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), que lidera a paralisação.

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Na outra ponta do debate está a possibilidade de a transferência prejudicar a qualidade da formação na área de saúde oferecida pela universidade. O HU recebe anualmente 2 430 alunos de sete cursos, entre graduandos e pós – graduandos. Cerca de 40% do estágio dos estudantes de medicina da USP é realizado no local. “É lá que aprendemos a rotina da profissão e temos o primeiro contato com os pacientes”, explica a residente Bianca Andrade. Com a desvinculação, as vagas não seriam exclusivas da USP, mas divididas com alunos de todas as outras faculdades do estado. Essa possibilidade levou seis dirigentes do hospital a divulgar uma carta conjunta em que criticam a proposta da reitoria. O texto afirma que a transferência fará o órgão perder sua autonomia na diretriz de ensino, pois poderá ficar à mercê da política da Secretaria de Saúde. Eles afirmam ainda que “será impossível manter a excelência” no serviço após a troca das equipes por funcionários com salários do SUS, que ganham menos — para um técnico de enfermagem, por exemplo, a diferença é de 36%, com 3 000 reais em média na USP e 1 900 reais no estado — e são obrigados a cumprir metas de produtividade.

A reitoria se defende apelando para a necessidade urgente de proteger o caixa. A reserva de 3,61 bilhões de reais que a USP possuía em junho de 2012 caiu para 2,31 bilhões de reais em abril deste ano, de acordo com Zago. O uso dessa “poupança” é atribuído, principalmente, à dificuldade de arcar com a folha de pagamento, que atinge 105% do orçamento da universidade: 5 bilhões de reais em 2014. “No ritmo em que as coisas estão acontecendo, esse dinheiro tem data certa para acabar”, escreveu o reitor em uma carta enviada em maio aos funcionários. Com a transferência do HU, a economia imediata seria de 70 milhões de reais. Só em 2014, o local recebeu um repasse de 395 milhões de reais, dos quais 80% serão utilizados no pagamento de salários. Para conter a crise, todas as novas contratações foram suspensas por tempo indeterminado, incluindo as substituições de aposentados ou demitidos. Também foi vetada a construção de novas instalações, independentemente de prioridade ou interesse acadêmico. “Não há recursos para investir em novos prédios”, diz o reitor na carta. O HU respira por aparelhos, e a previsão é que a delicada operação para sua reabilitação ainda se arraste por um bom tempo.

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