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Felipe Benjamin Abrahão demonstra que herdou a vocação para fazer pães

As habilidades do rapaz podem ser conferidas em cinco endereços, o mais novo deles aberto nos Jardins há um mês

Por Arnaldo Lorençato
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Como todo garotão, ele adora baladas. Freqüenta o Bar do Juarez, entre outros botecos chiques do circuito Vila Madalena–Itaim–Vila Olímpia–Moema, e chacoalha na pista da Lotus, no Brooklin Novo. Essas esticadas, entretanto, são raridade na vida de Felipe Benjamin Abrahão. Invariavelmente, o rapaz de 21 anos pula da cama às 5 da matina, inclusive nos fins de semana. Felipe comanda os fornos das padarias Benjamin Abrahão – Mundo dos Pães, rede com cinco pontos-de-venda, fundada pelo avô Benjamin Abrahão e premiada por Veja São Paulo na categoria o melhor pão nas três últimas edições do guia “Comer & Beber – O Melhor da Cidade”. Por dia, as fornadas somam 12 000 unidades em versões salgadas e doces. Uma responsabilidade e tanto, ampliada no mês passado, quando foi aberta a já disputada filial do Jardim Paulista, na esquina das ruas José Maria Lisboa e Padre João Manuel.

Felipe passou a infância brincando nos corredores das padarias do avô. Aos 6 anos, ajudava a distribuir comandas acompanhado pela avó, Maria Luiza. Não tardou a xeretar na sala de produção, onde ficava modelando pães de mentirinha. Só faria uma baguete de verdade dois anos depois. Naquela fase, ele tinha outros sonhos. Queria ser da Polícia Federal. “Acho que era influenciado pelos seriados da TV”, lembra. Esse desejo durou pouco. Na adolescência, as coisas iam mal na escola. Embora tivesse sido matriculado em bons colégios como o Rio Branco, as queixas dos professores sobre sua falta de empenho eram constantes. Após duas reprovações, acabou matriculado em um supletivo para concluir o ensino médio. “Trouxe o menino para trabalhar comigo”, diz o pai, o engenheiro eletrônico Carlos Cardetas. “Foi a melhor coisa que fiz, pois pude orientá-lo melhor.” Além de finalizar o antigo colegial, o garoto ingressou nos primeiros cursos profissionalizantes de panificação e confeitaria do Senai. Começava a se moldar o padeiro.

Até na aversão aos estudos, Felipe, um rapaz de fina estampa, é semelhante ao avô. As panificadoras só entraram na vida de Benjamin Abrahão porque ele fugia dos bancos estudantis. Por isso, teve de pegar no batente muito cedo. Aos 10 anos, era faxineiro de uma padaria na Penha, Zona Leste. Esperto, após algum tempo ajudava a preparar doces. A carreira de padeiro, contudo, foi interrompida pelo serviço militar. Depois desse hiato, a paixão pelo futebol motivou Abrahão a tentar a sorte no papel de goleiro em times de várzea. Em seguida, empresariou um anão de circo e um equilibrista de perna de pau Brasil afora. Nada disso deu certo e ele voltou à panificação, agora por conta própria. Alugava o forno de uma padaria durante a noite e vendia a produção em feiras da cidade na manhã seguinte. Na época, já estava casado com Maria Luiza, imigrante vinda de Barcelona. A vida não era fácil, mas, ajudado pela mulher, ele conseguiu comprar o primeiro ponto na Barra Funda. “Batizou-o de La Espanhola, em homenagem à minha mãe”, conta a professora de educação física Mara, mãe de Felipe.

Na seqüência, Abrahão montou e vendeu várias casas. Em parceria com o cunhado Vicente Safon Perez, abriu em 1976 a Barcelona, em Higienópolis, da qual sua família tem 33% mas não participa da administração. Quem toca o negócio é o filho de Safon Perez. Doze anos mais tarde, no mesmo bairro, Benjamin Abrahão inaugurou a premiada padaria que leva seu nome. Lançou, assim, as bases de um pequeno império, erguido com farinha e muito trabalho. Sem nenhuma tradição, ele brilhou num setor concorrido, em que, geralmente, se destacam proprietários de origens portuguesa, italiana e francesa. Após sua morte, em 2001, aos 76 anos, a empresa passou a ser dirigida pelas filhas Shirlei e Mara e pelos genros Claudio Raize e Carlos Cardetas. Aos poucos, os netos entraram no negócio. Primeiro foram Raquel e Juliana, primas de Felipe, e, finalmente, Carlos Alberto, irmão dele. O grupo nunca se desviou dos princípios estabelecidos por Abrahão. “Não vendemos cigarros nem bebidas alcoólicas porque meu avô dizia que isso é coisa de botequim”, afirma Raquel, encarregada da organização de catering para eventos. Desde 2002, a empresa vem se expandindo feito fermento. Hoje, possui três concorridos pontos-de-venda em universidades de São Paulo – Mackenzie, PUC e Uninove –, cuja produção sai dos fornos da unidade de Higienópolis. A nova filial do Jardim Paulista, inaugurada no dia 17 de outubro, consumiu um investimento de 2,9 milhões de reais. “Pagamos 1,1 milhão pelo prédio e o restante foi gasto na reforma e montagem da padaria”, contabiliza Claudio Raize.

Do quarteto de netos, apenas Felipe manifestou o dom da panificação. O irmão mais velho bem que se esforçou, mas sem êxito. “Não tinha jeito para a coisa”, admite Carlos Alberto, 24 anos, formado em hotelaria e responsável pelas compras da empresa. “O Felipe é como o seu Benjamin: põe a mão na massa com a gente”, diz o padeiro-mestre Luciano Costa, o “Lupa”, há 22 anos com a família. Potiguar de Mossoró, ele ajuda Felipe no desenvolvimento de novas receitas. Uma delas, a chipa paraguaia, tem formato de meia-lua recheada de queijo ou de goiabada. O rapaz orgulha-se de exibi-la ao lado das antigas e eternas criações do avô, caso da rosca de torresmo. No total, são mais de cinqüenta tipos de pão, além da linha de sessenta doces e sobremesas.

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Em 2005, Felipe ingressou na Faculdade de Gastronomia do Senac de Campos do Jordão. Obteve o título de chef de cozinha em junho passado. “Aprendi muito, conheci ervas como o tomilho e a manjerona, que quero testar a partir de agora”, diz. “Ele se destacou desde o início porque trazia uma grande bagagem técnica”, afirma Fábio Colombini Fiori, professor de confeitaria e culinária francesa. “Conhecia texturas e consistências das massas, além de apresentar pães e doces de maneira inusitada.” Cada vez mais interessado em culinária, Felipe dedica-se a adensar a biblioteca pessoal sobre o assunto. Mesmo com todo esse empenho, seus pais mostram-se rigorosos quanto ao salário pago ao filho. “Antes de se graduar, ele recebia 900 reais por mês”, diz Cardetas. De posse do diploma, passou a ganhar 2.000 reais. “A pessoa tem de dar valor ao que ganha, senão faz besteira.” Mas os pais admitem reforçar essa renda com alguns presentinhos, como roupas e viagens.

Quando está em casa, em um bonito condomínio da Granja Viana, Felipe passa horas diante do supervideogame Xbox 360. Em frente à tela de alta definição, encarna o piloto de corridas nos jogos Forza Motorsport e Project Gotham Racing. Em seu iPod, conectado ao rádio do carro, rolam black, dance, tecno e reggaeton. Fã de roupas básicas, lotou o armário de calças e camisetas da grife americana Abercrombie & Fitch, compradas em viagens a Nova York e Miami. Misturado a essas peças aparece um ou outro jeans da etiqueta italiana Diesel. Uma mania de Felipe são os celulares. Guarda numa gaveta dez modelos de marcas diferentes, usados em revezamento.

Um dos números digitados com mais freqüência é o da namorada, Adelaide Ikebe, de 25 anos. Eles estão juntos desde março, quando se conheceram ao voltar de uma balada. Felipe fez um pit stop para conferir o movimento de uma padaria concorrente, a Dona Deôla, da Granja Viana. Trocou olhares e números de telefone com a moça. Uma semana mais tarde, carregavam uma aliança de compromisso no anular direito. “A melhor qualidade do Felipe é a humildade”, derrete-se Adelaide, enfermeira no Embu. “Tudo o que eu peço ele faz de coração.” Nas férias programadas para março, porém, o casal de namorados não vai viajar junto. Na companhia da prima Raquel, Felipe visitará pela primeira vez a Europain, uma das maiores feiras de panificação e confeitaria do mundo, realizada em Paris. Ainda na capital francesa, pretende matricular-se em um curso da badalada escola de gastronomia Le Cordon Bleu. “Vou me divertir fazendo o que mais gosto: colocar a mão na massa.”

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