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Frei Galvão: santo para toda obra

Em livro, Benedito Lima de Toledo conta a história do homem que projetou e construiu o Mosteiro da Luz

Por Edison Veiga
Atualizado em 5 dez 2016, 19h23 - Publicado em 18 set 2009, 20h34

Na próxima sexta, em missa a ser celebrada pelo papa Bento XVI, o franciscano Antônio de Sant’Anna Galvão se tornará o primeiro santo nascido no Brasil. O momento, efusivo para os católicos, aquece o mercado religioso: além de artigos como imagens e medalhinhas, há pelo menos uma dúzia de livros à venda sobre o novo santo. Em Frei Galvão: Arquiteto (Ateliê Editorial, 72 páginas, 30 reais), entretanto, sua faceta milagrosa é deixada de lado pelo arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo. “Ele foi, sem dúvida, um importante arquiteto do século XVIII”, diz o autor. “Tinha uma percepção muito boa da paisagem. Preocupava-se, por exemplo, com ventilação e iluminação solar.” Quando, em 1765, o nobre português Luís Antônio de Souza Botelho Mourão assumiu o governo da capitania de São Paulo, a pequena capela em honra a Nossa Senhora da Luz, em uma região despovoada conhecida como Campo da Luz, estava em ruínas. Erguida no início do século XVII, dentro dela havia uma imagem policromada da santa, trazida de Portugal. Botelho Mourão ordenou que a igreja fosse reformada, pois queria um espaço para a celebração da festa de Nossa Senhora dos Prazeres, da qual era devoto. À frente dessa obra, frei Galvão mostrou seu talento como arquiteto. “Ele acabou reconstruindo toda a igreja”, conta Toledo. Nascido em 1739 em Guaratinguetá, no Vale do Paraíba, o jovem Antônio de Sant’Anna Galvão foi mandado por seus pais para estudar no Seminário dos Jesuítas de Belém em Cachoeira, na Bahia. Ficou ali dos 13 aos 19 anos. Conheceu diversas igrejas do Nordeste e iniciou seus estudos em arte e arquitetura. Aos 21 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi ordenado sacerdote franciscano. Mais tarde, estabeleceu-se em São Paulo. No Convento de São Francisco, no largo homônimo, fazia pregações e dedicava-se à função de porteiro da casa, recebendo os fiéis que ali chegavam. Durante esse período, frei Galvão testemunhou – há quem acredite que projetou – a execução de uma grande reforma na igreja contígua ao convento. Como confessor de irmãs religiosas, acabou convencido da necessidade de uma casa de recolhimento para essas mulheres na cidade. Nascia a idéia do Mosteiro da Luz, que seria fundado em 1774. Catorze anos se passaram até que o convento ficasse realmente pronto e outros catorze para que a igreja fosse inaugurada, somente em 1802. Frei Galvão foi arquiteto, mestre-de-obras, servente e carpinteiro – assumiu o trabalho braçal ao lado dos escravos cedidos por famílias nobres para a construção. A técnica aplicada, a taipa de pilão, era comum na época. “São Paulo era uma cidade de barro”, conta Toledo. “Todas as suas residências eram assim.” Hoje são poucas as construções do tipo remanescentes – entre as quais, casas bandeiristas como a do Sítio da Ressaca, no Centro Cultural Jabaquara. Uma percepção importante de frei Galvão fez com que ele alterasse, durante a obra, a entrada da capela, originalmente com a face voltada para o sul. Foi uma previsão acertada de que a região onde hoje está a Avenida Tiradentes seria, futuramente, movimentada. Então criou novo frontispício, e a face principal da igreja passou a ser daquele lado. É por isso que o altar, cuja disposição original foi mantida, está à esquerda de quem entra, e não à frente, como de praxe. Para quem quiser conferir, a igreja fica na Avenida Tiradentes, 676, e permanece aberta das 6h30 às 16h30. Missas são celebradas ali diariamente (segunda a sexta, às 7h; sábado, às 8h e às 16h; domingo, às 8h, às 10h30 e às 16h).

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