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Gal Costa: “Hoje, até quem não tem tanto talento pode cantar”

Intérprete baiana conta como foi flertar com a música eletrônica e retomar parceria com Caetano Veloso em seu novo disco, "Recanto"

Por Carol Pascoal
Atualizado em 5 dez 2016, 17h10 - Publicado em 18 Maio 2012, 18h41

Em 1967, os baianos Caetano Veloso e Gal Costa estrearam com o LP “Domingo”. Formou-se ali uma das mais duradouras parcerias da MPB e, desde então, a intérprete gravou inúmeras músicas do amigo. Lançado no fim de 2011, “Recanto” tem não só o dedo de Caetano mas toda a sua mão. Ele é autor das onze canções do novo CD e responsável pela produção, ao lado do filho Moreno Veloso.

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Com voz precisa e praticamente intacta, Gal agora experimenta uma sonoridade eletrônica. Nesta quinta (24) e a sexta (25), ela surge no palco do HSBC Brasil à frente de Domenico Lancellotti (bateria e MPC), Pedro Baby (guitarra e violão) e Bruno Di Lullo (baixo e violão). Além de mostrar as novidades, como “Autotune Autoerótico” e “Neguinho”, a cantora promete deixar a plateia extasiada ao entoar “Baby” e “Folhetim”.


VEJA SÃO PAULO — De onde nasceu a vontade de fazer esse álbum?

Gal Costa — Certa vez, Caetano disse à imprensa que pensava em fazer um trabalho eletrônico, mas pensava em minha voz para ele. Eu estava em Lisboa para me apresentar e recebi um recado dele dizendo que queria assistir ao show. Ele foi ao camarim e me contou da ideia do disco. Topei de cara fazer o trabalho. No meio do processo, eu o convidei para dirigir o show, já que se tratava de uma sonoridade especial. Ele mostrou algumas ideias e logo depois começamos a ensaiar.

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VEJA SÃO PAULO — Na época em que o disco ainda era um rumor, algumas reportagens diziam que você estava à espera de Caetano. Era uma questão de agenda dele ou de um momento certo para um lançamento da Gal?

Gal Costa — Ele deu uma entrevista na Espanha dizendo que pensava em produzir um disco meu. Eu só tinha ouvido esses burburinhos, tanto que o convite foi uma surpresa pra mim. Ou seja, eu não estava esperando por nada. E, diferente do que diziam, não estava parada. Vinha fazendo bastante coisa fora do Brasil, como um projeto de voz e violão que levei para os EUA, para a Europa e para outros lugares da América Latina.

VEJA SÃO PAULO — Como escolheu o nome do disco?

Gal Costa — Pensamos em vários nomes, mas escolhemos “Recanto” porque a música “Recanto Escuro” fala muito de mim e de Caetano. Quando ouvi a canção pela primeira vez, chorei muito.

VEJA SÃO PAULO — Você se sente bem com a música eletrônica?

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Gal Costa — Eu me sinto plenamente à vontade, porque tem tudo a ver comigo. O eletrônico dos meus discos da década de 60 é diferente do CD que fizemos agora, mas tem tudo a ver com aquilo. Se não tivesse a ver com a minha bagagem e com tudo o que fiz até hoje, acho que o Caetano não teria feito o convite.

VEJA SÃO PAULO — Os fãs mais antigos estranharam a sonoridade eletrônica?

Gal Costa — A estreia do disco no Rio de Janeiro foi um sucesso. Não houve estranheza alguma. Durante o shows, as pessoas se comoviam e choravam. Todas as críticas foram maravilhosas. E, como eu também canto as músicas conhecidas, tudo se mistura e dá uma equilibrada. Na apresentação, tem coisas muito simples, no formato voz e violão.

VEJA SÃO PAULO — O Caetano ainda é a pessoa que melhor compõe para a sua voz?

Gal Costa — Estatisticamente, eu sou a cantora que mais gravou Caetano. Em todos os meus discos eu pedia uma música nova e ele compõe muito bem para mim. Vide “Minha Voz, Minha Vida”, “Vaca Profana” e tantas outras… Ele sabe como se dirigir a mim.

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VEJA SÃO PAULO — Como foi retomar a parceria com Caetano?

Gal Costa — “Recanto” é uma homenagem à história de nós dois. Na época do exílio de Caetano e de Gil, eu fiquei aqui no Brasil segurando a onda do tropicalismo. Para manter aquela estética e aquela sonoridade dos anos 60, que era, de certa forma, ousada e transgressora, tive de fugir dos padrões a que me propunha como cantora no início. No tropicalismo, não tinha isso do canto joão gilbertiniano, do cantor perfeccionista… Eu rompi com isso para entrar de cabeça no tropicalismo e defender essa bandeira. O disco tem tudo a ver com a nossa história, mas o show tem ainda mais, porque canto músicas de todas as décadas da minha carreira. É impossível não perceber a nossa história ali.

VEJA SÃO PAULO — Foi uma novidade trabalhar com Moreno Veloso?

Gal Costa — O Moreno foi a primeira criança por qual eu me apaixonei na vida. Ele é meu afilhado, eu ia vê-lo todos os dias quando pequeno. Agora, adulto, ele conhece muito de estúdio. Foi muito bom trabalhar com ele.

VEJA SÃO PAULO — No disco há uma referência ao autotune. Como o recurso foi usado nesse trabalho?

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Gal Costa — Em “Autotune Autoerótico”, a música foi cantada de maneira normal. Durante a canção inteira, é a minha voz que está ali. Só no finzinho fiz um improviso vocal onde o autotune foi usado. Hoje em dia, existem esses recursos… Até quem não tem tanto talento nem é muito afinado pode cantar. O autotune resolver problemas, mas isso não é genial nem ideal. Infelizmente, ele existe.


VEJA SÃO PAULO — O tempo contribuiu para a sua voz?

Gal Costa — O tempo nunca me atrapalhou em nada. Hoje sou muito mais madura, tranquila e segura. Ainda tenho muita garra. Quem for ver o show vai constatar isso. A maioria das canções eu canto no tom original da gravação, como em “Da Maior Importância”. Essa é uma música linda que abre a apresentação. “Um Dia de Domingo” também é no tom original.

VEJA SÃO PAULO — Em 2007, você adotou um filho, o Gabriel. Tornar-se mãe mudou a Gal?

Gal Costa — Algumas coisas acontecem na nossa vida e faz a gente se renovar e ver a vida de uma ótica diferente a cada dia que passa. A maternidade é capaz de fazer isso. Ela é uma das coisas mais instigadoras, revolucionárias e transformadoras que existem. Eu sempre tive o sonho de ter filhos e está sendo muito bom. Sou aquela mãe que vai à reunião da escola, busco, levo e participo. Ajudo até nos deveres de casa. Quando o Gabriel era pequeno, ele viajava muito comigo, mas não vai mais porque está com 6 anos e está sendo alfabetizado.

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VEJA SÃO PAULO — Por que decidiu se mudar para São Paulo?

Gal Costa — Comprei um apartamento em São Paulo há quatro anos, mas só me mudei agora. É mais fácil, porque aqui fico mais perto do trabalho e das pessoas. A Bahia é muito longe. Adoro grandes metrópoles, as coisas funcionam. Eu morei mais de 20 anos no Rio de Janeiro, até me considero um pouco carioca por tudo o que vivi lá, mas, sem querer desmerecer, eu gosto dos paulistas. Eu me identifico com as pessoas daqui. Elas trabalham, são profissionais, chegam no horário e levam as coisas a sério.

VEJA SÃO PAULO — Quando o novo disco de Maria Bethânia foi lançado (“Oásis de Bethânia”), muitos repórteres perguntaram pra ela o que achou do seu disco. Eu faço o inverso. O que achou do disco de Bethânia?

Gal Costa — Eu ainda não tive tempo, mas com certeza vou ouvir.

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