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Farmácias são avaliadas por VEJA SÃO PAULO

Avaliamos as oito maiores redes de drogarias da capital

Por Giuliana Bergamo
Atualizado em 2 jan 2017, 17h24 - Publicado em 9 jul 2010, 17h47

São Paulo tem 3 492 farmácias espalhadas pelas cinco regiões da cidade. É praticamente uma para cada 3 150 paulistanos. Em muitos locais, bandeiras concorrentes disputam clientes no mesmo quarteirão. Com tantas opções, às vezes fica difícil escolher onde é melhor comprar a lista de medicamentos prescritos pelo médico. Nessa hora, conta, sobretudo, o preço. Mas não só. Devem-se levar em consideração o atendimento, a variedade de produtos e, claro, as instalações do estabelecimento. No dia 18 de junho, entre 14h30 e 19h30, VEJA SÃO PAULO visitou lojas das oito maiores redes de drogarias da cidade para avaliar esses quatro quesitos. Com uma lista de dezoito itens, de onze laboratórios, em mãos, a reportagem simulou uma compra, sem se identificar. Comparamos então os valores cobrados e a forma como os balconistas e farmacêuticos nos receberam. Checamos ainda as instalações — dos uniformes utilizados à temperatura do local — e conferimos se os itens procurados estavam mesmo disponíveis em suas prateleiras.

+ Veja avaliação de 8 farmácias de São Paulo

Em alguns aspectos, o diagnóstico é preocupante. Nenhuma das drogarias cobrou prescrição para vender os remédios controlados, uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Pediram apenas as receitas do inibidor de apetite Reductil e do tranquilizante Dienpax, que precisam ser retidas pela farmácia. Os preços variaram muito — até 58%, no caso do Reductil. Algumas redes costumam praticar descontos diferentes em suas unidades. Em um dos estabelecimentos, a Onofre da Praça da Sé, o farmacêutico não estava presente na hora da visita (a Anvisa exige que o profissional fique de plantão na loja sempre que esta estiver aberta). Outro problema foi a incapacidade dos farmacêuticos em dar uma boa orientação sobre o que estavam comercializando. Só um deles, funcionário da Farmais, forneceu uma resposta razoável sobre a administração do antibiótico Cipro. A líder do ranking foi a Drogasil da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, no Jardim América, com 3,57 pontos. Apesar de ter recebido uma nota relativamente baixa em atendimento (2,5), atingiu tal posição porque tinha 100% dos medicamentos pesquisados, estava impecavelmente limpa e organizada e os funcionários, muito bem-vestidos. “Operamos com praticamente todos os laboratórios farmacêuticos”, conta Ricardo Castro de Azevedo, diretor financeiro da Drogasil.

 

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Farmácias e órgãos reguladores travam uma briga há cinco meses, desde que a última resolução da Anvisa sobre as boas práticas nesse tipo de estabelecimento entrou em vigor. A novidade que causou mais polêmica é a exigência de que os remédios isentos de prescrição, como alguns analgésicos, antigripais e antitérmicos, fiquem atrás do balcão, e não expostos em gôndolas comuns, como era recorrente até então. A intenção é evitar a compra de medicamentos por impulso. A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) entrou com uma liminar que conseguiu suspender a resolução. “A regra está na contramão do que acreditamos”, diz Antonio Carlos Pipponzi, presidente da Droga Raia. “O consumidor tem o direito de levar para casa o que quiser, sem intermediários.” Entidades como o Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP), defensor da nova prática, acreditam que a exposição desses itens estimula a automedicação e o consumo inútil. “A drogaria precisa ser encarada como um ambiente de saúde, e uma das funções do farmacêutico é orientar a escolha de todo e qualquer remédio”, afirma Raquel Rizzi, presidente do conselho. “A nova norma deve estimular tal procedimento.”

Especialistas em consumo afirmam que, dentro da farmácia, os clientes se comportam como se estivessem em qualquer outro tipo de loja. Mesmo com uma lista de itens em mãos, acabam levando muito mais do que precisam. “Do total de decisões de compra, 81% são realizadas dentro do estabelecimento comercial”, diz Heloisa Omine, professora da disciplina comunicação no ponto de venda, da Escola Superior de Propaganda e Marketing. “É por esse motivo que a disposição dos produtos conta, sim.” A lógica é a mesma dos supermercados. Assim como nos lembramos de levar o molho de tomate e o queijo ralado quando vemos que eles estão ao lado do macarrão, na drogaria acabamos colocando na cestinha, além do antigripal receitado, aquele remédio “ótimo para dor de cabeça” indicado pelo colega de trabalho. Não à toa, as táticas de conquista de consumidores são as mesmas tanto em farmácias quanto em hipermercados. Quase todas elas têm, por exemplo, o cartão fidelidade, e algumas concedem descontos de até 70% para os clientes cadastrados. Em troca, obtêm dados preciosos sobre os hábitos de sua clientela. Segundo pesquisa da Droga Raia, o consumidor vai, em média, duas vezes por mês à farmácia — frequência que dobra no caso de mulheres entre 35 e 50 anos e de pessoas com mais de 60. O tíquete médio é de 50 reais.

Embora eles sejam funcionários de um estabelecimento comercial, espera-se que os profissionais vestidos de jaleco branco forneçam sugestões idôneas sobre o que vendem. Trata-se, afinal, de informações que podem ser cruciais para a saúde e o bem-estar do consumidor. Mas nem sempre é assim que acontece. “Infelizmente, sabemos que alguns funcionários de farmácias recebem comissão para vender mais de um ou outro medicamento”, afirma o farmacologista Antônio Carlos Zanini. Entra em jogo, então, o que no jargão da saúde é chamado de “empurroterapia”, ou seja, a prática de incentivar o consumo desse ou daquele remédio. Ainda que as redes neguem que orientam seus funcionários a tomar tal atitude, durante o teste algumas atendentes, como a da Drogasil e a da Farmais, foram enfáticas ao sugerir a compra de genéricos mesmo quando a repórter disse que preferia os medica mentos de marca. Em casos assim, ao servir de intermediário como requer a nova norma da Anvisa, o funcionário pode acabar induzindo o consumidor a levar o produto que lhe proporcione mais lucros. “Por esse motivo, o farmacêutico deve sempre registrar aquilo que indicou”, diz Raquel Rizzi, do CRF-SP.

O PERFIL DO CONSUMIDOR

■ O paulistano vai, em média, duas vezes por mês à farmácia

■ Essa frequência dobra no caso de pessoas com mais de 60 anos

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e de mulheres entre 35 e 50, público que representa cerca de 50% dos clientes

■ A cada visita à loja, os consumidores gastam em torno de 50 reais

■ Na cestinha, eles colocam:

Além de apoiar a Anvisa, há um ano o conselho trabalha numa campanha para coibir a venda e o consumo indiscriminado de antibióticos. A medida foi motivada por uma pesquisa realizada pelo órgão, cujo resultado mostrou que 68% das drogarias paulistas admitiam vender sem receita. A Organização Mundial da Saúde estima que 50% das prescrições desse tipo de droga sejam inapropriadas. Entre os principais riscos de tal comportamento está a resistência bacteriana (o uso recorrente ou a administração incorreta pode, em vez de combater, tornar esses microrganismos ainda mais fortes). Surgem, então, as superbactérias, contra as quais inexistem ou são poucas as armas eficazes. Afim de combater esse mal, a campanha prevê cursos de capacitação de farmacêuticos e, ainda neste mês, deve distribuir panfletos em pedágios e organizar ações educativas em parques da cidade. Em todo caso, consumir apenas medicamentos prescritos por um médico de confiança e seguir sempre sua receita é a chave para um consumo saudável.

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